Semana entrecortada por paradas, em função de jogos da Seleção Brasileira de Futebol, mas intensa enquanto momento de acontecimentos políticos e sociais. Nem tudo saiu como estava previsto, mas as coisas caminham com a mesma agressividade que iniciou: muita alteração para ser vivida pelo povo. Realmente é comprovado que enquanto gritamos GOOOLLLL, a politicalha age e apronta ciladas e surpresas inesperadas, surpreendentes e danosas, como as que tivemos o desprazer de ler e ouvir, nestes dias de anestesia coletiva. O fato é que a vida continua. Meio torta, meio estranha. Mas continua…
Muitos dizem ser fakenews, mas são fatos estampados nos grandes jornais e grandes canais de notícias, o que nos permite dizer que as tais fakes são igualmente veiculadas pelos órgãos de notícias: a pensão de filhos de senadores no valor surreal de sete mil reais, para que estudem. Nada surpreendente se entendermos que apenas filhos de senadores estudam e que apenas para estes o custo destes estudos estão severamente altos.
Mas, no momento da divulgação desta notícia, ninguém se manifestou. Nada desviou a atenção focada na necessidade de sonhar com a bola rolando para dentro do gol. Este fato foi divulgado mas não causou. Realmente é comprovado que enquanto gritamos GOOOLLLL, a politicalha age e apronta ciladas e surpresas inesperadas, surpreendentes e danosas.
Haverá o dia em que a população exigirá que o número de senadores seja um terço do que temos hoje? Haverá um dia em que a população terá pulso para resolver questões que a atingem direta e cruelmente? Estaremos um dia preparados para lidar com tal democracia ou seremos sempre inocentes úteis ou laranjas?
Tangenciando e arranhando a popularidade da Seleção Brasileira de Futebol, numa Copa Mundial cheia de surpresas, vivemos ainda sob impacto dos garotos da distante Tailândia, que se encontram acuados e sem muitas perspectivas, numa caverna quase totalmente submersa. Todos os esforços estão sendo feitos, equipes internacionais de pesquisadores e mergulhadores se deslocam na perspectiva de ajudar no salvamento do grupo, mas as coisas apenas se complicam com a chegada das chuvas, neste final de semana.
Os riscos no resgate são inúmeros e as tentativas estão sendo tomadas com cautela, para evitar danos maiores. Volta-se a comunicar por meio de cartas, como se fazia com frequência no século passado. E as cartas são por demais consoladoras: as crianças pedem determinados pratos, para pós-salvamento.
Relatam suas saudades, seus sonhos e seus desejos. O professor se desculpa pelo ocorrido, as famílias se solidarizam com sua postura cautelosa e atenta, na preservação da vida dos pequenos tailandeses. O mundo se une em orações diante deste acontecimento, que brutalmente nos chama a uma realidade possível à todos, em situações semelhantes.
Que as tecnologias consigam ser favoravelmente utilizadas na salvação destas crianças que só pensavam sem se divertir e curtir seus devaneios. Que a solidariedade seja potencialmente forte para garantir sucessos, nas tentativas de socorro que se aplicam junto aos jovens sitiados.
É gratificante verificar que nossos repórteres esportivos estejam atentos às evoluções nas modalidades em disputa. Comento isso em função das belas narrações e bons comentários escritos, mostrados e falados: o valor dado aos jogadores belgas e a possibilidade de reconhecer que nossos jogadores lutaram, faz com que possamos reconhecer a força do adversário, com dignidade.
É muito importante enaltecer os valores e as diferentes posturas dos atletas, diante das dificuldades a que todos estão submetidos, em eventos de grande audiência. Assim, ao reconhecer o valor da equipe belga e ao apontar o desempenho dos atletas brasileiros, sem exaltação, mas com veracidade, percebemos que o cenário profissional mudou.
Não ressaltar apenas a imprevisibilidade, mas reconhecer um trabalho sistemático, sério e comprometido de um grupo jovem, apenas favorece a voltar os olhos para nossos atletas e repensar na preparação existente. A Alemanha, a Inglaterra e a Bélgica sinalizam que um projeto de longo prazo se mostra como um caminho a ser seguido. Com um técnico capaz e sábio, como o nosso, líder e competente, basta termos um projeto exequível a longo prazo que os resultados se mostrarão de outra forma.
Claro que não deixarei de falar do ainda real e existente despreparo emocional. Este ingrediente parece ser desprezado e relegado a um plano distante daquele apresentado no cenário internacional. Muito boa as explicações dos atletas belgas e ingleses sobre a ansiedade a a forma como trabalham com ela. Enquanto isso, os nossos brazucas sofrem e não conseguem deslanchar.
Mas enfrentamos com dignidade os grandes adversários. Parabéns aos dois grupos: venceu o superior, naquele evento. Isso é fair-play.
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Ao passar reto diante dos jornalistas que o aguardavam na zona mista em Kazan, o camisa 10 da seleção brasileira reforça o estereótipo do garoto mimado. Fone nos ouvidos e boca fechada: além de exibir seu melhor futebol, faltou a Neymar ser capaz de dar uma declaração madura sobre seu desempenho. Estas palavras foram editadas por um comentarista europeu e cabe-nos analisar e avaliar o teor delas.
Como disse acima, sem um bom preparo emocional, não há habilidade motora e mapas táticos que resistam, conforme comprovam as Ciências do Esportes; não seremos nós, os brasileiros, os únicos a não entender. Já estão quase desenhando, para que possamos compreender este fato.
Isso é lamentável.
Movimento grevista tomando corpo e fazendo barulho nas universidades estaduais paulistas. Nem o período de férias escolares serviram de alento para os que estão na luta por melhorias e mudanças na politica salarial. Ao contrário, fomentam-se, ainda mais, as possibilidades de reuniões, chamadas para assembleias, movimentações de setores do funcionalismo, sempre buscando ampliar conhecimentos e fatos, que culminarão num movimento mais firme e radical, no inicio de agosto.
Lamentável que as coisas se compliquem perto das eleições; entretanto não se pode acreditar que tudo esteja dormindo num sereno berço azul, uma vez que este setor do funcionalismo está convivendo com a precariedade da máquina administrativa, tendo cortadas as bolsas de incentivo à pesquisa e os laboratórios estejam sobrevivendo precariamente.
Atualmente, ser pesquisador no estado de São Paulo é um ato de insanidade, em especial porque não se tem amparo, ajuda e motivação. Talvez, nestas férias, consigamos refletir sobre um tipo de protesto que atinja menos negativamente nossos alunos e que reflita aquilo pelo qual estamos passando: descaso e destrato.
É um ato político ter uma visão e proposta para tal momento. As vezes, por mais divergente que seja, parece ser um ato de fé, tamanho desespero em que os docentes universitários se encontram. Mas, politicamente teremos uma saída para este desmanche que quer nos envolver. (Foto: rioparnaiba.com)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
