Estudante de Jundiaí vítima de ameaça e homofobia deixará MT

ameaça

Mesmo sem concluir o semestre no curso de Direito da União das Faculdades Católicas de Mato Grosso (Unifacc), Bruno(nome fictício) está decidido a deixar rapidamente aquele estado e voltar para São Paulo. Na semana passada, ele foi vítima de homofobia e ameaça de morte em plena faculdade. Apostilas dele desapareceram e, quando o estudante as reencontrou, achou também as mensagens de ódio. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, onde ele registrou um boletim de ocorrência. Bruno, que tem 30 anos e mora no outro estado há 10 meses, não se sente seguro nem mesmo em casa. O Jundiaí Agora o entrevistou:

As ameaças e ataques começaram do nada?

Tudo teve início com uma situação bem mais séria. Eu arrumei uma briga muito grande na faculdade por causa de um professor que foi acusado de assédio contra alunas. Tomei a frente neste caso e levei outras questões à direção do curso envolvendo este professor. Ele não dava aulas e este fato, somado à denúncia de assédio, acabou resultado na demissão dele. A faculdade terá de reaplicar a matéria. O coordenador de curso, porém, é muito amigo deste professor. Quando ocorreu a demissão, o coordenador fez reunião com toda turma. Ele disse que considerava injusta a saída do colega que é um profissional muito bom, segundo ele. Eu passei a discutir com ele na frente de toda turma, algo em torno de 40 pessoas. Disse que era um absurdo ele defender alguém acusado de assédio. Foi uma discussão bem acalorada, dentro de sala de aula. No dia seguinte, o coordenador pediu demissão. Neste mesmo dia ocorreram as ameaças. Eu não estou dizendo que foi ele ou o professor demitido. Mas ocorreu esta situação que eu considero muito relevante.

Você fez um boletim de ocorrência. O que os policiais disseram, Bruno?

Eu fui até a delegacia no último dia 18, passei informações, inclusive de suspeitas que estavam sendo levantadas. Fui informado que teria de esperar prazo de 30 dias para voltar à delegacia e fazer a representação. Só então poderei passar novas informações. É algo bem complicado já que fui ameaçado de morte dentro da faculdade. Além do caso do professor e do orientador, houve também outras situações com alunos. A sensação que tenho é de que estou sendo ignorado. Já comprei uma passagem para voltar para São Paulo. Não tenho família no Mato Grosso. Não conheço ninguém. Os amigos, na verdade, são colegas. Estou aqui há pouco tempo…

E o posicionamento da faculdade?

Eu li a nota divulgada pela instituição de ensino e não é muito verdadeira não. Quando tudo ocorreu, procurei a coordenação nova. Disseram que iriam oferecer suporte psicológico. Marcaram apenas uma consulta com a psicóloga da faculdade. Passei por ela e acabou. Não marcaram novas consultas. Isto não me parece um apoio psicológico. Aparentemente, queriam saber o que eu pretendia fazer. Depois de tudo, a faculdade não me procurou mais, não me passam informações. Estou sem frequentar as aulas desde o dia 18. Naquela ocasião expliquei para a nova coordenadora que estava com medo de voltar para a faculdade por causa da ameça. Ela afirmou que era para eu aguardar, que iriam verificar o que seria feito e dariam retorno. Basicamente, fui orientado a ficar dentro de casa e esperar uma ligação da faculdade. Enquanto isto, perco aulas. O semestre acaba no final de novembro quando ocorrerão as provas finais. Só está faltando um mês para acabar o semestre e eu vou perdê-lo por não assistir aula e fazer os exames. A faculdade não explica como isto tudo será tratado. Sequer telefonaram para saber se estou bem ou mal e se preciso de algo…

Na ameaça é citado que você seria um ‘petista’. O que sua suposta preferência partidária teria a ver com tudo o que ocorreu?

Eu tenho tomado um posicionamento político muito firme contra o atual governo e a favor de Lula. Todos sabem disto. Sempre fiz questão de deixar claro que votarei nele. Na minha turma de 40 alunos, outros dois alunos, no máximo, também votarão no candidato do PT. Já ocorreram diversas brigas por causa de política na faculdade. Mas nunca se chegou ao ponto de uma ameaça de morte.

Você desconfia de alguém?

Surgiram algumas informações. A namorada de um aluno da minha turma disse que ele já a ameaçou de de morte, fez vários comentários homofóbicos e machistas a respeito de alguns alunos e teria sugerido que determinadas pessoas devem morrer. A garota, inclusive, teria gravado vídeos e áudios dele para tentar registrar estes momentos. Eu tenho alguns arquivos que levei à delegacia. Porém, os policiais não deram a mínima.

Já tinha vivido algo parecido?

Comigo não. Esta foi a primeira vez. Tenho amigos que foram vítimas de homofobia…

Fora da faculdade sofreu ameça?

Não. Mas não estou saindo de casa agora.

E o que pretende fazer?

Vou voltar. A faculdade não deu retorno. Eu não me sinto seguro lá. Até queria terminar este semestre para não ter que começar do zero. Infelizmente vejo que não terei outra opção.(Foto: Freepik)

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