Vivemos dias de entusiasmo ou marasmo em relação à Copa do Mundo, mais um cenário polarizado nessa tendência por lados investida no país. Respeito que nem todos se interessem por futebol, no entanto, para além de apenas gostos distintos, esse quadro dividido e incentivado por notícias da imprensa mostra certa ‘exigência’ para que torçamos contra a seleção ou para que nada nos anime no Brasil. Escrevo, então, de forma confortável para ponderar: torcer pelo Brasil não é tapar os olhos aos problemas de origens diversas. Torcer pelo Brasil, inclusive no esporte, não nos desautoriza a cobrar. Pelo contrário, torcer nos faz encarar os desafios de um país que mistura tudo, mas precisa também aprender a separar, a não generalizar e a comandar frentes que, juntas, podem contribuir.
Como já escrevi em outra coluna aqui no Jundiaí Agora, há uma interpretação bastante comum entre parte da população e dos políticos brasileiros de que se lutamos pelo esporte, cultura ou por qualquer outra esfera que não aquelas consideradas ‘essenciais´, estamos negligenciando a saúde, a segurança e outros aspectos tidos como prioritários. Falta-nos, portanto, a compreensão de que todos esses pilares são necessários à sociedade, igualmente importantes e que a discussão por um tema não desmerece outros. Acredito que a Copa do Mundo, como um fenômeno histórico de mobilização no País e como uma peça rara de autoestima aos brasileiros, entra também neste contexto. Ou seja, não é por torcer para o Brasil ou por assistir aos jogos da Copa que nossas filas na saúde crescem, nossas escolas carecem de melhor estrutura ou nossa política esteja rendida à descrença atual.
Os problemas que enfrentamos já são conhecidos há tempos, infelizmente sem muita evolução entre Copas ou qualquer campeonato sazonal. Portanto, esses mesmos problemas não devem ser esquecidos e não seriam com Copa ou sem Copa. Nossa memória é mais ácida que em tempos atrás – as redes sociais, os meios de transparência e a internet não nos deixam esquecer. É preciso que saibamos separar e não parar. Enquanto torcemos, também mostramos nossa força pelas mudanças que desejamos, mostramos o País que somos hoje e quem são os que nos representam dentro e fora de campo.
Como educador físico de formação, valorizo a realização de eventos esportivos que tragam visibilidade aos países, às suas culturas e demonstrações de garra. Claro que o futebol também nem sempre se separa da política como gostaríamos: são negociações valorosas, oportunidades desiguais, disputas internas. Porém, retirar de um país o seu gosto por torcer e por uma das poucas coisas que ainda o anima me parece exagerado e destoante do Brasil que devemos buscar – aquele que volta a vestir a camisa, que pensa o bem comum, que ergue a taça como exemplo de quem supera limitações. Se não erguer, que saibamos também enxergar nossos erros.
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Em um país tão desigual como o nosso, o futebol também cumpre papel social, do sonho de menino às oportunidades no esporte que tiram crianças e jovens das ruas. Não devemos nos esquecer também disso e, então, cobrar ainda mais oportunidades e meios esportivos atuantes.
Que possamos assistir ao desempenho da seleção atentos, embasados, críticos. E assim torceremos por um Brasil, tão desajustado atualmente, que vá bem em campo e na vontade coletiva de melhorar junto, sem torcida contra.
FAOUAZ TAHA
É vereador na Câmara de Jundiaí pelo PSDB, eleito pela primeira vez nas últimas eleições municipais de 2016. Tem 29 anos. Atualmente é líder do governo municipal na Casa de Leis, além de presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, Desporto, Lazer e Turismo do Legislativo. Nascido em Jundiaí, Faouaz é formado em Educação Física pela ESEF e tem pós-graduação em Fisiologia do Esporte pela Unifesp. Antes de ser vereador, teve experiência na gestão pública com participação na Secretaria de Esportes