A professora universitária Joelma Telesi Pacheco Conceição, apresentou neste ano, dissertação de mestrado sobre a emissão de gases de efeito estufa e a gestão de resíduos orgânicos em Jundiaí. Ela mora na cidade há oito anos. A tese mostra que a quantia de lixo produzido na cidade geraria energia para o consumo de 50 mil pessoas por ano. Para ela, a cidade faz muito bem a coleta. Mas não sabe como fazer o reaproveitamento sustentável e reduzir os impactos da poluição. O Jundiaí Agora entrevistou Joelma(foto principal):
Por que focar o estudo em Jundiaí? A senhora é da cidade? Os outros participantes do estudo também?
Desde o ano de 2015 me mudei para Jundiaí, assim como o orientador da minha pesquisa, professor Márcio. Os outros quatro participantes da pesquisa são de Guarulhos. Esta pesquisa é parte de estudo para dissertação de mestrado em Análise Geoambiental que conclui neste ano, com louvor, pela Universidade Guarulhos (UNG).
Atualmente, Jundiaí e região encaminham o lixo orgânico para outra cidade. O antigo aterro sanitário, em Várzea Paulista, foi o objeto da investigação?
O antigo atingiu a capacidade máxima e se encontra inativo. Isto significa que embora monitorado pela emissão de gases que ainda acontece, não recebe mais os resíduos que agora são encaminhados para o aterro de Santana do Parnaíba.
Os gases de efeito estufa citados no estudo são oriundos do aterro de Várzea? Ou são gerados em outro lugar? A quantidade é alta?
A média de resíduos orgânicos produzidos em Jundiaí é similar à média nacional, fruto da nosso clima quente e da cultura de desperdício de alimentos tão comum pela forma como transportamos, comercializamos e consumimos no Brasil. Quando um aterro sanitário recebe os resíduos, quase a metade de sua composição é de origem orgânica (sobras de alimentos, restos da feira, poda de jardins etc.). O problema é que, ao se decompor, o resíduo orgânico libera vários poluentes que contaminam o solo e a atmosfera e que contribuem para a intensificação do efeito estufa, e consequentemente para o aquecimento global, como exemplo o gás metano e gás carbônico. O ideal é que o aterro faça o tratamento destes gases, convertendo-os em fonte de energia através da produção de biogás, e que se busque alternativas para reduzir a quantidade de resíduos orgânicos encaminhados para o aterro, o que pode acontecer através da prática da compostagem e da mudança de hábitos de consumo que produzem desperdícios. Mesmo quando um aterro chega ao limite da capacidade e se torna inativo, como é o caso do aterro de Várzea Paulista, os resíduos depositados ainda continuam em decomposição, o que significa que ele continua poluindo, embora em menor quantidade. O estudo que desenvolvi fez um levantamento aproximado de quanto resíduo orgânico é gerado em Jundiaí e a partir deste dado, foi calculado quanta energia poderia ser gerada se esse volume de gases poluentes emitidos fosse convertido em energia. Como resultado do estudo, a quantia seria suficiente para o consumo de aproximadamente 50 mil habitantes da cidade, anualmente, o que representa 12% de sua população.

A tese afirma que ‘embora Jundiaí venha obtendo bom desempenho em várias etapas que envolvem o manejo dos resíduos urbanos, ainda é necessário avançar nas medidas de reaproveitamento do material orgânico enviado ao aterro, adequando a infraestrutura sanitária ao crescimento populacional e transformando o modelo de economia linear em circular para contribuir com a sustentabilidade ambiental do município’. Quais são as etapas de manejo existentes hoje na cidade? Existem outras que deveriam ser implementadas?
Jundiaí cumpre com inúmeras atividades importantes no que se refere à captação do lixo, se destacando quando comparada à prática da maioria dos municípios do estado de São Paulo e do Brasil. Ações como a coleta seletiva e coleta dos resíduos na porta das casas atendem quase que a totalidade das residências. Há também o reaproveitamento de parte do material de poda de jardins para a produção de adubo que é utilizado na própria cidade, algo desenvolvido na área de transbordo do município. No entanto, apesar de captar e reaproveitar uma pequena parte do material orgânico coletado, a grande maioria é encaminhada para o aterro sanitário de Santana do Parnaíba. Este resíduo poderia ser melhor aproveitado, a estratégia bem mais sustentável é a produção do biogás que, quando gerado no aterro sanitário, pode ser drenado e encaminhado por meio de tubos para uma unidade de geração de energia, sendo convertido em energia térmica ou elétrica para o abastecimento da região do entorno e otimização de recursos naturais. Outra forma de aproveitamento inclui o desenvolvimento de unidades para a conversão dos resíduos em composto orgânico, algo que poderia ser desenvolvido por comunidades em parceria com a administração pública, servindo de fonte de renda à população e reduzindo o volume encaminhado para o aterro. Portanto, o município executa muito bem a parte de coletados resíduos mas não sabe o que fazer com eles. Ao encaminhar ao aterro de Santana do Parnaíba, transfere a responsabilidade pelo que gera para outra cidade. O aterro de Santana do Parnaíba não faz a recuperação energética, sendo mal avaliado pela Cetesb neste quesito. É urgente explorar mecanismos que consigam trazer benefícios a partir do reaproveitamento dos resíduos orgânicos, reduzindo a emissão de poluentes e aproveitando o potencial energético destes componentes. Desta forma, o material que se decompõe e polui poderia ser convertido em fonte de ganhos ao município e moradores.
Quais as boas práticas da cidade em relação ao lixo orgânico? Como mediram o bom desempenho de Jundiaí?
Para o desenvolvimento deste estudo foram analisados alguns indicadores divulgados por entidades como o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU), a Companhia Ambiental de Estado de São Paulo (Cetesb), os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), além de consultas a agentes de órgãos administrativos locais, e documentos públicos como o Plano Municipal de Saneamento Básico (2017), o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (2017) entre outros materiais referentes à temática do estudo. As informações coletadas por estes órgãos trazem indicativos para demonstrar se o município está ou não cumprindo com as metas exigidas nas esferas municipal, estadual e até federal. A região Sul e Sudeste do país, de maneira geral, obtém melhores resultados nestes indicadores do que o restante do país. Jundiaí está entre elas no que se refere aos indicativos de coleta e destinação de resíduos. É importante salientar que nosso país ainda luta para extinguir os três mil lixões que ainda existem e que municípios que destinam os resíduos aos aterros já ganham muitos pontos por isso. O que falta para Jundiaí é dar um passo importante avançando no sentido de adotar mecanismos de reaproveitamento sustentável que reduzam os impactos causados pela poluição destes agentes, reaproveitando o lixo orgânico e reintegrando-os de alguma forma na cadeia de consumo.
O que é reaproveitado hoje?
O reaproveitamento ocorre com o material coletado das podas de jardins, que é destinado à área de transbordo. Lá estes restos de folhagens, gramas e troncos são triturados e se transformam em “sepilho”, utilizado como adubo pelo próprio município. No Brasil, apenas 47 cidades adotam esta prática. As iniciativas que promovem a redução do volume de resíduos orgânicos coletados pela empresa de limpeza pública, contribuem pela redução no gasto com transporte e economia de espaço nos locais de tratamento e disposição, consequentemente aumentando seu tempo de vida útil. No entanto, o grande volume de resíduos orgânicos gerados pela população – 45% do total – ainda é desperdiçado e vira fonte poluente ao ser despejado no aterro sanitário de Santana do Parnaíba.
Sabe-se quanto lixo orgânico um jundiaiense produz por ano?
Cada morador de Jundiaí gera, em média, 1,3 kg/dia de resíduos, o que corresponde a 555 toneladas por dia. Deste montante, 45% são constituídos de material orgânico, resultando em 91.250 toneladas de material orgânico por ano encaminhado ao aterro.
Quanto mais gente, mais lixo. Como solucionar este problema?
O município vem crescendo muito e a infraestrutura precisa acompanhar este crescimento. No que se refere à gestão de resíduos é fundamental a adoção de medidas sustentáveis e emprego de tecnologia local que incluam diversas frentes: educação ambiental e redução do volume gerado já na fonte, esclarecendo a população sobre o desperdício e reaproveitamento por meio da compostagem; consolidação de parcerias do poder público e comunidade para implementação de iniciativas de compostagem; implementação de tecnologia de reaproveitamento do material encaminhado aos aterros através de reaproveitamento energético.
Sim, as parcerias sempre fortalecem qualquer iniciativa quando realizadas com responsabilidade e comprometimento. Vários municípios brasileiros vêm encontrando soluções a partir de projetos onde experiências e soluções tecnológicas são compartilhadas.
A senhora tem um projeto prático de reaproveitamento de lixo orgânico doméstico através de um minhocário, uma técnica que pode ser empregada por qualquer pessoa, na própria casa. Poderia ser aplicado em grande escala pelas prefeituras da nossa região, por exemplo?
O projeto que venho desenvolvendo tem o objetivo de reduzir o volume de lixo orgânico gerado nas próprias casas. Ele se baseia na produção de biofertilizantee humus a partir de um minhocário alimentado por restos de alguns tipos de alimentos orgânicos descartados diariamente (cascas de frutas, legumes e verduras). Trata-se de um projeto simples e de baixo custo que pode ser desenvolvido até mesmo em um apartamento, pois bem realizado não produz cheiro desagradável nem atrai insetos. Também é uma boa ideia para comerciantes e instituições de ensino. O trabalho é equivalente à manutenção de um aquário, que você observa, alimenta e cuida. O apoio da prefeitura poderia ocorrer no sentido de orientar e capacitar ofertando educação ambiental e apoio técnico no desenvolvimento de pequenas grupos que fossem ampliando gradativamente sua experiência do individual para o coletivo, de pequenos grupos para comunidades maiores. Algumas cidades do estado de São Paulo vem realizando boas experiências nesse sentido.
Quais as vantagens?
No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, no que se refere ao reaproveitamento de material orgânico, projetos de pequena e média escala tem apresentado resultado melhores do que grandes iniciativas desenvolvidas pelas prefeituras. As parcerias de entidades públicas com ONGs, comunidades e instituições vem obtendo bons resultados, onde uma equipe técnica se associa e capacita a população local para o desenvolvimento de ações em conjunto. Como experiência pessoal, além de reduzir o volume de material orgânico descartado, é possível produzir adubo para o meu jardim e ainda doar o excedente aos amigos. Diversas comunidades no país vem desenvolvendo campanhas para que os moradores adotem essa prática, a exemplo do que ocorre em países desenvolvidos como Alemanha e Espanha. Os resultados são incríveis, inclusive para a saúde das plantas, que ficam lindas e saudáveis.
Seria algo caro?
Para o minhocário são utilizadas três caixas coletoras e as minhocas, eu utilizo da espécie californiana. Este material pode ser adquirido pela internet a um custo aproximado de R$120, ou até menos, dependendo do tamanho da composteira utilizada. Quanto maior o volume de lixo gerado, maior a composteira. Mas também há a possibilidade de produzir a própria composteira com materiais descartáveis, a um custo muito menor. Enfim, trata-se de uma técnica muito simples e prática que pode inclusive servir de fonte de renda para a população que quer contribuir com soluções simples e fáceis para o meio ambiente.
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