Qual o potencial turístico de Jundiaí? A cidade conhecida como “Terra da Uva” há décadas registra esta classificação e traz visitantes de lugares distantes. A uva e o morango estão consagrados há tempos numa cidade industrial e mais recentemente polo de tecnológico, de negócios. Este é um bom momento para a reflexão sobre o turismo na cidade.

Falar em turismo é algo complexo, pois envolve vocação. As indústrias e este segmento agrícola estão na essência jundiaiense, portanto, vocação. Portanto, como trabalhar algo novo na questão turismo? Muito se fala por exemplo na Serra do Japi, mas o que esta serra proporciona aos visitantes diante de um cenário de décadas no vaivém entre liberar, proibir, preservar (como preservar), turismo sustentável e suporte a este turismo? Autoridades sempre enalteceram este patrimônio natural mas nunca chegaram a um acordo com os grupos, entidades, população e empresários na questão preservação e recepção de turistas e dos próprios moradores da cidade. Não existe um portal da serra para controle de visitas, mas existe (eventualmente) a proibição. Não existe um estudo para se delimitar as áreas que podem e devem receber visitantes, como recebê-los, regras e como ser feita a fiscalização (que deveria ser integrada entre os municípios, outra questão que não foi trabalhada em todos estes anos pós-criação da AUJ). Não existe suporte e atrativo algum (ciclovia, posto turístico com guias, segurança, iluminação adequada onde se faça necessária…) Enfim, na questão ambiental (que também não se resume a Serra do Japi), o assunto mal engatinha.

Outro ponto forte da cidade e que sobrevive aos trancos e barrancos é o ferroviário. Jundiaí foi um dos maiores entroncamentos ferroviários do interior e teve a sorte de preservar galpões, maquinário e acervo. Temos o Museu Ferroviário, que traz pessoas de todo o país (eu mesmo acompanhei um amigo do Paraná que veio para cá somente para pesquisar sobre a ferrovia). No entanto todo o conjunto ferroviário da cidade agoniza diante de um impasse interminável entre estado e prefeitura. Temos pessoas engajadas na preservação da memória ferroviária há anos, lutando por melhorias que nunca chegam, que vão esbarrando em burocracias e falta de diálogo entre aqueles que tem a faca e o queijo nas mãos. Mais uma vez, entra aqui um obstáculo quase intransponível pelos políticos: o trabalho conjunto entre municípios, onde se esbarra com diferentes ideais partidários. A maior parte da riqueza ferroviária está concentrada no trecho entre Paranapiacaba e Campinas. Paranapiacaba, um distrito totalmente ferroviário e com riquíssimo material. De lá até a capital, onde está a célebre Estação da Luz e os galpões do Brás.

Seguindo para o interior, Jundiaí que conhecemos bem a situação, Louveira cuja estação está bem preservada, Vinhedo, cidade rica mas onde o patrimônio está esquecido (pouco tempo atrás foi incendiado um vagão de madeira próximo a estação), Valinhos onde a estação foi restaurada e Campinas, onde boa parte da estação está preservada e recebe atividades culturais. Tanto em Campinas como no ABC existem “marias-fumaças” que fortalecem o turismo. De São Paulo para Jundiaí aos finais de semana existe o trem que traz turistas para o “Circuito das Frutas”. Em suma, existe um trabalho turístico no quesito ferroviário totalmente tímido, que poderia ser alavancado se houvesse interesse em investir na área e vontade política para trabalhar regionalmente deixando de lado as picuinhas partidárias. Dá inclusive para unir ferrovia, setor agrícola e ambiental no turismo. Muitos jundiaienses sequer sabem da existência de um Horto Florestal na Avenida Navarro de Andrade, onde inclusive existe a parada da Estação do Horto. Todo mundo conhece o Parque da Cidade, mas não sabe que ali adiante existia a dupla Horto e Estação do Horto. Até a década de 90 existia uma linha de ônibus “Estação do Horto”, que com a abreviação no letreiro do ônibus, muitas pessoas entendiam “Estrada do Horto”, já que a estação nunca apareceu diante dos olhos da população desde que fora abandonada.

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E assim “pipocam” itens aqui e acolá por Jundiaí que se restaurados, recebendo a devida atenção do poder público, poderão futuramente formar um corredor turístico, não só para visitantes como para os moradores da cidade. Quem sabe que existe um bosque no Jardim Messina? Muitos não sabem de sua existência, bem porque sequer serve aos moradores do bairro. Passa parte do tempo fechado e quando aberto, não oferece atividades. Como apregoar o turismo jundiaiense com tantas pendências há décadas? Fica a reflexão. E a atenção da população para com a vinda de recursos para a área.

 

REFLEXÃOGEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.