O vasto cenário musical paulista foi nos últimos anos agraciado por uma presença impactante, de voz autêntica e versátil. Estou falando de Ariel Caê, cantora e produtora paulistana, atualmente morando em e atualmente residente de Jundiaí. Em 2022 lançou o primeiro álbum, Dissimulada, e dois anos depois está lançando o segundo trabalho autoral, o tão aguardado Utopia(foto). Com 15 faixas no total, o novo álbum de Ariel é um mergulho profundo em sua alma artística. No entanto, neste primeiro momento, a artista escolheu lançar 11 faixas, deixando as outras quatro para uma futura surpresa.
Embora Ariel Caê tenha lançado o álbum agora, a artista vêm desenvolvendo-o há cerca de quatro anos. Segundo ela, apesar do conceito ter sido iniciado anos atrás, a vivência e segurança para construí-lo veio apenas nesse momento, tendo hoje os dois pilares necessários tornar um projeto real. Suas referências sonoras são uma mistura deliciosa de pop da era 2.000 com nuances de brasilidade, assim como melodias que contam uma história e trazem desta vez uma narrativa diferente do que os fãs da cantora até então viram. Para Ariel, esse é o momento certo de se desinibir e mostrar ao público um lado sincero para que os ouvintes possam acessar seu íntimo. Sobre esse novo ar a artista comenta: “Ao produzir o disco usei esses instrumentais que criei como essa cama em que eu pudesse deitar e falar o que vinha na minha cabeça de mais honesto”.
Ela é uma artista independente completa: foi responsável pela maior parte da obra. Em Utopia compôs, produziu, mixou, masterizou, e cuidou até mesmo da direção artística, mas ela tem também seu time de colaboradores. No Estúdio Fobooz, novo espaço de desenvolvimento musical da região, teve junto de si pessoas que atuaram pontualmente como co-escritores e co-produtores. Além disso, seu novo álbum conta com feats de artistas também residentes da região, com talento equiparável ao dela. Sobre as colaborações que estão por vir ela calorosamente comenta: “Para agora temos Felina, que entra deslizando em um verso glorioso no single “Babydoll”, faixa essa que ela aceitou participar há quase 2 anos. Nada chega perto do que essa mulher faz, ela é única e sabe manusear as palavras, os fonemas de modo que o público se sente completamente envolvido. Nvnzin está em “Verde”, que é o completo oposto da outra. Aconteceu por acaso e muito rápido. Estávamos juntos de boa de manhã e à tarde, em uma sesh completamente despretensiosa de algumas horas, eu estava deitada no chão, completamente eufórica pois nós tínhamos a track. Amo ele e amo essa música também.”
O ar nostálgico do início do milênio não é apenas perceptível aos ouvidos, mas também ao olhar, já que o som foi um guia para que Ariel traçasse também a estética do álbum. Dentro da proposta de exibir o seu eu interno e suas referências afetivas, ela nesse primeiro momento traz uma imagem extremamente associável: se encontra de cabeça para baixo deitada em um sofá exibindo suas maiores joias, o sorriso genuíno e o brilho no olhar. Essa “simplicidade estética” foi intencional, afinal a artista deseja não só passar esse ambiente intimista como também deixar claro ao público que consuma sua obra que foquem primeiramente no complexo universo fonográfico o qual ela por tantos lados se aventurou, e enfatizo a complexidade de referências e menções honrosas, já que seu novo trabalho exibe uma variedade de conteúdo. Ela vai do pop chiclete estadunidense ao pop rock brasileiro em um piscar de olhos, ou melhor, em uma passada de track.
Sua multiplicidade enquanto artista é também perceptível enquanto compositora. Em Utopia, Ariel enfatiza sua vivência e se afirma enquanto mulher travesti vivendo em um país ainda LGBTfóbico. Dentro da premissa de buscar o inerente, ela aborda sua existência enquanto pessoa trans estando em relacionamentos e vivendo seus altos e baixos, tendo em seu recorte social esses “baixos” muito mais viscerais e intensos justamente por fazer parte de um grupo ainda hoje negligenciado socialmente e assim, emocionalmente também. Para ela, embora algumas letras tenham sido dolorosas, foram curativas e no fim deu a ela orgulho, afinal, requer muita coragem admitir nossas cicatrizes. Entre ritmos dançantes Ariel fala de dores e amores tangíveis, enfatizando diversas vezes a importância de sua essência e sensualidade por além dos traumas.
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Ao perguntar sobre o que a artista pretende passar ao público com Utopia, ela explica: “Eu espero que converse com quem quer que esteja angustiado, se sentindo isolado. Quem está sentindo que deve engolir suas vontades, conquistas, frustrações e raivas pra tentar agradar ou poupar o outro de si. Espero que sirva para a gente – eu inclusa – entender que as coisas não vão acontecer como a gente espera sempre, se nós formos nós mesmos livremente. Nós devemos escolher valorizar quem fica, quem tá com a gente, e quem te traz certezas boas”.
Você pode ouvir o álbum Utopia nas plataformas musicais e acompanhá-la nessa saga regada a simpatia e sinceridade por meio das redes sociais (@caeariel).
ANNA CLARA BUENO
De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.
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