Há mais de 30 anos, Celso Guerino Lêdra(55) trabalha como técnico em eletrônica. Ele conserta equipamentos de áudio e vídeo. Literalmente traz à vida aparelhos de outras eras, dá voz e imagens para eles novamente. Durante estas décadas, ele acompanhou de perto a evolução tecnológica. Do rádio à válvula até o simples clique para baixar uma música. “Estou sempre me atualizando para continuar no ramo”, explica ele. Vez em sempre aparecem aparelhos que marcaram gerações. Os famosos 3 em 1, por exemplo. Quem nunca teve um toca-discos, rádio e toca-fitas num só? E quem se desfez sente saudade e até arrependimento. Ainda mais porque os LPs estão voltando.
Guerino afirma que o conserto de aparelhos antigos não são raros. “Eles ainda aparecem na bancada. Os 3 em 1, toca-discos, videos-cassetes, rádio-relógios, tape decks sempre estão aparecendo. Eles ainda vivem! E quando estão “doentes”, procuro dar uma sobrevida a eles”.
O técnico lembra que na década de 1980 foram vendidos centenas de milhares de aparelhos e que é verdadeira aquela história de que coisas feitas antigamente eram melhores. “Uma coisa pode ter certeza: os aparelhos mais antigos, por incrível que pareça, ainda têm conserto. Não creio que o mesmo se aplica para os mais modernos”, explica.
Quarenta anos nos separam dos anos 1980. E a pergunta é inevitável: como encontram peças para tais raridades? Este é um problema. “Como apresentam desgaste muito grande é impossível recuperá-las. São materiais difíceis de achar. Muitas vezes retiramos de um outro aparelho, um doador. Fazemos isto com motores, solenoides, peças mecânicas, chaves manuais específicas, potenciômetros. Outro problema que o técnico enfrenta são os gabinete, que antigamente eram feitos de madeira e hoje muitos estão esfarelando. Também tem os de plásticos que estão ressecados e quebram com facilidade. Nesses casos o serviço é de restauração”, diz ele.
Nostalgia na hora do trabalho só por parte dos clientes. “Eles não medem esforços para consertar. Custe o que custar”, brinca Guerino. Uma peça pequena e fundamental num toca-discos por exemplo, a agulha, é achada com certa facilidade segundo o profissional. “Os preços variam entre R$ 20 e R$ 300.
Depois do conserto, os equipamentos precisam ficar um bom tempo em teste. Isto é necessário para que a rotação dos motores seja estabilizada, as correias se ajustem. “E assim monitoramos o aparecimento de novos problemas”, comenta.
Guerino confessa ter saudade de um aparelho em especial: o DVD. Ele gostava de ir à locadora toda sexta-feira, escolher filmes e depois assistir ao filme numa TV de tubo de 20 polegadas. “Bons tempos! Gosto da modernidade. Depois de certa idade, não queremos mais dificuldades de recepção, interferências, mal contato, chiados, etc. Hoje assistimos TV de 47 polegadas, com imagem impecável, ouvimos no celular qualquer rádio do mundo sem interferências, alugamos filmes sem sair de casa. A evolução tecnológica nos trouxe muito conforto e praticidade. Não acredito que conseguiria mais usar aquelas quinquilharias de outrora. Mas é legal, de vez em quando, rever os “velhos amigos” e relembrar momentos.
Ele próprio guarda duas preciosidades. “Tenho um system Gradiente S95 funcionando bem. Não o utilizo muito. Tenho também uma vitrolinha Philips. Essa precisa de conserto e como diz o ditado: Na casa de ferreiro o espeto é de pau. Ainda não achei tempo pra ela”, brinca.
Hoje, com a volta do vinil, os LPs, equipamentos modernos estão sendo lançados com a cara de antigos toca-discos. “São mais compactos que os antigos. Além de tocarem os bolachões, também têm toca-fitas bem simples aliado ao CD, entrada USB, tuner AM/FM, alguns vêm até com bluetooth. Funcionam bem, alem de serem decorativos. Hoje os circuitos eletrônicos são compactos e bem versáteis possibilitando agregar várias fontes de áudio, o que facilita a fabricação desses aparelhos. Mas tenho duvidas quanto a aceitação por parte dos mais jovens”, conclui.
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