Não muito diferente do ano anterior, 2022 não deixou de se superar, assustando até o mais dos incrédulos: um novo tipo de Covid e a saída do Brasil da Copa do Mundo abanando as mãos fez com que olhássemos com muita surpresa para tudo o que vivemos. Será um sonho ou um pesadelo? Seríamos capazes de imaginar que viveríamos isto: dólar nas alturas, euro nem se fala, dificuldades políticas com rumores e ações terroristas, Argentina levando a Copa e o Brasil estagnado.
Poderíamos dizer que marcou nossa memória, sem sombra de dúvidas, tornando-se um ano para não se esquecer: tragédias, barbaridades e mentiras envolveram situações emblemáticas que remetem a preservação da vida e da dignidade humana, o avanço da Covid e a rejeição à vacinação, pelos mais jovens. Esta guerra da Ucrânia que não tem fim e nem se entende ao certo o que acontece, diante de tantas meias-verdades.
Um ano para se esquecer, de fato. Cheio de altos e baixos, cheio de conflitos e verdades ocultas, uma política cada vez mais trapaceada e trapaceira, um total desconhecimento daquilo que é verdade e do quanto de mentira estamos e esperar pela virada dele acena como um alento, não esquecendo que não basta acabar o ano civil: é preciso mudar a mentalidade. Sinto que estamos com dificuldades em aprender o novo, o que diminui a chance de transformação, de mudanças significativas.
De repente nós nos tornamos uma espécie estranha: somos uma fraude, que vive momentos de muita euforia e momentos de muita tristeza, ainda que não reconheçamos isto, porque nosso orgulho não nos permite. Precisamos dizer que somos fortes e que estamos no controle, quando não controlamos nem nossa vidinha insignificante. São pais que desconhecem filhos, filhos que não percebem seus pais, professores que não se solidificam no ato de ensinar, alunos que não querem aprender. Não conseguimos ter alcance do mal que nos abateu e isso fez da gente uma espécie alienígena.
Coisas boas aconteceram aos montes, podendo dizer que foi um ano difícil, mas compensador, em que não teríamos sobrevivido sem o apoio dos amigos; um ano que ensinou a valorizar as pessoas e a não subestimar os conselhos e o amor delas. O ano em que o falso está quase por ser desmascarado e as pessoas tóxicas quase por serem desveladas; possibilitou focar e valorizar aqueles que se preocuparam com a gente e com nossas causas. Um ano embrutecedor e revelador, com suas nuances que mais pareciam um carrinho desgovernado num brinquedo de parque de diversões; mas que nos ensinou a separar as coisas que nos são queridas.
Novamente, vejo que sobrevivi graças aos meus amigos queridos, do meu afilhado amado, dos meus alunos simpáticos e da minha Fé. Pela Fé consegui ressignificar cada uma das minhas quedas, que foram muitas, e entender o valor de cada escorregão, aprendi quem é o outro em minha Vida. Meus médicos, como sempre, permaneceram atentos e vigilantes, garantindo-me a saúde mental próximo do saudável e, meu contexto profissional e social se restabelece, vagarosamente, mas já vislumbro outras abordagens e outras metas.
Não posso ser cego e dizer que foi um ano fácil, visto ter sido uma loucura total. Um período de alta tensão onde tudo foi aprendizado: troca de hábitos, troca de empregos, troca de bancos, troca de médicos e remédios, troca de amigos, troca de metas, troca de projetos, troca de gostos: um infindável receio de nos depararmos, numa encruzilhada qualquer, sem sabermos para onde seguir, por mais sábios que fossemos
Pouco já se fala em valores que permaneceram virados de ponta cabeça, emoções pululavam de cima a baixo, rodopiavam e pululavam de novo. Choros, tensões, alegrias, vitórias, abraços, beijos, partidas, chegadas, mentiras, constatações, violações, carinhos…tudo junto e misturado. Mas intenso. Um ano em que os meninos da minha rua diriam que foi “um ano do caraleo”; só não reconhece a brutalidade dele, quem esteve anestesiado e optou por viver na fantasia, sem dimensionar a merda que foi.
Confesso que me cansei. Tive vontade de gritar: para o mundo que eu quero descer. Sofri demais, apanhei muito, chorei muito, gritei muito, esperneei muito, mas não blasfemei em momento algum. Resignei-me a me indignar. Acredito que eu tenha sido intenso. Hoje estou me reerguendo pois acredito nas mãos de quem me ama e a quem amo, incondicionalmente. Procuro dar um passo por vez, as vezes me perco, as vezes me enrolo, as vezes me sinto frágil mas tenho suporte para a caminhada, pois quem me cuida não dorme e quem me ama não vacila.
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O que espero do novo tempo? Nada. Espero de mim. Que eu seja mais forte, mais consciente, mais sincero, mais honesto e mais acolhedor, que eu consiga estabelecer uma vida nova. Quero retribuir tudo o que recebi e apostar num novo tempo, com novas oportunidades. A Fé continuará sendo minha bússola e, com ela, terei mais chance de acertar. Desejo dividir o que aprendi e o que sinto, hoje, com quem eu quero bem: você, por exemplo.
Feliz novas tentativas. Feliz novas oportunidades, para mim, para você e para todos. Cada um escolhe seu trajeto. Sempre.
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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