ESPAÇOS Colaborativos: Jundiaí tem um. Campo Limpo também!

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Quem já desceu a Rua Augusta em São Paulo, no horário comercial, já deve ter visto galerias, lojas e espaços colaborativos. São aqueles espaços onde vemos uma disposição não convencional dos produtos e do que é exposto: diferentes pessoas com diferentes marcas, propósitos e até mesmo categorias. Podem ser quadros de artistas locais, produtos de pequenos empreendedores e, se tivermos sorte, podemos até presenciar um show ou roda de conversa com pessoas importantes… São um universo de possibilidades que cabem dentro de tudo que um ser humano pode expor, se algum proprietário de estabelecimento assim possibilitar! E você sabia que em Jundiaí e Campo Limpo existem espaços assim?

Essa tendência de encontrar força comercial e cultural no coletivo não é algo recente, muito menos restrito ao território nacional. A partir do boom de coletivos artísticos nas décadas de 60/70 e todo o movimento de contracultura, surgiu também a necessidade de expor o que era feito e, é claro, ganhar a vida com isso. Podemos imaginar que para artistas independentes e produtores locais o desafio de alugar ou comprar um espaço comercial não era fácil lá atrás e continua não sendo, independentemente de estarmos em Nova York, Paris ou Jundiaí! Assim, para muitos, a única forma de exibir seus produtos ou arte fisicamente em algum lugar é recorrendo a esses lugares.

O bom é que não precisamos ir até a capital para conhecer lugares assim tão plurais. Dentro de nossa região, encontramos também espaços colaborativos que cunham muito mais do que apenas lucrar. São locais e pessoas que prezam e fomentam um senso de comunidade para além de escolher, passar no caixa e levar um item para casa, pois geralmente existe um propósito nesses comércios que vai além do sistema convencional. Nos arredores, há espaços novinhos em folha, como a Casa Colaborativa Arte Alecrim (@artealecrim) em Campo Limpo Paulista, criada este ano por um coletivo de iniciativas regionais das mais diversas áreas criativas e do bem-estar. O espaço aconchegante conta com peças de artistas e marcas de grande valor cultural, assim como serviços de cuidado, como de cabeleireira e massoterapeuta. Além disso, o estabelecimento nos agracia com uma ótima recepção e nos dá a experiência de sermos atendidos muitas vezes pelos próprios artistas e produtores.

Idealizadoras da Quê Colabora: Stella Pinheiro, Flávia Prexede Lima e Marcela Vanzan

Outro espaço na região é a Quê Colabora (@quecolab) em Jundiaí, estabelecimento liderado por mulheres que é palco para produtores e artistas locais exporem seus produtos, eventos das mais variadas temáticas (de rodas de conversa sobre sustentabilidade a oficinas artísticas), brechó com acervo próprio delas, além de contar com uma decoração rica e um jardim acolhedor.

O início deste projeto se deu quando elas perceberam como haviam certas necessidades e certos grupos não estavam sendo devidamente contemplados ou tendo sequer espaço na região. Em 2018, começaram a construir esse plano ao ver que em São Paulo esse tipo de espaço estava se popularizando. Perceberam que, nesse formato, havia a possibilidade de fortalecer a moda de brechós, o movimento criativo na cidade, as manifestações artísticas, bem como as marcas de produtos da região. A ideia foi que, através da colaboração, as pessoas dividissem os desafios e pudessem crescer juntas, e este plano deu certo!

Apesar de dificuldades comuns em pequenos negócios, como lidar com custos, ter iniciativas que sejam convidativas para novos consumidores e dificuldades que só um espaço plural assim teria, como lidar com o gerenciamento de um brechó, galeria artística, produção de eventos e projetos futuros, o espaço hoje é de muito sucesso, e tem as idealizadoras cheias de orgulho do que construíram até o momento. Elas são felizes pela rede de parceria e colaboração que está se formando ao longo do tempo, pelo fato de a Quê Colabora ser a primeira oportunidade para muita gente expor o seu trabalho e também por fazerem parte da mudança que acontece aos poucos na forma de consumo das pessoas na região, que com a troca de informações constroem um pensamento mais consciente de valorização do local e das coisas que são produzidas.

Embora se sintam vitoriosas ao ver toda a conexão de ideias, pessoas e projetos se formando e ver todos que são parceiros crescendo juntos, esse crescimento não é tão grande quanto deveria ser. Existe uma rede de apoio livre de concorrência com demais estabelecimentos (o senso de competição não as agrada, tampouco combina com os ideais de um espaço colaborativo), mas quando o assunto é a população em geral, consumidores, esses ainda não apoiam e fortalecem tanto. Ainda é comum que as pessoas pensem em comprar um presente no shopping ao invés de procurar algo especial, feito por alguém da região.

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Com adversidades ou não, os espaços colaborativos têm não só muita criatividade como também esperança de ver mais cidadãos colocando a mão na consciência. Espera-se que ao longo dos anos, a disseminação de informação sobre o tema aumente, mesmo que vagarosamente. Na Pesquisa Akatu 2018, vimos que houve o crescimento do segmento de consumidores conscientes “iniciantes” em 6% em comparação a 2012, o que mostra que o momento é de recrutamento de consumidores indiferentes para que se tornem iniciantes em sua consciência. Hoje, em 2024, muito possivelmente a porcentagem é ainda maior. Todavia, encontramos resultados alarmantes. 76% dos entrevistados – homens e mulheres com mais de 16 anos – não praticam o consumo dessa maneira, e dentro da pequena porcentagem dos que procuram repensar no que fazer na hora de comprar, 24% têm mais de 65 anos, 52% são da classe AB e 40% possuem ensino superior. Dessa forma, analisamos que vai ser preciso trazer os mais jovens, os menos escolarizados e os mais pobres financeiramente para a causa. Espaços como a Quê Colabora e Arte Alecrim, que promovem rodas de conversa e eventos gratuitos repletos de troca, com ambientes receptivos, postagens informativas nas redes sociais e estética descolada artística, ajudam a trazer esse público jovem e menos favorecido tão carente de informação e, a cada “seja bem-vindo”, trazem junto a palavra da conscientização. É sobre, no fim das contas, fortalecer os artistas, produtores locais, o planeta Terra e, é claro, fortalecer seu próprio lar e mente ao levar algo muito único para casa que certamente foi feito com muito carinho por alguém da região.

ANNA CLARA BUENO

De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.

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