Semana passada, fui a mais uma sessão de escleroterapia, não muito tranquila pelas picadas, mas feliz por ter a oportunidade de conversar com o dr. Ayrton, médico vascular em Jundiaí, de quem sou paciente há alguns anos. Ele é muito divertido e me faz esquecer (por pouquíssimos instantes) as picadas doloridas para eliminar os indesejáveis vasinhos (veias de pequeno calibre) que teimam em aparecer, principalmente, nas pernas. Sempre conversamos bastante e, desta vez, me inspirou falar sobre dois assuntos importantes: TPM (Tensão Pré Menstrual) e Escleroterapia. Falarei primeiro da TPM e em artigo posterior tratarei do segundo tema.
Segundo o dr. Ayrton, as mulheres deveriam dar uma dica de que estão de TPM, para que os homens possam ligar o modo “autopreservação”, mas eu, sendo mulher, já lhe garanti: até dar dica irrita, em especial, para aqueles que se distraem com tudo, não conseguem realizar duas tarefas ao mesmo tempo, ou seja, o elemento masculino. Um sujeito distraído, ao lado de uma mulher com TPM, acionará seu próprio botão “autodestruição”, portanto, colocará a vida em risco. A assassina em série dominou o corpo dessa mulher que não mais estará no comando de suas ações. Alguns países, inclusive, o Brasil, têm atenuantes para crimes cometidos por mulheres nessa condição.
O ordenamento jurídico considera que os seres humanos são iguais perante a lei, embora sejam profundamente diferentes sob o ângulo biológico e psicológico. Podemos concluir que nem todos os homicidas passionais sofrem de algum tipo de doença mental. A maioria comete este delito por um desequilíbrio emocional momentâneo e que não é considerado uma patologia.
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No caso de uma mulher com TPM cometer um delito que, inclusive, evolua para morte, levará seus advogados a fazer uma bela e complexa leitura e interpretação dos artigos: 28 (Emoção e Paixão); 65 (Circunstâncias Atenuantes) e, 121 (Homicídio) todos do Código Penal. Será que o meu médico tem esse conhecimento? Entre uma agulhada e outra ele pergunta: “Sabe qual é a diferença entre um terrorista e uma mulher na TPM? Com o terrorista dá para negociar”. Eu estava na TPM. Pensa no risco que ele correu.
A tensão pré-menstrual é um conjunto de sintomas diversos (alteração hormonal, emocional e até física) que muitas mulheres sentem no período que antecede a menstruação. Em cada mulher, a temida “TPM” se manifesta de forma bastante variada, sobretudo, em relação à intensidade. O que muitos homens (e até algumas mulheres) não sabem é que esta tensão pode ser sentida de maneira tão exacerbada que se torna algo patológico.
Na verdade, a TPM não é uma licença para matar, independentemente do estado em que ela se manifeste no organismo da autora do crime, além disso, há muitas controvérsias acerca do tema entre profissionais do direito, com relação à interpretação dos artigos que regem a matéria, mencionados acima. Eu costumo brincar com meus alunos, insinuando que a mulher é muito mais complexa que o homem, pois, no livro de fisiologia de cabeceira para área da saúde, Tratado Médico do Guyton, há mais capítulos para falar delas do que deles.
Eles fabricam testosterona, cuja produção, começa a diminuir inexorável e lentamente a partir dos 20, 30 anos de idade. As transformações que essa queda provoca no humor masculino são, de certa forma, previsíveis e é por isso que as mulheres dizem que os homens são todos iguais.
Com elas, é diferente. A concentração dos hormônios sexuais varia no decorrer do ciclo menstrual. Assim que termina a menstruação, tem início a produção de estrógeno, que atinge seu pico ao redor do 14º dia. A partir desta fase a concentração de estrógeno cai e aumenta a produção de progesterona. Já, durante a menstruação, a concentração dos dois hormônios, praticamente, chega a zero.
Portanto, em cada dia do mês, a mulher tem uma concentração de hormônios sexuais diferente da que teve no dia anterior e que terá, no dia seguinte. O impacto que isso provoca no humor feminino também oscila de um dia para o outro. Por isso, os homens dizem que as mulheres são difíceis de entender.
Nem nós mesmas nos entendemos. Essa é a verdade.
Mara Diegoli, médica coordenadora do Centro de Apoio à Mulher com Tensão Pré-Menstrual do Hospital das Clínicas da Universidade São Paulo, diz o seguinte: “Tensão pré-menstrual, ou TPM, é o nome que se dá a uma série de sintomas que se manifestam antes da menstruação. É preciso prestar atenção: eles têm que desaparecer com a menstruação. Caso persistam, não caracteriza a famigerada tensão pré-menstrual.
Os sintomas são variados: irritabilidade, depressão, dor nas mamas e agressividade, que podem e devem ser controladas. Dor de cabeça é outra queixa frequente. A mulher também chora com facilidade sem saber, exatamente,por que, e pode explodir sem motivo.As ocorrências podem aparecer tanto de 10 a 15 dias antes da menstruação, como de um a dois dias de antecedência.
Só há uma regra para a TPM: Não ter regras. E isso enlouquece os homens.
Atribui-se a oscilação de ânimo à produção de serotonina, uma substância produzida pelas células nervosas e que, na mulher, oscila de acordo com o período do ciclo menstrual. A serotonina atua sobre o humor das pessoas. Quando sua concentração no organismo dispara, ficamos alegres, felizes e bem-humorados. Quando diminui, ficamos mal-humorados e propensos à ingestão de doces,como forma de compensação.
É de conhecimento médico que, no período pré-menstrual, ocorre uma baixa na concentração da serotonina e que, diferentemente dos hormônios masculinos, os femininos interferem na sua produção. Isso explicaria os sintomas psíquicos, enquanto os físicos resultam, principalmente, da própria alteração hormonal, ligada ao aumento da progesterona, que causa inchaço e dor de cabeça, por exemplo.
É claro que não são todas as mulheres que sofrem de tensão pré-menstrual e, as que sofrem, durante o namoro não demonstram, deixando para soltar o dragão somente depois do casamento confirmado e sacramentado. Louca sim, burra não.
Aparentemente, são três os fatores que explicam a TPM:
O primeiro fator é o hereditário. Mulheres, cujas mães, apresentaram TPM têm maior probabilidade de desenvolver a síndrome.
O segundo fator é externo. A mulher pode não ter TPM se estiver atravessando uma fase boa da vida e a serotonina sendo produzida em quantidade abundante, mas, em contrapartida, poderá sofrer o distúrbio se estiver passando por situações difíceis, como doença na família, dificuldades econômicas, divórcio ou pressão no trabalho. Nestas condições, a concentração de serotonina, já em baixa, reduzirá as concentrações precárias na segunda fase do ciclo menstrual.
O terceiro fator é o endógeno. Há mulheres mais sensíveis às mudanças hormonais e outras com menor sensibilidade, que poderão não sofrer TPM ou senti-la de forma mais prazerosa: dançando, pintando, bordando ou fazendo qualquer outra coisa que dissipe a ansiedade e tensão dessa fase.
Em adolescentes os sintomas são mais físicos (dor de cabeça e cólicas) e em mulheres na faixa etária de 30-40 anos é mais psíquica (alterações de humor e de comportamento).
É possível passar por essa fase sem perder emprego, marido, amigos?
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De acordo com a Dra. Mara Diegoli, sim. Aqui vão suas dicas:
– Autoconhecimento. Os hormônios mudam nosso humor? Mudam. Vamos, então, trabalhar com eles. A mulher já venceu tantos obstáculos que conseguirá vencer mais esse facilmente, desde que deseje.
– Marque no calendário. Ela sabe que a mudança dos hormônios vai alterar o seu humor, então anote quando isso acontece. Vamos supor que esteja marcada uma reunião com o chefe. Se comparecer na reunião e disser tudo o que tem vontade, e considerar que ele deve ouvir, com certeza vai perder o emprego, o que é justo porque não se pode falar tudo aquilo que se pensa. Filtrar as palavras ajuda a tornar o mundo melhor.
– Espere a TPM passar para tomar decisões importantes. Terminar o namoro pode ser uma ideia antiga, embora seja conveniente a TPM passar. Nesse caso, há até algumas dicas para os namorados. Evitem estar juntos, discutir assuntos sérios ou tomar decisões definitivas nesses dias. Se a esposa está na fase de TPM e começou a ficar brava, o marido pode pegar os filhos para passear a fim de não entrar em atrito com ela, afastando a possibilidade de agressões mútuas que só agravam a situação. A TPM pode passar, mas o que foi dito ou feito jamais será esquecido.
– Autocontrole. É fundamental que a mulher aprenda a se controlar. Se estiver diante de uma situação difícil, procure adiar a solução para depois que menstruar, quando seu comportamento será diferente. Numa reunião de trabalho, é mais profissional dizer ao chefe que vai analisar um assunto polêmico e depois mandar um relatório por escrito, do que ter um destempero e sofrer reprimendas.
– Praticar atividade física. Exercícios físicos ajudam muito, reduz a tensão, a depressão e melhora a autoestima. Está alterada, vá passear no quarteirão, fazer ginástica ou ordenar um armário, que se sentirá melhor.
– Existe remédio. Ele é focado, basicamente, nos sintomas e, para cada mulher, um tratamento.
Conclusão: TPM não tem cura,tem tratamento, portanto, a mulher precisa se conhecer e se controlar nesse período, compenetrando-se que ninguém merece morar ou trabalhar com uma serial killer. Dica para quem não sabe o que é ser mulher: “Nunca subestime alguém que sangra todo mês e não morre”. (foto acima: www.fatosdesconhecidos.com.br)
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora