Genival Carlos da Silva, 52 anos, é jundiaiense e sargento do Exército. Mas não do Brasil. Ele faz parte das Forças Armadas dos Estados Unidos. O militar estudou no Conde do Parnaíba, Instituto de Educação(hoje Dom Gabriel Paulino Bueno Couto) e Colégio Rosa. Vivendo há 15 anos naquele pais, casado, pai de dois filhos(20 e 27 anos), Genival conta ao Jundiaí Agora como se tornou um guerreiro do Tio Sam:

Por que decidiu ir para a América?

Em 2001 eu me converti, tornando-me um evangélico. Em julho de 2003, estava na igreja quando um pastor de São José do Rio Preto que nunca havia visto antes passou por mim, me cumprimentou, deu alguns passos e retornou me dizendo que não sabia, quando, como ou para onde mas eu deveria preparar meu passaporte pois iria sair do Brasil. Ouvi, agradeci e esperei, até que em novembro daquele mesmo ano Deus me mandou vir para os EUA, eu não queria vir, e argumentei por vários dias, até que, como pode ver, perdi os argumentos e vim, com a cara, a coragem e quase nada de dinheiro no bolso.

Você queria ser militar? Era seu sonho?

Sim, sempre quis ser militar desde criança

Quando entrou para o exército?

Em outubro de 2006. Foi muito tranquilo porque estávamos em período de guerra e estavam buscando por soldados, tendo até mesmo aumentado o limite de idade, razão pela qual pude me alistar.

Foram mais exigentes por ser brasileiro?

Não, apenas exigiram o greencard (cartão de permanência de estrangeiro, como o RNE no Brasil)

Foi bem aceito pelo restante da tropa?

Sim, sempre tem alguém que não gosta ou zomba do sotaque, mas as forças armadas são o maior exemplo de diversidade nos EUA. Não sofri nenhum preconceito significativo porque o Exército ministra aulas anuais contra discriminação, preconceito e assédio sexual, bem como reportá-los pública e privadamente. Até mesmo se faz regularmente uma pesquisa anônima para saber se há casos de discriminação ou tratamento diferenciado

Militar americano ganha bem?

Se comparado com a iniciativa privada não ganha tão bem, mas tem muitos benefícios como saúde, moradia, seguro de vida, educação, etc. Ou seja, por não haverem descontos significativos como na iniciativa privada, os salários praticamente dobram, ficando mais altos do que a iniciativa privada.

Se não fosse militar, o que iria fazer da vida?

Estava trabalhando com fibra ótica antes de me alistar, mas estava tentando voltar a minha carreira original no ramo de Comercio Exterior

Aliás, nunca pensou em seguir carreira aqui?

Estudei no Colégio Militar de Belo Horizonte com 13 anos. S sai porque queria ser piloto na Força Aérea. Não consegui. Servi no Exército e segui carreira, mas sai por ter passado em um concurso de comissário de bordo da extinta Vasp, mas nunca fui chamado para o curso.

Como militar, onde esteve?

Fui para zonas de combate fui ao Iraque (2008/2009) e Afeganistão (2010/2011), mas estive na Irlanda do Norte, Alemanha, Kuwait, e Bulgária

Participou de quantas batalhas?

Nenhuma batalha direta devido ao tipo do meu trabalho. No Iraque era mecânico de helicópteros e no Afeganistão fui como Chefe de Tripulação em uma companhia de resgate aéreo (como ambulância aérea), o qual sou até hoje, pois sai da ativa e continuo na Guarda Nacional onde, se Deus quiser, permanecerei até me aposentar.

Alguma vez pensou que iria morrer?

Várias vezes no Afeganistão, em 2010 e 2011, com explosivos colocados para destruir veículos, tanques ou helicópteros. Também havia o risco de tiros, foguetes, pousos em áreas isoladas.

Viu muita gente morrer?

Algumas vezes. Resgatamos qualquer pessoa ferida em combate, não apenas soldados americanos. Vi muito mais feridos. Resgatamos aproximadamente 1.200 vidas em um ano, entre americanos, soldados e policiais afegãos, civis e inimigos(na foto acima, o jundiaiense está sentado na hélice do helicóptero).

Há muitos brasileiros no exército americano?

Encontrei uns cinco em minha carreira…

Você se considera um herói?

Não, heróis são os que nunca voltaram para casa vivos. E também as famílias que têm que permanecer aqui sem saber se receberão uma visita com a triste notícia. Estava lá quando cinco soldados de aviação como eu, mas de outra unidade, foram mortos juntamente com outros 26 soldados em um helicóptero Chinook que foi derrubado por um foguete. Estes são heróis.

Vem com frequência ao Brasil?

Ia uma vez ao ano, mas como agora não tenho mais família direta aí. A minha esposa tem. Estamos pensando em ir a cada dois anos.

Pensa em voltar para cá?

Só se for da vontade de Deus e depois de aposentado devido ao valor do dólar em comparação com o real, mas não antes disto. (Na foto abaixo, imagem do jundiaiense com o equipamento de visão noturna)

Como vê a sua terra natal hoje? 

Com tristeza, por ver o que fizeram com a economia do Brasil, dilapidando os cofres públicos e a população ainda apoia corruptos que destruíram a nação, além de ver organizações criminosas crescerem com a falta de um pulso mais forte do governo pois há uma inversão de valores onde bandidos são vítimas da sociedade e policiais são monstros. O Brasil tem tudo para ser uma grande nação, mas, infelizmente, a população desconhece seus direitos, perdeu-se a noção do certo e do errado, onde estudantes mandam nos professores e pais, e a lei de Gerson ainda está em vigor.

Como os americanos veem o Brasil?

O Brasil não tem muita significância nem participação na mídia americana. O americano médio conhece o Brasil pelo Carnaval, pelo futebol, pelas belas mulheres, e pela violência. Muitos têm vontade de conhecer mas ficam com receio devido à criminalidade. Quando algo é motivo de notícias, se trata de algum escândalo no governo, de algum “palhaço” que se candidata para deputado federal e o povo ainda vota, ou alguma desgraça com muitas mortes.

 
Acha que o Brasil deve manter o serviço militar obrigatório?

No caso do Brasil sim, devido a situação que governos anteriores vêm dilapidando as Forças Armadas por revolta, estando completamente sem apoio…(acima, foto no Iraque, durante tempestade de areia)

Quais as vantagens e desvantagens deste sistema?

No Brasil se não houver um serviço obrigatório, ninguém se alistará e as Forças Armadas passarão a não ter mais condições de defender o Brasil ou sua soberania. A desvantagem é que alguns sempre irão reclamar que não gostariam de servir. No caso do serviço opcional como é nos EUA, eles atraem muitos pelos benefícios que o Brasil não oferece

 

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