Vivências de e com IDOSOS

Diferenciadas as vivências de e com idosos, embora exista sempre um ponto em comum. As vivências dos idosos dependem do que existe ao redor, ou seja, a forma com que são acolhidos e aquilo que representam para quem convive ou se depara com eles.

Cada um possui a sua história e ignorar aquilo que um idoso, quando mais jovem representou na vida de sua família ou da comunidade, é perverso. Vivemos um tempo entre dois polos: utilidade e descarte. Infelizmente, em inúmeras situações também é assim, ao não servir mais, rejeita-se, ignora-se ou os cuidados são transferidos. Os laços, alimentados pelo idoso, ao longo das décadas, ao perceberem rompidos, mesmo que silenciem os gritos de dores, sem dúvida provocam uma erosão interior que sangra.

Em meio a outros fatos, percebe-se, por exemplo, no corre-corre do cotidiano, a irritação ao se ter os passos acelerados interrompidos por alguém com maior dificuldade de equilíbrio. O idoso detém fatos para contar – muitas vezes repetidos -, conclusões com sabedoria para partilhar, esquecimentos que sinalizam que o tempo se esvai – para ele, para mim e para você -, e necessidades que supriu para os filhos em sua infância. O idoso desconhecido, com quem se esbarra nas ruas e em outros locais, faz parte da construção de sua terra. Embora os ossos, a visão, a memória, a audição, os movimentos possam estar enfraquecidos, o coração continua batendo e a alma, que Deus soprou, permanece acesa e nela reflete as trevas dos que os desrespeitam. Tornam-se tatuagens sinistras.

Diante de um idoso, mais próximo ou anônimo, qual será a marca que deixamos? Damos a vez, sorrimos, somos pacientes, desconsideramos ou rangemos os dentes?

Vivências com idosos são intensas e fantásticas, quando alimentadas pela fé em Deus, ternura e gratidão. Um se torna cuidador do outro. O mais jovem com suas possibilidades físicas e de lucidez e o mais idoso com sua experiência de vida. Para isso, no entanto, é preciso, ao longo dos dias, desde a infância, a prática da renúncia.

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Quem exigiu ser mimado por seu entorno e se sente como o centro do universo, motivo de aplausos, com direitos sempre e dever algum que lhe retarde a caminhada e os prazeres, desconhecerá, agora, o quanto a coexistência com os idosos oferece um sentido profundo para a existência humana, mas experimentará mais tarde, infelizmente, na amargura, a realidade dos anciãos que desprezou. (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.