Vivências com GERALDO Cemenciato

O Geraldinho ou Gê, como era chamado por incontáveis amigos, foi embora sem a possibilidade de adeus. Partiu em terra distante, para onde viajara com a esposa e o neto muito queridos, a fim de, creio eu, desvendar lugares novos. A propósito, Geraldo Cemenciato era um colecionador de paisagens diversas e um observador do modo de ser dos indivíduos de acordo com sua cultura. Ouvi relatos e vi fotos de algumas de suas jornadas, dentre elas a que fez pelo sertão do nordeste, sem roteiro de agência de turismo. Contou-me, também, sobre uma Igreja subterrânea, que visitou e, se não me engano, é a Catedral de Sal de Zipaquirá, a 50 quilômetros de Bogotá, talhada pelos próprios mineradores, com a Via-Crúcis, por devoção a Jesus Cristo e a Nossa Senhora do Rosário de Guasá. Dos lugares santos, trazia-me alguma coisa e, para a mamãe, um terço.

Arquiteto competente por profissão e mediador singular em conflitos, o Gê entendia, com sensibilidade, o traçado de obras que melhor pudessem acolher as pessoas. Ocupando altos cargos na administração pública, jamais perdeu a simplicidade e a mansidão que lhe eram próprias. Do tempo em que convivemos mais, na Prefeitura, em meados da década de noventa – era o secretário de obras -, em nenhum momento o vi perder a paciência com algum problema ou alguma criatura. Dentre suas virtudes, estava a de, quando sabia que alguma coisa seria acréscimo, para o trabalho de alguém, ia ao encontro dele ou dela. Sei isso por experiência. E como a Rute e ele se completavam nessa maneira solidária e fraterna!

 

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Ao falar da família, seus olhos se iluminavam. Era parceiro nas alegrias e nas dores. Nos momentos tensos, acendia a chama da esperança.
Desapegado de pedestais, o Geraldinho não usurpava o espaço das pessoas e não fazia delas degraus; não ocupava espaços indevidos, era imenso sim, mas em alma e coração. Tê-lo como amigo foi um privilégio. Fará falta. O mundo se tornou menor em generosidade sem ele. O Céu, por certo, o recebeu com abraços e aplausos.

Meus sentimentos e minhas preces à Rute, às filhas Paola e Thaís, ao neto Vinícius e a todos os familiares!

GERALDOMARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social.