A franco-brasileira Virginie Boutaud foi uma das musas dos anos 80. E olha que naquela época nem se usava esta expressão. Ela era a vocalista da banda Metrô que emplacou vários sucessos. Bit Acelerado tornou-se um clássico da época e agradava adultos e crianças. O grupo ficou nas paradas das rádios com Tititi, Johnny Love, Tudo Pode Mudar e Sândalo de Dandi. Lembra? A entrevista com a cantora para celebrar as quatro décadas que nos separam dos inesquecíveis anos 80:

Você é francesa? Como virou cantora de uma banda que estourou nos anos 80?

Nasci em São Paulo e vim de contrabando na barriga de minha mãe grávida de sete meses, em 1963. Meus pais, franceses, fazem parte dos imigrantes que ajudaram a construir o Brasil. Conheci a turma do Metrô no Lycée Pasteur, escola franco-brasileira de Sampa. Nosso prazer era fazer música e nos aventurar nas noites, praias e nos palcos juntos.

Como o Metrô se formou? 

Éramos esta turma de amigos. A banda A Gota Suspensa foi mixando integrantes. Passaram por ela vários amigos e artistas incríveis como Kuky Stolarsky e Márcia de Montserah que canta muito. Afinidade pessoal e musical eram os parâmetros de escolhas, né?

Muitas dificuldades até o sucesso?

Ah, os pais que reclamavam do barulho dos ensaios, apesar de nos acolherem de forma generosa. Era uma prova para as famílias todas assumirem este bando de adolescentes famintos, hahaha. No mais íamos juntando nossa graninha para ir comprando as coisas, imprimindo nossas filipetas, pintando camisetas, fazendo contatos, era prazeroso.

Acha que a sua beleza ajudou de alguma forma, principalmente numa época em que os videoclipes estavam começando?

Sim, claro que ajudou. Mas acho que foi esta mistura cultural que tornou o personagem Virginie interessante: abriu portas, oportunidades e sorrisos.

Vocês participaram de filmes também? Quais e como foi esta experiência?

Participamos nas filmagens do longa Areias Escaladantes, no Rio de janeiro, filmado no cais, à noite, sensações de estranhamento no começo de nosso sucesso, um filme instigante. Rock Estrela, de Lael Rodrigues, com o querido Leo Jaime: um sucesso que ajudou a impulsionar Johnny Love, um de nossos clipes mais vistos até hoje. Carlota Joaquina, de Carla Camurati, um luxo de produção, filmagem no estonteante Jardim Botânico, com atores incríveis. Além disto beijei Marcos Palmeira, o galã da época, e deixei enciumadas minhas amigas e amigos, risos.

Havia rivalidade com o Kid Abelha?

Nenhuma no que me diz respeito. Talvez os empresários? Mas nem isto: o Brasil é vasto e o mercado de shows estava espetacular.

O Metrô foi do Beat Acelerado, que tinha uma pegada que agradava muito o público infantil, passando pela romântica Johnny Love, até chegar em Sândalo de Dândi, com letra mais complexa. Como foi esta evolução para vocês? Tinham consciência disto ou foi intuitivo?

Fazíamos os sons que nos agradavam e fomos encontrando parceiros pelas andanças. Beat Acelerado era uma bossa nova do lindo compositor e amigo querido Vicente França, falecido muito recentemente. Olhar também é parceria dele com Alec e Yann. Joe escreveu com Ronaldo Santos o mais regravado de nossos sucessos do Metrô, a sempre atual Tudo pode Mudar. A letra de Sândalo de Dândi é preciosa, é de Tavinho Paes. Assim íamos dando nossas voltas no mundo(Foto acima: Maury Granado).

Quantos anos ficaram na estrada?

Uns oito anos.

Por que o Metrô acabou?

Deu, né? A vida é assim, chega uma hora as pressões e desejos vão fazendo as mudanças acontecerem. Nos desgastamos com uma mudança radical de vida devida ao grande sucesso. Acho que isto e os urubus e ciumentos em volta, “sanguesugando” e envenenando. La vie…

Hoje, quando olha para trás, como analisa os anos 80?

So boas lembranças nas mentes do publico , alegrias.


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Para a economia foi a década perdida. E para a música?

Você sabe, né? Uma virada sonora impactante, ídolos preciosos, Prince, Madonna, Roxy music, Michael Jackson, Arrigo, Itamar, Titãs, Ira, Marina, Pepeu, Paralamas, Legião… Nossos amigos brasileiros tão incrivelmente diversos. Hits de estilos muito variados. Foi uma década divertida, leve e profunda.

Virginie, você ouve rádio atualmente? Já percebeu que de 5 músicas tocadas, pelo menos três são dos anos 80(sejam internacionais ou nacionais). Aquela década será sempre ‘infindável’? Por quê?

Ouço sim. Bastante, só que aqui na França, nos estilos mais variados, o mundo inteiro nas ondas. Que bom que as músicas dos anos 80 continuem emocionando pessoas de várias gerações.

Afinal, o que pode explicar o surgimento de tantas músicas, bandas, cantores de qualidade num espaço de tempo tão curto?

No Brasil, talvez a chegada de instrumentos como bons teclados, guitarras, pedais, amplificadores, microfones, sintetizadores é uma delas, como a abertura , intercâmbio cultural. Só assim o mundo avança, certo? Técnicos e produtores muito feras como Liminha ou Maluly, por exemplo. E música era muita grana para as gravadoras, rádios, promotores naquela época.

Qual o fato mais importante que Virginie viveu nos anos 80?

O fim da ditadura.

Como é saber que fez parte de um dos movimentos mais importantes da música brasileira?

Me alegra fazer parte de alegrias, claro. Me permite guardar o contato com muitas pessoas e criar sempre novos amigos e contatos.

Poderia ter feito algo diferente naquela época? 

Sempre podemos fazer diferente. Suponho que fizemos o melhor que podíamos com o que tínhamos no momento. Talvez eu teria aconselhado a garota triste do final da banda para procurar ajuda e tratar o trauma, ficar em forma com coragem para ir logo viver a vida que é bela e sem medos.

E o hoje, Virginie?

Olha, sobre o agora, eu moro aqui perto de Toulouse. Estou feliz em anunciar que vamos, emfim, lançar o lindo Déjà Vu (produção independente) nas ondas no final deste mês, após um loooongo processo para readquirir os nosso direitos. Por outro lado estou compondo muito com parceiros que amo e admiro ao máximo, com Fernanda Takai, Edgard Escandurra, Tavinho Paes, Aline Rochedo Pachamama, Susy Paulla entre outros. Estou feliz fazendo mil coisas interessantes em minha vida e luto como posso a cada dia para que nosso mundo seja mais ameno e amável. Não votei nem votaria nunca em alguém como o atual presidente e seus valores inadmissíveis e faço questão de dizê-lo. Agradeço muito o interesse. Não tenho dado entrevistas, sabe? Mas esta foi com prazer! Bonjour et bisou…(Entrevista originalmente publicada em maio de 2019)


Virginie fez questão de passar os contatos dela, do Metrô e também dos novos parceiros. Seguem lá:

e-mail: grupo.metro.contato@gmail.com

Instagram da Virginie: virginie_b_m e Instagram do Metrô: metrooficialbrasil

Aline Rochedo Pachamama: https://www.instagram.com/alinerochedopachamama/?hl=pt

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