Depois de ler o texto, quase um manifesto, de Carl Sagan chamado Pálido Ponto Azul, essa página em branco parece, a mim, um desafio além da conta. Melhor seria copiar e colar aqui suas palavras, tamanha importância há em sua reflexão – desprovida de qualquer sentido imaginativo, ficcional ou místico, mas lotada de consciência, clareza e constatações filosóficas que, 20 anos depois, permanecem tão atuais. Cientista, astrônomo, astrofísico, cosmólogo, escritor, Carl Sagan nos fala sobre nosso lugar no Universo. Inspirado pela imagem da Terra, feita pela nave Voyager, em 1990, a seu pedido, ao convencer a Nasa da importância desses registros, Sagan chamou de ‘pálido ponto azul’ aquele elemento quase invisível na vastidão do Cosmos. Diz ele, lá pelo meio do texto: As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta autoimportância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.

Seu alto grau de consciência me parece, hoje, inversamente proporcional à falta dela.

Mas por que falar em Carl Sagan agora? Uma notícia me levou a ele nos últimos dias. Não vi qualquer repercussão a respeito, mas, uma de suas mais conhecidas frases – que ajudou a identificá-lo também– “somos todos poeira de estrelas”, ganhou aderência da comunidade científica. Após pesquisa, astrônomos divulgaram que possuímos os mesmos elementos que constituem as estrelas. O carbono, o nitrogênio e os átomos de oxigênio em nossos corpos, assim como os átomos de todos os outros elementos pesados, surgiram em gerações anteriores de estrelas,há mais 4,5 bilhões de anos. Os seres humanos, portanto, e todos os outros animais, bem como a maior parte da matéria na Terra, são feitos, literalmente, de matéria estelar. Estamos todos conectados, uns com os outros, e todos com o Cosmos.

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Temos a mesma origem. E iremos – voltaremos – todos, para o mesmo pó de onde viemos.
Sagan, por já ter esta clareza muito tempo atrás, dizia que nós, seres humanos, somos uma maneira de o Cosmos se autoconhecer. “Se somos feitos de poeira de estrelas sistematicamente organizada para formar seres dotados de consciência, então podemos dizer que somos o universo pensando sobre si próprio”. E da grandeza desse reconhecimento brilha uma humildade soberana. A consciência da continuidade. A presença dos nossos ancestrais em cada átomo que nos mantêm respirando. O desejo de amar nossa linhagem e perpetuar, nessa espiral de presença, a perseverança do amor e do perdão. A nossa responsabilidade para com o Todo do qual fazemos parte.

A evolução que está em nossas mãos, a partir do respeito a todos e à nossa Natureza.

Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.(foto acima: www.misteriosdouniverso.net)

 

TATIANA ROSA TATIANA ROSA

Jornalista, com pós-graduação em Jornalismo Literário e especialização em Comunicação Empresarial. Aspirante a escritora e amante de música e poesia (escritos antigos podem ser lidos em http://meiaduziadepalavras.blogspot.com.br/). Proprietária na empresa Combat Rock – Produção de Conteúdo (http://combatrockjornalis.wixsite.com/comunica). E estudante de Psicologia.