De Jundiaí, Mohamed é o primeiro das Américas a estudar em Abha

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Mohamed Fatah Salah Rasherashe, de 23 anos, nasceu e teve vários empregos em Jundiaí. Até que decidiu fazer o curso de jornalismo em Abha, no sul da Arábia Saudita. Antes, nenhuma pessoa das Américas tinha estudado nesta universidade. Depois de formado, Mohamed pretende espalhar a cultura de cada país árabe pelo mundo. O Jundiaí Agora entrevistou o estudante:

Em quais bairros de Jundiaí viveu? Quais escolas cursou?

Nasci em Jundiaí e morei metade da minha vida em Várzea Paulista, no bairro Jardim América 4. A outra metade, na Vila Arens. Desde a quinta série estudei no Benedita Arruda e no primeiro ano mudei para o Paulo Mendes Silva.

Sua família está em Jundiaí?

A família do meu pai está na Líbia. A minha mãe é jundiaiense nata!

Costuma visitar os parentes com qual frequência?

Por conta do conflito presente na Líbia nunca consegui visitar minha família… No momento não existem aeroportos no país. Então entrar naquele pais, hoje, é impossível. Mas é um dos grandes sonhos da minha vida.

Chegou a trabalhar em Jundiaí, Mohamed ?

Desde os 15 anos trabalhei no varejo. Meu primeiro emprego foi como estoquista numa loja de calçados tradicional da Vila Arens, La Traviata. Depois trabalhei como vendedor no quiosque de camisetas Piticas, no Maxi Shopping. Por último antes de vir para Arábia, me tornei uma ‘pimenta’ oficial quando fui contratado como consultor de vendas na Chilli Beans, no Jundiaí Shopping. Esse foi o emprego em que fui mais feliz na minha vida. Fora isso sempre fazia extras temporários em outros lugares. Trabalhei numa loja de açaí, fui caixa e até trabalhei numa oficina de carros.

Há quanto tempo está vivendo na Arábia? Como foi recebido? Adaptou-se facilmente?

Cheguei aqui em 2020 e fiquei quase um ano. Depois voltei para o Brasil em férias. Porém, devido à pandemia fiquei mais tempo do que planejado, mas voltei novamente em 2021. Quanto à recepção não tenho palavras para descrever! Todos são muito gentis e receptivos. O fato de eu ser brasileiro e líbio causa muita curiosidade das pessoas a meu respeito. Afinal é uma mistura bem improvável.

Está sozinho ou na casa de amigos ou parentes?

Moro num complexo estudantil. No mesmo prédio temos quase 100 nacionalidades diferentes. Divido apartamento com um iemenita.

Mohamed, é verdade que você é o primeiro brasileiro a fazer este curso na Arábia?

Não só o primeiro brasileiro, mas o primeiro americano de todo o nosso continente a fazer qualquer curso aqui. Nunca ninguém das Américas do Norte, Central ou do Sul tinha colocado os pés neste lugar até que eu cheguei!

Como é viver essa experiência? Sentiu algum tipo de preconceito por parte dos outros estudantes?

Está sendo incrível! Estou aprendendo muito e vivendo muitas experiências que o Brasil jamais poderia me proporcionar. Ao mesmo tempo ficar longe da família é muito difícil. Às vezes a saudade é tão grande que é como se eu sentisse uma dor quase física dentro de mim. Mas, o fato de as pessoas serem gentis comigo, simplesmente pelo fato de eu ser brasileiro, ameniza esse sentimento. Eles amam os brasileiros. Então não sofro nenhum tipo de preconceito ou discriminação, muito pelo contrário. Eles amam futebol, e essa é a referência cultural que eles têm do Brasil.

Aliás, eles têm curiosidade sobre como o jornalismo é feito no Brasil?

Sentem curiosidade a respeito de tudo no Brasil, não só a respeito da profissão mas todos os aspectos da nossa cultura: nossa comida, nossa música, nossa língua, nossas paisagens. A natureza no Brasil é incomparável. Então quando falo que nosso no país temos seis biomas diferentes eles ficam realmente impressionados. Afinal, o Brasil é o único nesse aspecto.

E há diferenças entre o jornalismo praticado no Brasil e o da Arábia(por ser uma monarquia)?

Muitos aspectos sim, existem certos temas que não são abordados aqui, temas que podem ser ofensivo à monarquia e a religião islâmica. Basicamente ensinam técnicas de disseminação de informação…

Já atua na área?

O mais próximo disso é criação de conteúdo no meu Instagram. Mostro meu dia a dia e curiosidades sobre a cultura árabe e islâmica.

Quando se formará?

Se tudo der certo, em três anos.

Quais seus projetos? Trabalhar num jornal ou televisão daí? Ou voltar para o Brasil e criar um veículo de comunicação direcionado para árabes e descendentes?

Quero seguir criando conteúdo na internet sobre a cultura árabe e a cultura islâmica, visitar os países árabes e mostrar a diferença cultural entre eles. Crescendo como filho de estrangeiro e portador do nome Mohamed percebi logo cedo que os brasileiro pouco sabem sobre a cultura árabe e islâmica. E generalizam os países árabes como se fossem uma só coisa, quando na verdade são 22 países completamente diferentes culturalmente únicos, com alguns aspectos religiosos similares. Então tenho como meta mostrar a cultura árabe, islâmica, e a diferença cultural entre elas…

O que a Arábia tem que o Brasil não tem e vice-versa, Mohamed ?

Neve! Muitos acham que a Arábia se resume a deserto mas isso não é verdade. Durante o inverno em algumas regiões neva de verdade, e não estou falando de sincelos(pedaços de gelo suspensos das árvores ou dos beirais dos telhados, resultantes da congelação das neblinas). Por outro lado, aqui não temos rios nem cachoeiras como as que temos em abundância no Brasil, o país que mais tem água doce. Toda água que é consumida aqui vem do mar e passa pelo processo de dessalinização.

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Qual a reação quando você fala que é brasileiro?

A reação é sempre a mesma: surpresa e encanto absoluto. O amor deles pelo Brasil é real! Devemos muito disso ao futebol, mas também por ser uma nacionalidade que é raramente vista aqui. Entre meus amigos falo da minha cidade, mostro fotos e vídeos e digo com orgulho que dentre todas as cidades da região, Jundiaí é a única que existe uma mesquita e eles dizem que a cidade é muito bonita e que sou sortudo de ter morado tão perto de uma mesquita… e realmente sou.

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