A descoberta de um mapa colonial registrando o rio Jundiaí em 1628 é uma novidade que coincide com o projeto de valorização desse rio como elemento ambiental e histórico de grande parte da região. O tema foi alvo de encontros entre técnicos de Jundiaí, Campo Limpo Paulista, Itupeva e Várzea Paulista, e levou o nome de “Rio Jundiaí – Patrimônio Natural e Cultural”(na foto acima, o registro da ponte da avenida São João na década de 40).
Apesar de ter um eixo principal com apenas 123 quilômetros de extensão desde as nascentes até a foz no rio Tietê, o rio Jundiaí drena uma área (“bacia”) com 1.114 km² (ou 1,114 bilhão de metros quadrados).
Já a informação de seu registro histórico em 1628, mais de 20 anos antes de Jundiaí ter sido reconhecida como uma das vilas coloniais, foi destacada pelo então prefeito Pedro Bigardi após leitura do livro “Rios de São Paulo – O Caminho das Águas” (Vito D´Alessio, Dialeto, 2011) e chegou ao conhecimento do grupo.
O mapa citado no livro resultou de uma expedição capitaneada por Dom Luís de Céspedes Xeria para os cursos dos rios Tietê e Paraná. E mostra tanto o rio Jundiahy como a própria localidade de Jundiahy.
Em 1932 era possível pescar no rio Jundiaí. As águas eram limpas, cristalinas e cheias de peixeis.
Moças fazem pose num barquinho. O rio ainda era limpo na década de 30
Rio Jundiaí em 1947: fundos da casa 323 da Rua Carlos Gomes. O dono do barco era o senhor Buzzato que a renda da família pescando de vendendo bagres de porta em porta
Avenida Marginal do Rio Jundiaí em 1973, em frente a antiga Duratex
Ponte São João antes da construção da avenida Antônio Frederico Ozanam. A antiga Pozzani está do lado direito da imagem. Foto de Tony Croce.
Um pouco de história – Retornando no tempo com apoio de obras como essa, é curto o período dos lendários bandeirantes paulistas dos anos 1500, formados por grupos mistos de brancos, índios e caboclos que usavam o discurso das grandes descobertas para, na maior parte das vezes, justificar caçadas pouco escrupulosas a povos indígenas pelos caminhos que já existiam antes da chegada dos portugueses.
Logo começaram a ser substituídos por expedições de cargas que passaram a usar a conexão de rios, especialmente Tietê e Paraná, com o nome de “monções”. Aproveitando justamente o conhecimento nativo, surgiram os primeiros mapas cartográficos para orientação dos comboios de barcos que chegaram a transportar até seis toneladas de carga pelos canais.
Mas tanto as bandeiras que entraram no território quanto as monções que criaram uma rede hidroviária nas bacias dos rios Tietê e Paraná, apenas iniciaram a ocupação. Por terra, os rios também orientaram as rotas dos tropeiros que geraram as povoações estratégicas do Estado de São Paulo, como Jundiaí, Itu, Porto Feliz, Sorocaba e, em seguida, Campinas.
Foram mais de 200 anos na integração entre tropas de animais e rios, até que o volume de carga gerado pelo café, um grão de origem africana que substituiu a mineração como base econômica de exportação, exigiu o surgimento da alternativa ferroviária iniciada exatamente entre Santos e Jundiaí na década de 1860.Esse mesmo século 19 levou aos rios o olhar de visitantes e cientistas de diversas partes do mundo, especialmente da Europa.
A fase mais difícil – Se durante séculos o rio Jundiaí funcionou como apoio natural estratégico para tropeiros e moradores, a partir da segunda metade do século 20 teve seu eixo principal atingido por uma carga de resíduos da industrialização e desmatamento das margens que o tornou um dos mais poluídos do Estado, classificado como classe 4.
No entanto, afluentes da margem direita (especialmente na área do rio Jundiaí-Mirim) e da margem esquerda (especialmente vindos da Serra do Japi) ainda mantiveram a vida na bacia. Em 2014, mais de 30 anos depois das articulações para o projeto de despoluição iniciadas no início da década de 1980, um trecho de 25 quilômetros do eixo central do rio Jundiaí entre as cidades de Itupeva e Indaiatuba foi reconhecido como classe 3 pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, permitindo seu uso após tratamento.
Antes, ele somente deixava a classe 4 entre as nascentes e a cidade de Várzea Paulista, trecho classificado como classe 2 nos mesmos critérios. Embora ainda faltem passos importantes para sua revitalização nesse projeto de longo prazo, o caso do rio Jundiaí atualmente inspira outras cidades e metrópoles brasileiras com problemas semelhantes.
O alerta pelo rio também está em texto do acervo do Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, vinculado à Secretaria da Cultura, em que uma narrativa onírica começa com “aqui a 300 metros das margens do Rio Jundiaí (isso porque os índios, precavendo-se contra as enchentes construíram suas malocas distantes do leito principal) que além de límpido, possuía cardumes de Jundiás inesgotáveis. Nas noites calmas e enluaradas, os Jundiás emitem um chiado que os índios atribuíam como choro ou lamento”, frase de João Leite do Amaral (Caboclo Jaruçu) e intitulado Por Que os Jundiás Choram, no fim da década de 1950.
Texto publicado em setembro de 2015
José Arnaldo de Oliveira é jundiaiense com formação de cientista social pela Unicamp e de jornalista pela PUCC. Atuou com temas culturais e ambientais, tendo sido voluntário em ações como Pão e Poesia e na Serra do Japi.
Foi o criador em 2009 do portal educativo Jundiahy e colaborou em projetos como Urbanismo Caminhável, Plano Diretor Participativo e Rotas Turísticas. Por dois anos foi um dos voluntários do evento Ocupa Ponte Torta, em iniciativa do grupo Pedala Jundiaí.
É autor também em livros da série Jarinu Tem Memória e da publicação Amazônia Brasil, além de registrar uma menção honrosa de Prêmio Fiesp de Jornalismo e participado de uma vitoriosa campanha internacional O Cupuaçu é Nosso, contra a biopirataria. Quem quiser falar com José Arnaldo de Oliveira pode entrar em contato pelo e-mail jundiahy@outlook.com ou whatsapp 11 9 8684 4918.