Carnaval no RIO

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O primeiro Carnaval no Rio de Janeiro foi tudo de bom pra mim: inesquecível e quanto mais o tempo passa, novos sorrisos surgem. Embarcamos numa excursão pela São João Turismo, hospedamo-nos no Hotel Novo Mundo, na praia do Flamengo, totalmente agitada pelas obras do aterro. Era o ano de 1975 e a ditadura militar ainda dava as ordens, mas como disse um sábio, Carnaval não é obrigatório como serviço militar, vai quem quer. Fomos e ficamos felizes. Conseguimos nos divertir tanto e muito o quanto possível, quando se faz algo pela primeira vez.

Numa excursão que é a democracia do entretenimento, fomos agraciados com todas simpatias e surpresas durante a hospedagem no hotel, no convívio inclusive com turistas estrangeiros. De manhã, café no hotel, depois num passeio na redondeza encontramos um lugar para almoçar. No Ateniense, um restaurante que servia PF e ficava no quarteirão seguinte. Almoçávamos no balcão mesmo e a comida além de bem-servida, o preço era honesto, tínhamos direito a suco e sobremesa. 

Terminado o almoço, fomos andar um pouco mais e ouvimos um som de bateria que parecia uma escola de samba se aproximando, mas percebemos que vinha de uma rua sem saída, atrás do hotel, eram no máximo uns 8 ritmistas fazendo um som espetacular, chamando o pessoal que já se achegava sambando.

Por volta das 15h30, eles tocavam sambas enredos, os do ano e os antigos sucessos. Alegria geral todos no meio da rua e do interior do hotel, vinham bandejas lotadas de latinhas de cervejas geladas e eram distribuídas indistintamente para todos que lá estavam. Receosos, agradecemos e não aceitamos, mas os turistas estrangeiros nos acenaram e ofereceram. Aí um carioca falou que os gringos estão patrocinando. O dinheiro deles valia mais do que o nosso! Eles se divertiram tanto naquele Carnaval. Brincamos até as 19h30 e não gastamos um centavo sequer. Voltamos ao hotel porque tínhamos uma saída marcada para irmos ao Canecão. Éramos jovens e rebeldes, não queríamos sair com a excursão e sim nos aventurar na cidade maravilhosa. Fomos para o centro histórico e na praça Marechal Deodoro caímos na farra, na gafieira Elite, que estava lotada. Badalada e frequentada por artistas globais, uma coincidência que só descobrimos depois de adentrá-la. Era um casarão velho, quase caindo aos pedaços, mas era ótima tinha som de orquestra, e o que aconteceu ali, ficou ali… risos.

Nos dispersamos, cada um foi embora de um jeito. Quando sai de lá não consegui táxi. Eu me informei sobre lotação e alguém me disse: “tome o número tal que o ônibus o deixará no no Flamengo. Atenção ele vai pela avenida Atlântica”. Entrei no coletivo e pedi ao cobrador que me desse um toque. Dormi. O cobrador se distraiu e eu o ônibus passou do ponto. Ele se lembrou, me acordou, puxei o sinalizador e desci numa calçada. 

Pensei que estaria perdido no Rio de Janeiro. Mas, a providência divina foi tal que estava em Botafogo, bem na frente do Corcovado. Alegria geral bem em frente ao Cristo Redentor. Olhei ao redor e vi que logo iria amanhecer e notei a silhueta do Pão de Açúcar mais a frente e pensei é pra lá que tenho que ir, estava na praia. Pensei que não estava tão longe e fui andando…

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O sol estava nascendo. Era Carnaval! Quis aproveitar a brisa do mar. Foi quando percebi que pessoas se aglomeravam como num arrastam. Todas me olhavam. Sem me desesperar, agachei e tirei meus tênis, Dei um nó nos cadarços e os pendurei nas costas. Estava de calças brancas, dobrei-as até os joelhos, camiseta listrada de azul marinho e branco e entre elas uma mais fina em vermelho. Coloquei meus documentos na cueca boxer e me benzi. Fiz um sinal da cruz tão exagerado que os malandros se assustaram e recuaram.

Não sei se seria assaltado. Só sei que fui embora e não olhei pra trás. Sei reconhecer o sinal divino quando ele aparece. Não sou o Chaves, mas eles não contavam com a minha astúcia. Até hoje quem estava naquele grupo deve estar pensando que eu era um exímio lutador de capoeira.

LUIZ ALBERTO CARLOS

Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.

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