Como era Jundiaí há 200 anos? Em 1822, ano da Proclamação da Independência, segundo o historiador Paulo Vicentini(foto ao lado), diretor do Museu Histórico e Cultural, por aqui nada lembraria o progresso econômico atual. Muito pelo contrário. A Vila de Jundiahy era paupérrima. Faltava de tudo. Por outro lado, os número de escravos era enorme e o território imenso. O que aconteceu no dia 7 de setembro daquele ano só chegou, oficialmente à Câmara Municipal, 35 dias depois. Saiba mais como era a Jundiaí nos tempos em que Dom Pedro I deu o grito da Independência lendo a entrevista com Vicentini:
Em 1822, Jundiaí ainda era uma vila. Como era naquela época?
Era um vila com dimensões territoriais bem diferentes das de hoje. Incluía Itatiba, Rocinha(Vinhedo, Louveira, Itupeva, Várzea, Campo Limpo até a região de Botujuru. Neste período, a vila é retratada pelos viajantes que aqui passavam como um local muito pobre, pouca gente habitando nos centros urbanos, casas mal requintadas, infraestrutura comprometida. As atas da Câmara retratam falta de dinheiro para tudo. Também descrevem dificuldades para muitas coisas como serviços públicos. A segurança pública era precária. A cadeia pública não tinha local definido. A própria Câmara não tinha uma sede fixa. Eram escolhidos locais para ela conforme os ventos sopravam financeiramente.
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Como era a vida na vila há 200 anos?
Era baseada em serviços de tropeiros. Jundiaí, podemos considerar agora, era um porto seco. As tropas que iam para Santos passavam por aqui. As que vinha do interior e iam para Sorocaba também paravam aqui. Era uma área com muitos serviços de cangalhas. Tudo era feito na base da montaria, inclusive a domação de animais. Existia um pequeno moinho na região onde hoje fica o Fórum. E também havia uma área para moer de café, onde hoje fica o Mosteiro de São Bento
Por aqui havia muitos escravos? Quais etnias indígenas viviam nestas terras?
Pela tese de Walter Morales não havia contato entre brancos e indígenas no início da interiorização européia. Quando os portugueses chegaram aqui, os nativos da região já tinham ido embora com medo. Obviamente que depois há presença de indígenas. Eram escravizados e comercializados na vila ou até outros estados como Bahia. Os livros de óbitos e casamentos daquela época mostram a presença de nativos aqui. Alguns documentos afirmam que alguns eram da etnia caiapós, outros eram pataxós. Mas não são grandes concentrações. Quanto aos negros é preciso lembrar que na segunda metade do século anterior existiam terras jesuítas na região de Itupeva. Eles foram expulsos e as terras distribuídas, assim como seus escravos. Também temos quilombos como o de Itupeva, Itatiba e Rocinha. Havia muitos focos de resistência contra a escravidão. Por outro lado, há 200 anos Jundiaí era uma ‘boca de sertão’. Há muitos relatos indiretos e diretos de problemas desta natureza. Isto é tanto por assassinatos fortuitos, individuais, como também em relação aos quilombos. Naquela época não havia um órgão de segurança local ou estadual. Existia a Guarda Nacional. Pessoas da própria vila formavam o contingente. Quando havia enfrentamento aos quilombos, a Câmara Municipal pagava pessoas de fora ou os próprios senhores de terras contratavam feitores para aniquilar as resistências.
De alguma forma Jundiaí se envolveu no processo da independência?
O processo de Independência como é contado hoje é uma versão carioca, paulista e mineira. São Paulo não era nem de longe a potência que é hoje. Aliás, o surto de crescimento econômico começaria somente em 1850, 1860. Há 200 anos não havia grandes manifestações pró-independência na nossa região. Só depois do fato consumado que há declarações a respeito. Não descarto a existência de documentos que mostrem o contrário. Acredito que a documentação da Câmara daquela época precisa ser melhor analisada. Por tudo que sabemos, a vila de Jundiaí era muito pobre e não tinha condições de se impor dentro de um processo político maior.
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É verdade que a notícia da Independência só chegou a Jundiaí 35 dias depois?
É verdade. Mas é preciso ter cuidado com esta informação. Quando se afirma que a notícia só chegou 35 dias depois não quer dizer que as pessoas não soubessem. O que chega mais de um mês depois é a documentação oficial na Câmara. Os moradores de Jundiaí sabiam, antes disso, da Proclamação. Além disto, a Independência nunca, sob nenhuma circunstância, privilegiou a tese da libertação ou fim da escravidão.
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