Não sou adepto das teorias de conspiração, nem de teses rocambolescas. Sou adepto da verdade, que muitas vezes é medíocre e não inspira filmes de Hollywood, nem séries e documentários de TV.

É claro que a queda do avião em Paraty, matando o Ministro Teori Zavascki, ninguém menos do que o responsável pela condução da Lava Jato no Supremo, só poderia gerar dezenas de teorias conspiratórias. Serão muitas, que em alguns meses levarão a livros oportunistas, escritos por espertalhões em busca de dinheiro fácil, todos conduzindo a tramas no estilo FBI, CIA ou KGB; de Temer a Lula, da extrema direita à extrema esquerda, do PT ao PMDB e ao PSDB, todos terão seus motivos para terem “dado um jeito” em Teori. E o acidente, para dar fim à Lava Jato. Isso vai acontecer – e por décadas.

Mas é preciso ser racional. Havia condições climáticas difíceis em Paraty, em um vôo com aproximação visual, sem instrumentos, com chuva, vento e, principalmente, nuvens baixas, que podem ter feito o piloto perder a orientação espacial e, após arremeter, perder o controle do avião, fazendo-o estolar (perda de sustentação) e cair no mar. Ou mesmo, após arremeter, no momento da manobra em curva ter sido vítima de “windshear”, ou tesoura de vento, comum na região e que pode fazer aviões muito maiores do que um king-air perderem sua estabilidade gravemente.

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O ser humano não se conforma com o simples, com o óbvio, com o que é ordinário, comum. Precisa sempre do anômalo, do extraordinário, das sociedades secretas ao estilo dos Templários, da busca intermitente do Santo Graal. Fica difícil ao homem médio aceitar que um figurão da República, presidindo o mais rumoroso caso judiciário do país, possa ter tido um fim medíocre, vítima ou de um erro humano ou das condições climáticas (ou de ambos). Sempre irá buscar a Máfia, Dan Brown, o Sionismo internacional etc., como responsáveis por qualquer coisa que à primeira vista pareça ser um simples acidente. Para mim, que gosto desses romances mas não os vivo, foi só isso, aparentemente: um lamentável acidente; um avião que não foi derrubado, mas que caiu. Simples assim.

LEVADA 2CLÁUDIO ANTONIO SOARES LEVADA
Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mestre/USP e Doutor/PUCSP em Direito Civil. Professor e Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Unianchieta. Professor da Pós-Graduação da PUCSP em Direito Civil. Diretor Jurídico da Associação Paulista dos Magistrados.