“O Sol por Testemunha” é o título de um filme famoso. Porém, “O Sol é Para Todos” me parece mais completo, objetivo e verdadeiro. Acredita-se, que a testemunha pode faltar, mentir, enganar ou dar um falso testemunho. Inspirando-me nas sugestões destes filmes e baseando-me em fatos reais, resolvi falar da Pedra do Sal, do porto do desembarque, hoje uma instituição cultural, entre as ruas Barão de Teffé e Sacadura Cabral, no centro do Rio de Janeiro, no antigo porto do Valongo.
Nas proximidades deste local ficava o Centro Cultural José Bonifácio, que ensinava culturas afro, capoeira, danças. Palestras que falavam de desigualdade e racismo e fazia eventos com coquetel temático e comidas típicas. Tudo isso na zona portuária, pois foi o lugar onde os negros escravizados desembarcavam. E as mulheres eram responsáveis pelo Candomblé matriarcal, onde Iemanjá era a rainha do mar. “O Espírito pairava sobre a face das águas…”, a representação da mãe, o balaio das Obás. A proteção!
Os morros do Livramento e da Providência, receberam os baiano. Foi criada a Pequena África, quando D. João VI, transferiu a capital para o Rio de Janeiro. As mulheres receberam um tabuleiro para o acarajé, abará e amalá. Eram as Ibassé(comida) e com o tempo instituíram a festa do samba na Lapa. A partir do conhecimento e do neologismo, das tias Ciata, Mariquinha e Josefa, foram também criados os “sambas de roda”, e as primeiras ideias de se viver em comunidade, formando uma espécie de “família” nova, àqueles a quem a maldade dos colonizadores tinha separado.
Depois surgiram as manifestações de grupo e surgiram os blocos, os ranchos e a primeira escola de samba. Alguns historiadores insistem em dizer que foi a do morro do Estácio. Contudo, remanescentes e descendentes da ancestralidade, afirmam e juram de pés juntos, que foi a ‘Vizinha Faladeira’, a primeira escola.
Foi criado também o largo João da Baiana, um primeiros homens a aprender com a tia a tocar pandeiro. Este instrumento era privilégio das mulheres, que nos rituais do Candomblé usavam um prato que esfregavam com uma faca e as mãos. Tia Josefa era pandeirista e passou esse conhecimento aos homens, que por incrível coincidência foram as primeiras ‘baianas’ a desfilarem. Justamente porque elas iam na frente. Os homens faziam uma espécie de segurança. Tudo muito bem organizado. Sempre há uma boa moral por trás de uma história. Não diga não para ela sem antes conhecê-la.
Para os homens restou os trabalhos de serviços gerais na zona portuária e foi passado de pai para filho esta profissão. Os portuários, nas mais diversas modalidades, fizeram carreira e tem descendentes de quarta geração. Então, depois de escravizados, as primeiras ideias de trabalho e profissão para negros foram as de quituteiras para as mulheres e portuários para os homens, na capital federal, a cidade maravilhosa de natureza e de convivência cruel.
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O povo brasileiro é preconceituoso. Preconceito contra tudo: gordos, magros, muito altos, bonitos, feios, muito baixos, muito ricos, muito pobres, índios, judeus, japoneses, mulheres e negros. Já o racismo é unilateral, somente contra pessoas pretas e isso exclusivamente por conta da cor da pele. É estruturado e fundamentado. Aos negros resta só a resistência, sem violação do sentido de justiça, baixar a bola, elevar o moral. Autoestima é alto-astral. A vitória não virá por acidente!

LUIZ ALBERTO CARLOS
Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.
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