A modernidade não pode destruir espaços já conquistados; não existe motivo para avançarmos sinais que não acrescentarão nada a humanidade. Não….pais não beijam filhos na boca. De maneira alguma e isso não é demonstração de carinho. Pais não beijam filhos na boca. Crianças não têm namorados nem namoradinhos nem contatinhos; não, crianças não têm essas coisas.
Danças sensuais não devem ser ensinadas ou apoiadas em ambiente escolar. Na escola ensina-se folclore e danças folclóricas, além das tradicionais danças de salão. Tudo o mais está fora de cogitação. E, também, pais não devem obrigar seus filhos a contarem detalhes de suas vidas sexuais: isso é invasão de privacidade, sim.
Estes costumes estão tão em prática e tão comum nas rodas de amigos, com pais contando para os amigos sobre as evoluções sexuais de seus filhos, que todos ficam sabendo de cada passo dos filhos alheios. Isso, então, já tem outro nome além de invasão de privacidade; porém este outro nome prefiro omitir.
Corretíssima está a reportagem que aponta que as patrulhas de direita e de esquerda estão matando o Carnaval: olhou mais que um segundo é assédio, chegou perto é assédio, pôs as mãos na cintura é assédio, não olhou porque não está afim é veado ou gosta de homem, não chegou perto é porque não gosta da coisa, não pôs as mãos na cintura nem abraçou é porque não é chegado. Então, qual a atitude adequada neste Carnaval? Concordam que fica difícil?
E o que acarretou este clima? O sem numero de invencionices que foram pipocando dentro do nefasto universo do “politicamente correto”. São crianças que crescem com algumas deformidades comportamentais ensinadas pelos pais, sempre nas melhores das boas intenções, é óbvio. Crianças que aprendem a ligar para o Conselho Tutelar, ao verem os pais ficando bravos com os irmão, porque aprenderam que devem contar e acusar os maus tratos.
São crianças que delatam a professora que os olhou com mais proximidade e isso caracteriza um assédio na cabeça dos doentes. Perdemos a noção do certo, do óbvio e do inadequado. Percebam: quando convém é adequado. Passou da página 12, não há conveniências, torna-se inadequado. Certamente estou falando de maneira grotesca e superficial, mas isso tem se tornado lugar comum: é uma sintomatologia de que a sociedade está doente.
Do ponto de vista dos contatos sociais nunca estivemos piores: são leituras equivocadas, são interpretações errôneas, são investidas desajeitadas e os problemas começam a crescer a partir de um viés menos astuto ou menos saudável. Assusta ver que estamos nos tornando mais insensíveis e mais fascistas, com tudo aquilo que nos toca, sem que tenhamos juízo adequado da propositura.
E ainda levantamos a bandeira contra o fascismo. Que, aliás, não sabemos o que é. Falamos, intitulamos, bravejamos, mas desconhecemos o significado. Perto disso está o estado alarmado sobre o coronavírus, que alardeamos e insuflamos nossos colegas, enquanto baixamos guarda para a dengue que está matando em nossa cidade.
Sabemos tudo sobre o “corona”, temos todas as informações; no entanto, nossos vasos estão cheios de água parada, acumulamos garrafas e latas em nossos quintais, permitimos que a água empossada permaneça em frente a nossa casa. E a dengue se alastra silenciosamente. Isto é uma cultura fascista. Quando lemos “Aparelhos Ideológicos” de Althusser, aprendemos mais sobre isto leitura recomendada.
Equivocado está nosso senso de responsabilidade, quando permitimos que as coisas sejam estereotipadas: será que para falar sobre negritude o cabelo tem que estar com formato e corte afro? Não é possível defender a negritude sem cabelos afro? Se alisar o cabelo é pecado? É desmerecer o movimento? Então o movimento é o cabelo e as roupagens?
Para fazer parte do movimento LGBT e demais o menino tem que ter cabelo azul, ou amarelo, ou rosa, enfim, e a menina tem que ter aquele corte específico e portar um adereço no nariz? Sem esta caracterização não falam em nome do movimento? A caracterização é o movimento?
Entendo que tal caracterização faz parte da identidade do grupo e, em especial, da identificação dos iguais. Porém, entendo, também, que isso não é movimento. O tal movimento traz em si as oscilações caóticas de avanços e retrocessos, próprios de todo e qualquer movimento cultural, analisado pela Sociologia das Massas. Mas apenas a caracterização serve apenas para estereotipar e desagregar as pessoas.
Na mesma linha e em outra direção, hoje conversei com um amigo que está preocupado com o filho mais novo, que não consegue arrumar emprego em canto nenhum. Até passa em alguns concursos, mas na finalização do processo seletivo algo acontece que exclui o rapaz, bem formado e muito empenhado em trabalhar. Este rapaz tem da cintura para cima, inclusive o rosto, fechado (termo usado para dizer que a tatuagem cobriu seu corpo).
Perguntei ao meu amigo se ele empregaria ou teria um estagiário com tatuagens no rosto e em todo o corpo. Ele demorou para responder e disse: só se fosse para serviços internos, sem contato com meus clientes. Diante desta reforma, sugeri que ele se pusesse no lugar dos demais empregadores e, infelizmente, questionei se ele e o filho nunca conversaram sobre isso, no decorrer do tempo.
Ele me disse: isso é coisa da molecada de agora. Isso é novo para mim. Não pensei que chegara a este ponto…o que fica ainda mais difícil, pois a proposta de mudança social é lenta porém marcante. Muitos filmes, de início ficcionistas, apontam para este fenômeno e demonstram que a resistência social para algumas das grandes mudanças, a tatuagem é uma delas, se faz sazonalmente e não temos controle sobre ela.
Talvez o leitor desavisado entenda que estamos fortalecendo o preconceito, mas estamos avaliando a resistência ao novo, que é um movimento cultural e que tem mobilidade específica diante de cada grupo social e que se espalha ou se finda de acordo com a malha existente no contexto em que está inserido: não tem milagre nem lei nem decreto. Tem absorção ou rejeição, de acordo com o contexto sociocultural onde acontece o fenômeno.
E o melhor e pior: costume não tem adjetivação. Não é bom. Não é mau. É costume e se basta como tal. Os movimentos devem usar estratégias que difundam suas características, de maneira a favorecer que eles sejam revistos, discutidos por todos, aceitos e colocados para a vivência social e em grupos. Assim tornam-se hábitos e avançam. Sem brigas, confrontos e indignações.
OUTROS ARTIGOS DE AFONSO MACHADO
Quando pensamos no início do movimento feminista ou negro ou LGBT veremos que apenas após certo período de muita instabilidade eles conseguiram adesão e fortalecimento. Entretanto eu me pergunto, sem ter resposta: e agora? Os tais movimentos estão se fortalecendo ou estão se autodestruindo? Estão realmente conseguindo representatividade ou estão se esfacelando em função das lideranças xiitas? Vamos estar atentos a todos e quaisquer movimentos sociais: poucos têm estrutura para garantir mudanças, no momento.(Foto: rivegaucheparis.blogspot.com/2014/06)
Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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