Na rua Santo Ferretti, Ponte São João, em Jundiaí, tem uma oficina que conserta equipamentos que há três ou quatro décadas eram sensação e hoje não passam de peças de museu. Alguns, pelo estado, são sucata. Mas, a impossibilidade de colocá-los para funcionar, acaba ajudando outros aparelhos a voltarem aos velhos tempos. A oficina pertence a Antônio Carlos Trevisan(foto), 55 anos, que entre tudo que conserta, afirma que os videocassetes são os mais raros e também os mais complicados. O Jundiaí Agora entrevistou Trevisan:

O que o senhor conserta além de videocassetes?

Conserto qualquer tipo de equipamento eletrônico. Não mexo com informática, celular e som automotivo. Sou especialista em videocassetes, receivers, aparelhos de rádio antigos a válvula, toca-discos, amplificadores, três em um, televisores de tubo, vitrolas, entre outros.

Será que o senhor é o último, em Jundiaí, que dá assistência para videocassetes?

Não sei se sou o último. Mas acho que existem poucos profissionais que consertem este tipo de equipamento.

Sempre foi dono de oficina?

Nunca tinha sido dono de oficina. Tenho empresas abertas em outros segmentos. Minha história com consertos começa com oito anos. Ganhei um rádio quebrado da minha avó. Era a válvula. Um dia, de tanto mexer, começou a funcionar de novo. Aquilo me encantou. Descobri que era o que queria fazer. Com 10, 11 anos, comecei a comprar revistas sobre eletrônica na banca de jornais. Eu me tornei um autodidata. Já adulto, precisando trabalhar, comecei num banco. Depois fui representante comercial. No final dos anos 80, em meio à crise econômica, decidi entrar na faculdade de Engenharia Eletrônica. Na área, comecei como editor de uma revista de eletrônica. Depois trabalhei numa indústria automotiva que fazia sensores. Trabalhei com alarmes. Esta empresa acabou migrando para a área de áudio profissional. Foi maravilhoso. Passamos a fabricar amplificadores, guitarras, pedais. Passei pela área de radiodifusão, fazia projetos e viajei muito para instalar torres para televisão. Mesmo trabalhando em outros lugares, fazia manutenção de aparelhos de parentes e amigos em casa. Por fim, passei me dedicar totalmente à oficina.

O auge dos videocassetes ocorreu entre os anos 80 e 90. O senhor já atuava neste ramo?

Nesta época eu não atuava na área de conserto. Mexia nos equipamentos como hobbie.

Quais eram os problemas mais comuns?

As fitas enroscavam muito. Os cabeçotes sujavam. A gente tinha de limpar…

Hoje o senhor ainda presta este serviço. Conserta muitos videocassetes?

São poucos consertos. Infelizmente, poucas pessoas ainda têm estes aparelhos magníficos. Creio que conserto um por semana, quatro no mês. Em comparação com aparelhos de som e TVs, a diferença é muito grande. Chega a ser de 1 para 20 ou 1 para 30 as vezes…

Qual é o perfil da pessoa que em pleno ano 2020 leva um videocassete para consertar?

Pessoas acima de 35 anos ou mesmo idosos. Tem também quem gosta do estilo vintage. Nunca um jovem apareceu pedindo para consertar um videocassete…

Onde encontra as peças?

A parte de eletrônica se consegue componentes sem muita dificuldade. Procuramos em outros aparelhos, vamos na rua Santa Efigênia, em São Paulo, ou importamos. A parte mecânica já é mais complicada. É o nosso calcanhar de Aquiles. O videocassete é totalmente mecânico. A parte eletrônica dele é comum. O problema está na parte mecânica. As peças são muito difíceis de achar. Tem aparelho que já chegou a ficar um ano aqui por falta de peças. Você tem que se virar, até fazer uma pecinha ou tirar de outro. Por isto mantenho vários videocassetes aqui, para aproveitar alguma coisa em outros que chegam para arrumar. Tem outro aspecto: estes equipamentos são verdadeiros tanques de guerra, sempre foram muito difíceis de quebrar.

Qual o preço médio de um conserto?

Varia muito. Uma limpeza, uma fita enroscada, podem custar R$ 40 ou R$ 50. Depende do estrago feito. Alguns consertos podem ficar acima de R$ 100.

Existe um ‘jeitinho’ para fazer todos voltarem a funcionar ou há casos de perda total? Ou melhor: o que dá para consertar e o que não dá?

É preciso ter muita paciência, determinação e perseverança. Chegam aqui alguns casos complicados. Geralmente há solução. Perda total é quando não encontramos a peça. Mas pra quase tudo se dá um jeitinho…

Qual é a reação do cliente quando o senhor diz que a vida útil do aparelho acabou, que não há mais nada para fazer?

Depende. Tem aqueles que dizem que vão jogar o aparelho fora. Outros deixam o videocassete na oficina. Tem os que imploram. Dizem que pagam qualquer preço pelo conserto. São pessoas que têm uma grande ligação com o equipamento. Isto também acontece com os aparelhos de som. Já teve casos de eu cobrar pelo conserto praticamente o valor do aparelho. Mas o cliente queria de qualquer jeito.

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O que o senhor acha do avanço tecnológico, de poder locar um filme sem sair de casa? Há o conforto. Mas naquela época havia o romantismo de ir à locadora gravar um programa…

Hoje está tudo diferente daquela época boa dos videocassetes, das fitas. Atualmente há o lado da praticidade. Mas, quem é daquele tempo sabe do romantismo envolvendo estes aparelhos, a ida à locadora com a esposa, os filhos, na sexta ou sábado. E a família saia com aquela pilha de filmes. Ou então você programava o equipamento para gravar o capítulo da novela porque tinha de sair naquele horário. Pra mim, que vivi aquele período, isto não tem preço. Hoje tem internet, celular, aplicativos, você tem tudo muito fácil nas mãos.

O senhor ainda usa videocassete em sua casa?

Sim. Tenho vários. Sou vintageiro. Tem aparelhos de som, televisores antigos. Videocassetes devo ter uns 10. Tenho e gosto de ver minhas fitas. Muitas se estragaram com o tempo. Por outro lado é muito legal pegar a caixinha do filme, com a sinopse do filme, as fotos dos atores.

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