Já falamos várias vezes sobre a quantidade extraordinária de documentos bem conservados que podem ser encontrados em muitos acervos de Jundiai. Dentro esses documentos estão aqueles escritos durante o século XVII, como as Cartas de Datas e as Atas de Câmara. Ter acesso a alguém que soubesse escrever nessa época era algo difícil e quase tão penoso. O mesmo se aplica para os materiais necessários para grafar os documentos. Além do papel de trapo, que já expliquei como era feito, também era necessária a tinta. Assim, nessa época, a tinta usada era a ferrogálica.
A tinta ferrogálica é uma mistura líquida, que tem como componentes água, vinho ou vinagre, sulfato de ferro, para dissolver todos os componentes, goma-arábica, que faz a tinta grudar no papel, e noz de galha, que dá a cor escura a ela. Segundo o dicionário online Caldas Aulete, a noz de galha é obtida a partir do “desenvolvimento excessivo no tecido do carvalho, causado por insetos, em forma de pequena esfera ou tubérculo, com alta concentração de tanino e do qual se obtém o ácido gálico”.
Acima, goma-arábica(fundo preto) e noz de galha
Essa emulsão tem início em meados do século VII, sendo mais usada a partir da Idade Média. É uma tinta permanente, relativamente de fácil elaboração e que substituiu as tintas mais difíceis de serem conseguidas, como o negro de fumo. A tinta ferrogálica é ácida e por esse motivo, a probabilidade de o papel ficar quebradiço e todas as informações se perderem é enorme.
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Mesmo tendo sido escritos com a tinta ferrogálica, e apesar da antiguidade do manuscrito encontrados nos acervos de Jundiaí, o que percebemos é que a maior parte deles estão em ótimo estado de conservação. Isso se deve muito pelo modo como os volumes foram armazenados ao longo dos séculos e para que continuem servindo de material de pesquisa, é necessário que sua salvaguarda continue sendo feita de maneira correta.
KATHLIN MORAIS
Jundiaiense, mestra em Filologia e Língua Portuguesa pela USP, técnica em conservação e restauro de documentos em papel pelo SENAI e professora de Francês e Inglês na Quero Entender – Aulas Particulares.