Vivências e convivências LITERÁRIAS: Carlos Heitor Cony

Vivências e convivências literárias acontecem, mesmo que não se conheça pessoalmente o escritor. Habitam-me diversos deles e delas. Algumas vezes, ressurgem em um fato novo ou em uma lembrança. É assim faz anos, como com Clarice Lispector, por exemplo, sobre a qual fiz meu TCC na faculdade, em especial a respeito do livro “Água Viva”. Foi ela que destacou: “Abro a janela e me sinto responsável pelo mundo”. Traduz-me em tantas coisas! Bem antes de Clarice, passei a me relacionar com Machado de Assis, por influência de meu pai e de um amigo dele, Sr. Hermelindo Scavone. Isso sem dizer das personagens infantis das histórias lidas e contadas por minha mãe. Meu pai e Sr. Hermelindo carregavam Machado de Assis em diferentes conversas e recordações de locais no Rio Janeiro. Como apreciava ouvi-los. No momento, Machado de Assis tem me retornado através de mensagens que recebo de meu amigo de alma com poesia e música: Fernando Diniz Marcondes, jundiaiense que reside em Salvador.

Senti muito a morte do escritor e jornalista Carlos Heitor Cony. Gostava demais, há décadas, de lê-lo. Era a primeira crônica que eu buscava, aos domingos, na Folha de São Paulo. Mesmo que a opinião dele sobre um determinado assunto não fosse a minha, lia até o fim. É preciso conviver com conceitos diversos. Sua escrita era perfeita, sua inteligência brilhante e sua memória surpreendente. Incrível como ele costurava, em seus textos, filosofia, história, mitologia, passado, presente… E comunicava-se, igualmente, muito bem com crianças e adolescentes. “O Mistério das Aranhas Verdes”, li mais de uma vez.

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Existia, também, o Cony do lirismo e do amor à Mila, uma de suas Setters, a cachorrinha que fez ninho em seu coração. Escreveu inúmeras vezes sobre ela na “Gazeta do Povo”. Fantástica a colocação dele sobre a cachorrinha, no dia em que ele perdeu o pai: “Naquela noite não pulou, nem olhou meus olhos. Cabeça baixa, rabo entre as pernas, ela sabia. Não avisara a ninguém, mas a ela precisava dizer. Encostou-se aos meus joelhos, cúmplice e solidária. E ela, que do mundo lá fora esperava um pai, do mundo lá fora recolheu um órfão”. E sua crônica, na morte de Mila, encerra-se dessa forma: “Até o último momento, olhou para mim, me escolhendo e me aceitando. Levei-a, em meus braços, apoiada em meu peito. Apertei-a com força, sabendo que ela seria maior do que a saudade”.

Cony permanecerá como lição de coerência e saber literário na releitura de seus textos. (Foto acima: www.topmidianews.com.br)


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho.