SONHANDO acordado

SONHANDO ACORDADO

Em fevereiro, quando o monstro ainda era um animalzinho de estimação, eu disse que não viveríamos uma quarentena, mas uma centena ou uma duocentena ou ainda um ano atípico. Lembro bem, ainda, que amigos leitores disseram que eu fora trágico e extremista e que isso eram figuras de imaginação. Hoje, quase em meados de julho, gostaria de perguntar onde está meu extremismo e minha tragédia, se não uma verdade dolorida e real a que todos enfrentamos e ainda enfrentaremos por mais um longo período, como se estivéssemos sonhando acordado.

Pesquisadores mais renomados e sérios da área da Saúde (claro, é ela quem deve liderar no momento) sugerem (entenderam? sugerem…) que voltaremos ao ritmo mais acirrado e com maior proximidade humana apenas em meados de 2021, porém de forma diferente àquela vivida até então, o que significa que teremos outros formatos de produção, outras maneiras de nos comunicar e outras propostas de Vida, que não aquela que já conhecemos.

Isto nos remete a entender que daqui até lá, meados de 2021, precisaremos e devemos idealizar e ensaiar outros meios que nos confirmem como seres atuantes e em transformação. Tudo e todos estão em constante mudança e ainda temos muito a mudar; as resistências às mudanças estão sendo quebradas e as novidades estão sendo assimiladas e assumidas como posturas íntegras e necessárias à sobrevivência, diante do obstáculo desconhecido.

Máscaras serão itens de nossas vestimentas e estarão presentes perpetuamente, mesmo após a descoberta de uma vacina, uma vez que elas são preventivas e necessárias, diante de algo que venha a sofrer mutações. Mas nada disso é novidade diante das informações que temos pelos canais de comunicações que, além de assumirem caráter sensacionalista e intimidador, estão nos orientando em tempo real, agora com mais credibilidade, devido à proporção que a situação tomou.

Nunca se viu tantos recordes sendo quebrados, numa só ação. Para o bem e para o mal, já que temos números grandes de recuperados, também; surpreende aqueles que ainda insistem em agir de modo pouco racional e irresponsável, tendo em vista que ao se colocar numa situação vulnerável, amplia-se a possibilidade de danificar com a segurança do outro, o que parece não estar afetando aos pouco sensatos. E isso assusta, pelo aspecto do risco à vida e pela ausência de empatia; tudo isto já foi demasiadamente tratado em crônicas anteriores e pela mídia, sem trazer sensibilizações proativas.

Dentre as propostas de enfrentamento, temos as escolas que começam a apertar o cerco, intimando seus alunos às enfadonhas aulas remotas e aos encontros online, por meio de lives e demais formas virtuais, que a mídia fugaz possibilita, com maestria. Aliás, diga-se de passagem, nunca se conversou tanto com pessoas que desconhecíamos ou que havíamos esquecido nas encruzilhadas da Vida.

Descobrimos nossos amigos velhos. Percebemos novas pessoas ao nosso redor, ainda que à distância. Fortalecemos e renovamos nossa rede de apoio e criamos espaços em nossas agendas, para tudo aquilo que nos desperta atenção e curiosidade. As compras passaram a ser de forma remota, bem como seus pagamentos: foi preciso se adaptar aos modelos de tamanhos que se formatam ao responder simples questionamentos que vão desenhando o corpo e resultam na numeração ideal. O mesmo se dá com a forma de pagamento. É o novo velho, já que existia e não era usado com a dimensão atual.

Redescobrimos (ou será que descobrimos?) formas de contato e comércio que estavam inativas ou em câmera lenta, porque são ferramentas indispensáveis para manter a Vida, no momento. Isso nos aponta que nem tudo é novo, mas que tudo está redimensionado, tentando manter o fluxo vital, em todas as direções e oportunidades que nos fazem seres sociais. Por este motivo é que questionei a expressão “novo normal” em vezes anteriores, neste espaço.

A questão se estende a todas as instâncias de conhecimento humano: os julgamentos à distancia, as palestras, as aulas, os encontros já eram reais, antes da pandemia. Agora são essenciais; o que mudou foi a prioridade e a cadência em que são adotadas e repetidas; a escola já não existe sem os acessos remotos, por exemplo, democratizou e ampliou seu espectro de atendimento, no ponto de vista dos gestores, sem que isso seja voz unânime entre professores e pais de alunos.

Na verdade, os pais já passaram por várias fases de julgamento: já aplaudiram os professores, já endeusaram os docentes, já olharam com vieses e já estão odiando, novamente, pelo progresso não visível e pouco palpável do aprendizado. Tudo é muito tênue, visto que o que se observa é o aluno diante do computador ou celular um dia inteiro, fazendo tarefas, mas não se consegue perceber a eficácia desta proposta, porque a avaliação deste processo é algo a ser dimensionado para um futuro a médio e longo prazo.

O que temos hoje são professores e alunos criando argumentos e estratégias, quase heroicas, sem a comprovação de que os ensinamentos (se pudermos chamar assim) estejam sendo abarcados e associados aos demais já existentes: este cenário não é favorável ao aparelho escolar nem ao sistema de ensino tão pouco ao processo de aprendizagem, nas melhores das perspectivas. Podemos arriscar que parece que ensinamos e parece que aprendem, porém estamos aquém do necessário ou do básico, até.

Se pensarmos que consultas médicas estão no formato de tele consultas ou vídeo consultas: dependendo da interação médico-paciente podemos entender que algumas são satisfatórias e outras são desastrosas, criando certo clima de insatisfação com a situação proposta. Fica claro que se existir insatisfação, numa relação interpessoal, o processo resulta em ineficaz e ineficiente, o que não fica bem para um nem para outro dos lados necessários para desenvolvimento da sondagem avaliativa e da propositura segura.

As aulas on-line e encontros remotos não se encontram dentre as preferências e propostas de interesse nem de uma parte nem da outra: professores e alunos não estão se sentindo à vontade nesta situação e não conseguem cumprir com aquela que seria a forma ideal para o momento, porque não conseguem se reinventar além daquilo que estão fazendo e nossos alunos estão saturados de conteúdos infantilizados ou abstratos demais que recebem e precisam se preocupar com a devolutiva. Que dilema é esse?

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SONHO OU REALIDADE?

Em atenção a minha ausência, nestas duas semanas que passaram, devo uma explicação: eu me perdi no decorrer da semana e não dei conta de cumprir com meus compromissos. As semanas voaram e eu acabei por não enviar as crônicas em tempo hábil de edição e publicação. Alguns amigos mais alarmistas ligaram para saber se era problema de saúde. Sim, era…problema da saúde mental, que estava descompassada e atemporal, mas já me enquadrei e já estou em plena função de minhas atividades de atendimentos psicológicos, aulas e atividades em lives que me possibilitam expressar e aprender mais e mais. As vezes a ausência nos possibilita analisar o cenário, de fora do círculo, fazendo com que nos enquadremos com mais precisão (espero) e direcionamento (gostaria) às atividades assumidas.

Gosto muito daquilo que faço. E só faço o que gosto. Boa semana a todos e firmeza em nossos propósitos.(Foto: Anderson Thives/www.heliofranco.com.br)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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