Repensando o Dia Internacional das MULHERES

mulheres

Hoje, 8 de março, é celebrado Dia Internacional das Mulheres, data que homenageia, enfatiza a luta e abrange um pouco mais da metade da população do Brasil. Os resultados do Censo 2022 apontam que o Brasil tem 6 milhões de mulheres a mais do que homens, o que representa 51,5% da população. Dentro desta porcentagem temos toda a pluralidade do ser mulher, considerando todas raças e etnias, poder aquisitivo, diversidade cultural, orientação sexual e também identidade de gênero (considerando mulheres cisgênero e mulheres transgênero).

Ao decorrer esta diversa seara, temos que encontrar maneiras de fazer o Dia das Mulheres um dia que exalte a luta de todas elas, sem exceções. Por mais que na mídia neste dia mostre a face de um tipo específico de mulher, com design estético na maior parte das vezes rosa, vermelho e cheia de flores e figuras imagéticas socialmente vistas como femininas, diria que esta abordagem não representa a maioria desses 51,5% da população nacional. A verdade é que flores não condizem com a árdua realidade da maior parte das mulheres e a ideia rasa de apenas parabenizá-las e presenteá-las com buquês se contrapõe a origem e motivo deste dia existir.

Esta é uma data oriunda de um protesto ocorrido em 1908 por trabalhadoras que lutavam contra as precárias condições de trabalho, e nos anos posteriores os protestos reivindicavam o básico como direito ao voto, direito de trabalhar, de ocupar cargos públicos e tantas outras questões. Cento e dezesseis anos depois, embora tenham melhorado, não tiveram os problemas de fato sanados. Na política brasileira em 2022, apenas 15% da candidatura das eleições gerais e municipais foram de mulheres e em Jundiaí o cenário não é tão diferente: hoje, das 19 cadeiras da Câmara de Vereadores, apenas uma é ocupada por uma mulher. No âmbito profissional, 30% das mulheres já deixaram o mercado de trabalho para cuidar dos filhos. Entre os homens esse número é quatro vezes menor, atingindo 7%, segundo uma pesquisa da Catho em 2018. Os números mostram o quão longe estamos de atingir a igualdade de gênero.

Sobre essa data Arima Rayana, artista visual de Jundiaí comenta: “não me sinto devidamente representada neste dia. Algumas pessoas me parabenizam nas redes sociais mas nada muda. Você está dedicando pelo menos um dia para refletir o que as mulheres representam para você? Eu sinto que as pessoas não tem um olhar certeiro para isso, sinto que é só uma desculpa para vender flores. Eu não quero flores, eu quero ter mais trabalho, visibilidade e oportunidade. Quero parar de sofrer tanto com o patriarcado, quero que as pessoas pensem mais em diferentes e melhores formas de nos tratar. Nós estamos de fato cuidando mais das nossas mulheres?”

Também sobre o tema Tiana Cauton, rapper e poeta de Jundiaí, afunila o diálogo sobre a inclusão e representatividade nesse dia: “Olhando ao meu redor e vendo que somos diversas, com suas diferenças e semelhanças, consigo me ver em muitas e me sentir em quase todas… mas existe infelizmente um abismo que nos separa e não nos torna tão legítimas de dignidade, acesso e respeito. Ser uma mulher transgênero e preta me desperta a curiosidade no olhar e o desejo de ser tão validada quanto qualquer outra mulher cisgênero. Entendo os recortes sociais e políticos que nós mulheres trans temos, mas infelizmente somos resumidas apenas ao ‘Dia da Visibilidade Trans’.  Que bom que pelo menos em um dia somos lembradas e celebradas vivas, mas existe essa outra data onde nossos corpos e vivências também merecem inclusão e ressocialização […] eu não preciso ser colocada em uma caixinha para que eu seja vista, eu preciso ser colocada a frente com todas e como todas as mulheres cisgênero. Nós buscamos por mais inclusão de nossos corpos trans em espaços criados por mulheres cis e nós não estamos disputando nada com elas, muito pelo contrário, queremos somar pois juntas somos muitas e mais fortes!”.

É essencial que durante esta data, o foco não seja primordialmente na comemoração e sim na reflexão. É sobre independente da sua identidade pensar com carinho se você enquanto indivíduo está pensando sobre todas as mulheres dessa maneira e se está deixando alguma para trás nesse processo. Não somos minoria. Somos maioria e todas nós merecemos muito mais que elogios vagos e flores compradas nos semáforos.(Fotos: @arimarayana/@tianacauton)

ANNA CLARA BUENO

De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.

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