Quando falamos sobre alimentação mais saudável quase sempre vem à baila o assunto dos produtos orgânicos. E se mencionamos que há aqueles produzidos sem agrotóxicos, outros baseados na agricultura biodinâmica, e ainda os que estão sob os preceitos da agricultura natural, pode garantir que vem a indagação, incrédula: “Mas não são todos iguais??”
Podem sim parecer iguais, mas o diferencial será na forma como foram produzidos: cada um terá um nome distinto, de acordo com os fundamentos que estão por trás dessa produção. Essas bases poderão ser técnicas e legais, ou doutrinas, idealizadas por filósofos, espiritualistas e pensadores.
O mais interessante de tudo isso é cada vertente é bem alicerçada e, quando se trata do viés espiritualista, traz um sentido maior: a possibilidade de ampliarmos nossa necessidade básica de alimentação para sobreviver para algo realmente mais profundo e ligado às nossas convicções de vida. Assim, cada uma dessas vertentes pode nos tocar de forma diferente, estabelecendo uma identificação até então não imaginada.
Hoje vamos dar um apanhado geral sobre a agricultura natural, idealizada por Mokiti Okada (1882-1955). Já de início, o alerta: colocaremos aqui alguns links para sites, na rede, que poderão ser bem úteis para quem se interessa em saber mais, pois o assunto é vasto e somos totalmente leigos, apenas compartilhando juntos o pensamento desse notável visionário.
Mokiti Okada, filósofo e espiritualista japonês, deixou inúmeros estudos sobre as diversas áreas do conhecimento humano, como política, medicina, educação, filosofia, economia, entre outras. Todavia, dedicou-se ao estudo da religião, da arte e da agricultura natural, apresentando propostas viáveis e comprometidas com um desenvolvimento social pleno e integrado (http://www.fmo.org.br/).
A finalidade da agricultura natural reside na responsabilidade total pelo abastecimento de alimentos, que são os alicerces para se construir o Paraíso na Terra, eliminando a doença, a pobreza, o conflito. Utilizando corretamente as forças e a energia da natureza, é possível obter uma produção suficiente, sem a necessidade de usar fertilizantes e pesticidas. Portanto, baseado no exemplo na Natureza, podemos obter colheitas abundantes, sadias, saborosas e nutritivas.
Segundo os princípios propostos por Mokiti Okada, a fertilização do solo consiste no fortalecimento de sua energia natural; para isso, basta torná-lo puro e limpo. Quanto mais puro é o solo, maior é a sua força para o desenvolvimento das plantas. Há a possibilidade de utilização de microorganismos eficazes para melhorar as condições desse solo, se necessário: um deles é chamado de bokashi.
O bokashi é um fertilizante natural, saudável ao produtor e não agressivo ao meio ambiente, contendo enzimas, aminoácidos não solúveis que estimulam a biota existente no solo. Sua elaboração obedece a processos bem exigentes: para se ter uma idéia, é um dos únicos que pode ser recomendado sem restrições no cultivo de orquídeas, tal seu grau de eficiência e harmonia com aquela planta tão delicada.
Um dos locais de produção do bokashi, ligado à Fundação Mokiti Okada é a Korin Ltda. (lê-se “kôrin”), que aplicou de forma pioneira os princípios da Agricultura Natural na produção de frangos no Brasil, com a não utilização de antibióticos, promotores de crescimento, anticoccidianos (coccidiose é doença parasitária que pode contaminar todo o plantel, diminuindo o seu peso e podendo causar morte dos animais) e demais quimioterápicos comumente utilizados nesse tipo de produção.
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Não só frangos mas as galinhas poedeiras também desfrutam desses princípios, que lhes permite ficar longe de gaiolas e mais próximas do que lhes é próprio: andar, ciscar, abrir as asas para se refrescar, fazer seus ninhos em poleiros…parece incrível que isso esteja sendo descrito como uma “permissão” dos humanos para as galinhas que produzirão os ovos que nos alimentarão, não é? A realidade da produção das galinhas poedeiras, que resultam na maioria das caixas que consumimos nos supermercados e feiras, é bem diferente e cruel. Sim, têm custo menor. No entanto, a que custo? Mas essa é uma outra história…
Há muito mais sobre a influência dos ensinamentos desse espiritualista, que permanecem até hoje e se espraiam pelos vários temas por ele desenvolvidos, como o Johrei, a Agricultura Natural e o Belo. São práticas básicas dessa filosofia, capazes de transformar as pessoas materialistas em espiritualistas e as egoístas em altruístas, restituindo ao planeta seu equilíbrio original.
Enfim, o propósito da Filosofia de Mokiti Okada é cultivar o espiritualismo e o altruísmo, fazer o homem crer no invisível e ensinar que existem espírito e sentimento não só no ser humano, mas nos animais, vegetais e demais seres. Por isso só, e este “só” já é muito, vale a pena conhecê-la. Até a próxima! (foto principal: www.fmo.org.br)
ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS
Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.
