A jundiaiense Juliana Ferragute Leite, de 38 anos, é a primeira mulher a assumir o cargo de gerente de produto de uma central de inseminação no Brasil. Aqui, ela morou na vila Rio Branco e também na Colônia. Foi estudante do Colégio Divino Salvador. Ela se formou em Zootecnia pela USP de Pirassununga. Hoje trabalha na Genex, referência mundial em melhoramento genético bovino, soluções tecnológicas e cuidados para os rebanhos. O Jundiaí Agora conversou com Juliana:
Você ainda vem a Jundiaí?
Eu me mudei de Jundiaí com 18 anos quando ingressei na faculdade e fui morar em Pirassununga. Meus pais ainda moram em Jundiaí. Visito a cidade com frequência….
Qual sua formação acadêmica?
Eu me formei em Zootecnia. Também tenho MBA em Marketing pela USP e recentemente comecei um MBA em Gestão Empresarial na FGV.
Você hoje é gerente de mercado da Genex Brasil, que fica em São Carlos. Há quanto tempo trabalha e mora nesta cidade?
Quando comecei a trabalhar na Genex, em 2014, morei em São Carlos. Eu me casei em setembro de 2018 e mudei para Avaré, onde resido atualmente. Como minha profissão exige viagens frequentes, não há grande necessidade de estar na sede, por isso trabalho de casa quando não estou viajando.
O que a Genex faz, Juliana?
A Genex é uma empresa do grupo Urus, referência mundial em melhoramento genético bovino, soluções tecnológicas e cuidados para os rebanhos. A matriz é em Wisconsin, nos Estados Unidos, e atua globalmente no mercado de inseminação artificial e na seleção genética para melhoria da produção de carne e leite. A Genex está no Brasil desde 2005 com sede em São Carlo e com central própria de coleta de sêmen em Uberaba, em Minas.
E o que uma gerente de mercado faz?
A Genex atua nos segmentos de Corte e Leite. Eu trabalho especificamente com a unidade de Corte, onde trabalhamos com 23 raças de bovinos de Corte. Sou responsável pela equipe técnica que trabalha na busca pelos melhores reprodutores para coleta e comercialização de sêmen, treinamentos técnicos para equipe comercial, atendimentos técnicos a clientes e inovações para a unidade de negócio. Além disso sou responsável pelo suporte comercial a equipe de vendas nacional e internacional.
Como a genética pode melhorar o gado brasileiro?
É importante entender que quando falamos em melhoramento genético não estamos falando de “animais de laboratório” ou alterações de DNA. Através de coleta de dados fenotípicos dos rebanhos e analises estatísticas robustas conseguimos identificar os animais melhoradores para várias características produtivas e multiplicá-los através da inseminação artificial. Uma exemplo prático: dentro de um grupo de 100 machos podemos identificar aquele com maior potencial genético para ganho de peso e escolher esse animal para ser usado na inseminação das vacas e assim seus filhos herdarão esse potencial de ganho de peso. Fazendo isso repetidamente em todas as safras vamos evoluindo a capacidade de ganho de peso daquela população. Esse é um exemplo de apenas uma característica, porém fazemos o mesmo com mais de 20 características ao mesmo tempo como habilidade materna, precocidade sexual, rendimento de carcaça, espessura de gordura, marmoreio, etc.
Em relação a outros países, estamos avançados ou atrasados nesta área, Juliana?
A seleção da raça Angus feita pelos americanos é referencia para o mundo, mas posso afirmar que o trabalho de seleção genética na raça Nelore feito pelo Brasil é fenomenal. Cito essas duas raças especificamente já que são as raças mais populosas do mundo. Devido ao clima tropical brasileiro o Nelore é a raça predominante e permite o cruzamento com outras raças, a mais comum o Angus. O Nelore é uma raça proveniente da Índia, mas o trabalho de melhoramento conduzido no Brasil tornou o Nelore brasileiro referência mundial.
Para os proprietários, investir em genética é algo caro? Em quanto tempo virá o retorno?
Não se enganem achando que genética bovina é apenas aqueles leilões das vacas de milhões. A genética na prática só faz sentido se for para melhorar os rebanhos comerciais para produção de mais carne e leite. E é muito acessível. Hoje a técnica reprodutiva da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) é amplamente difundida e acessível. Atualmente a média de uma dose de sêmen é R$25 e um protocolo reprodutivo é R$20. O acompanhamento de um veterinário especializado é importante para garantir as boas práticas da técnica. Os valores do veterinário variam dependendo da região do Brasil, mas vamos considerar uma média de R$100 por vaca inseminada. Dessa forma podemos falar num custo de R$145 por vaca inseminada. Considerando o preço médio de um bezerro hoje de R$2.700 a inseminação representa 5% sendo que vai produzir um animal com muito mais qualidade.
A pecuária poderia ser explorada em Jundiaí? Ou não vê espaço para esta atividade por aqui?
A pecuária tem que ser vista como qualquer negócio, tem que ter viabilidade econômica. A pecuária bovina de corte precisa ter volume de animais para ser mais viável financeiramente e rebanhos maiores normalmente exigem maiores áreas. Outro ponto é o custo da terra. Historicamente, a pecuária sempre ocupou áreas de terras mais baratas, pois a margem de lucro da pecuária é mais estreita comparada a agricultura. Acredito que Jundiaí já não possui tanta disponibilidade de terras e são muito valorizadas tornando atividades urbanas mais viáveis. Mas a pecuária pode estar presente nas áreas urbanas de outra forma como as boutiques de carne e as steakhouses que levam à população urbana o que o campo faz de melhor.
Juliana, como você analisa a polêmica entre a França/Carrefour e a carne brasileira?
O Brasil produz a carne bovina mais segura, de qualidade, com volume e acessível do mundo! É claro que países da Europa vão buscar formas de dificultar a entrada da carne brasileira. A França representou, em 2023, 0,005% das exportações de carne bovina do Brasil. Não que não tenhamos que manter boas transações comerciais com a Europa, mas os principais mercados para a carne brasileira estão na Ásia (China, Emirados Árabes), EUA e Chile. E ainda assim as exportações de carne bovina representam ao redor de 30% da carne produzida no Brasil. O grande mercado da carne brasileira é o mercado interno.
Você é a primeira mulher a assumir o cargo de gerente de produto de uma central de inseminação no Brasil. Com certeza este é um segmento da economia liderado por homens. Sofreu dificuldades ou preconceito?
Atuo no segmento de genética desde que me formei em 2009 e posso dizer que tive muita “sorte” na minha trajetória profissional. Hoje existem muito mais mulheres atuantes no segmento do que na época que comecei. Não tive grandes dificuldades. Acredito que quando você faz algo que ama e realmente se dedica as portas vão se abrindo independente de classe ou gênero.
Quais seus planos, seus projetos, Juliana?
Desde que me tornei mãe meu principal plano é equilibrar carreira e família. Acredito estar fazendo o meu melhor e é algo que exige muita disciplina. Em paralelo quero continuar contribuindo para a evolução do rebanho brasileiro através do melhoramento genético e motivar mais profissionais a trilharem esse caminho. O Brasil é um países chave na produção de alimentos para o mundo hoje e para as futuras gerações. De alguma forma ser corresponsável por isso é um propósito de vida.
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