RESISTÊNCIA À INOVAÇÃO: Uma cruel e dura realidade

RESISTÊNCIA

Semana passada eu havia escrito que nada seguraria minha voz, que minha opinião seria sempre exposta e que toda forma de censura, se não uma coisa bastante inteligente, seria rechaçada imediatamente. A censura inteligente sofreria minha resistência e, ainda assim eu tentaria ultrapassá-la; nasci na democracia e acredito nela, ainda que não a sinta plena, em nossos tempos, mas isso é conversa para outra hora. Agora a reflexão vai tomar outra direção: vou retomar a questão sobre a censura do Facebook, aos meus posts, que foram denunciados por algum ignorante visionário que se sentiu ofendido com minha postura diante das eleições. Isso apenas demonstra uma forte resistência à inovação, que expressa a dura realidade que vivemos na cidade.

Sempre pensei que Jundiaí tivesse uma juventude mais moderna, mas cosmopolita, mas as atitudes manifestadas nestes últimos 15 dias só me permitem enxergar uma sociedade parada no passado, sem ideias progressistas nem perspectivas de modernidade. Talvez por isso ouvimos, pela cidade, conversas sobre “escolas tradicionais”, “bairros tradicionais”, “famílias tradicionais”, quando a própria cidade enquanto locus está totalmente modificada pelos forasteiros. Estes não conseguiram modificar a perspectiva da nossa juventude passiva e inerte.

Entende-se que universidades transformem o contexto, mas algo deve ter causado efeito diferente em nossa cidade, uma vez que nem as boas faculdades aqui existentes conseguem imprimir outros olhares, outras ideias, outras culturas, outros ritmos. Continuamos agindo e acreditando naquilo que vivíamos nos anos 80 e 90. Um revivel sem igual, congelante e desafiador. A relação nesta situação é de que o ensino superior não foi suficiente para promover outros olhares, outros horizontes e sugere que nossos jovens são seus avós, com seus pensamentos e atitudes, apenas num corpo mais novo. Corpo sarado e mentalidade tosca, retrógrada, satisfeita com o antigo, sem sede do novo. De onde tiro esta afirmação? Da denúncia feita ao Facebook e da manutenção dos políticos na última eleição para prefeito e vereadores.

Interessante que uma cidade em que a juventude cobra mais cultura, cobra mais vida social e esporte e mais novidades tenha feito opção pela continuidade. O mais interessante, ainda, é que esta escolha não recaiu sobre uma continuidade de algo que deu certo, porque estes mesmos jovens reclamam da pequena evolução da cidade e apontam recuos homéricos de certos bolsões demarcatórios de evolução; surpreende pela falta de memória de curto e curtíssimo prazo, quando denunciavam retrocesso e descasos pontuais. O que será que acontece com estas cabeças jovens?

Já ouvi de tudo um pouco: a escolha recaiu na segurança. Segurança? De que? de quem? Qual segurança? A opção foi feita baseada em fatos. Quais fatos? De desmanches? De ineficácia? De inexistência? A opção foi feita diante de muita gente aventureira, então escolheu-se o já conhecido. Escolheu-se aquele que antes era denunciado? Escolheu-se o anteriormente desqualificado? Escolheu-se entre o menos pior? Qual foi essa escolha? Assustador perceber que não houve renovação, apenas quatro ou cinco novos vereadores galgaram cargos. Mais surpreendente e ver que alguns cabos eleitorais eram sobejamente sabedores das falácias existentes; este tipo de cegueira tem nome e causa indignação: este é o caos em que nos encontramos.

Foram muitas as opções que iam dos mais visionários que paralisariam o envelhecimento na cidade até os mais simplistas, que nem propostas tinham, entretanto, entre 417 candidatos à vereadores, todos tinham proposta de criação de um centro de convivências para idosos. Mesmo que nunca tivessem se colocado a pensar no envelhecimento e no desenvolvimento humano, as propostas incidiam sobre uma população carente de olhares e zelos e, em função disso, cativava atenção e votos dos desavisados. O mesmo se deu com a Educação, que recebeu preocupações ímpares com novos argumentos para uma política mais humanizada e valorizadora dos educadores. Palavras, palavras, palavras. Nada mais que palavras.

Porém estas palavras cativaram votos da juventude que, sem pensar ou analisar com profundidade, aceitou o canto das sereias e validou a propositura daqueles que já haviam passado anos sem nada oferecer de novo; ou seja, validou mais do mesmo. Esperemos que 2021 e os demais anos do novo ciclo venha recheado de ações edificadoras e não de projetos aprovados em Câmara: projetos exequíveis e realizáveis durante a gestão. Entretanto, já não acredito no maravilhoso mundo da Alice. Prefiro fazer o papel do Coelho, que pondera, analisa e cobra execuções pontuais. Esperemos que os gestores sejam, ao menos, pessoas com pensamentos cosmopolitas e empreendedores, diferentes das antigas raposas velhas que já ocuparam cadeiras e nada fizeram de bom para a cidade; assim os jovens terão seus votos validados e não terão do que se arrepender pela nonsense. Coisas da juventude oportunista. Lamentável, não é?

E, na sequência da semana, vivi minha primeira experiência cinematográfica, esperando que seja a última, pois não gostei. Fui assaltado, dentro do autoatendimento do Santander e revi muito de minha Vida, em fração de segundos. Dois bandidos uniformizados de atendentes, com crachá do banco, estavam no auto atendimento auxiliando duas pessoas que foram lesadas também, mas só perceberam depois que entraram no banco e foram ao caixa, momentos em que receberam um SMS comunicando o saque. Porém isso só aconteceu depois que os bandidos me abordaram, mostraram o revólver e me obrigaram a fazer dois saques, com alto valor. Fui salvo pela segurança do banco que achou estranho duas pessoas ao meu lado e perguntou se eu havia pedido ajuda. Os rapazes pegaram o dinheiro e saíram andando, de boa, como um cliente qualquer.

Eu permaneci trêmulo, assustado e medroso, porque o pesadelo parecia não ter fim. Como pode alguém ser assaltado dentro do autoatendimento, com câmeras de filmagem, banco aberto, funcionando e cheio de gente? Que ousadia é esta e que lugar é este? Foi uma das piores experiências de minha vida e me causou muita reflexão. Vi e revi a cena por inúmeras vezes, porque custei a acreditar que pudesse ter sido vítima, sem ao menos ter pedido ajuda aos jovens bandidos. E me pergunto até hoje: de que adianta ter uma série de câmeras filmando o movimento bancário se não há alguém acompanhando as filmagens? Filmar para quê? Mas agora estou mais calmo e feliz com a ideia de que não me machucaram fisicamente, não me bateram apesar de falarem baixinho: “o velhote tem um carro da Nissan…..passa logo a grana”, porque eles viram a chave na minha mão.

O estrago emocional foi de grande monta: deixou-me muito mais vulnerável e com sentimentos de inutilidade do que a própria idade pudesse fazer. Na verdade não sei se fiquei decepcionado comigo por acreditar na segurança tecnológica da agência ou se fiquei chateado com minha ingenuidade em pensar que nunca seria abordado por sujeitos deste tipo. O fato é que fui apenas mais um e que o golpe, desta vez, foi diferente dos que já houvera ouvido. Os jovens eram educados, bem vestidos e rápidos em suas ações, ajudados por um terceiro indivíduo que ficava falando alto sobre as dificuldades em usar o caixa eletrônico que sempre está em manutenção, sempre está sem dinheiro e sempre está fora do ar.

Enquanto esse rapaz gritava que estava tudo errado, que nada funcionava, o que era uma verdade, os demais “funcionários” tentavam ajudar idosos nos caixas eletrônicos que insistiam em não funcionar. Estranho de contar, difícil de engolir, dolorido para sentir. Mas são flashes reais da Vida, que não admitem remendos nem cores além das mais tristes e frias a que se pode pensam: fato ocorrido nos altos do Anhangabaú, bairro seguro de nossa desenvolvida cidade. Fico feliz porque todos os grandes protetores dos idosos terão ações que protegerão cada vez mais este segmento da população. Já sinto a tranquilidade. Foi muito triste e cruel, mas já passou também. Restou o medo e o susto que passarão com o tempo.

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Desta vez tentaram levar minha autonomia, minha serenidade, minha paz. Conseguiram arranhar meu interior mas não levaram meu caráter nem minha vontade de viver. Hoje, uma semana depois, estou mais devagar, mais lento, assustado, mas me recompondo e não perdendo a vontade de viver. Nada que umas sessões de terapia e muita oração não consertem. O dinheiro? Oras, o dinheiro recupero trabalhando. Deixaram-me vivo, sem danos físicos, é o que me basta. Mas até quando teremos que viver com estes sobressaltos? Quando começaremos a falar sobre estes fatos reais? Quando desvelaremos a pouco e frágil segurança que nossa cidade nos oferece? A quem recorreremos para dar conta desta vulnerabilidade?

Estou muito esperançoso em nossos políticos que serão empossados em 1º de janeiro. Desta vez, todos se comprometeram a olhar pelos idosos e meu segmento social se sente abençoado. Estaremos muito mais seguros e despreocupados com pessoas que farão tanto por nós e só podemos agradecer antecipadamente. É ver para crer.(Foto: reprodução filme ‘Alice no País das Maravilhas/2010)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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