COCHEO, cidadão do mundo: Guerras, filmes e fotojornalismo

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Elio Cocheo marcou época no jornalismo de Jundiaí. Não só pela qualidade das fotos que fazia mas também pela sua figura. O italiano nascido em 1916, tinha mais de 70 anos e ainda carregava a pesada mochila com equipamentos para cumprir as pautas no Jornal da Cidade. Especializou-se na cobertura social sempre acompanhado por vários copos de uísque. Aquele senhorzinho magro, careca, com forte sotaque, tinha um passado estupendo e que a poucos revelava. De trás para frente: antes de decidir morar em Jundiaí, ele trabalhou na Cia Cinematográfica Vera Cruz, em São Paulo, e na Cinecittà, a Hollywood italiana. Foi fotógrafo de reconhecimento da Força Área Italiana. Sobrevoou campos de batalhas durante a Guerra Civil Espanhola e na invasão da Abissínia pelas tropas de Benito Mussolini. Sobre o ditador Benito Mussolini, ele não gostava de falar. Tinha medo de represálias. Quando resolveu remexer o passado, as histórias dele transformaram-se em um livro e um documentário(abaixo) para o trabalho de conclusão de curso de estudantes de Jornalismo da Puccamp. A nota foi 10.

O amor pelas imagens – estáticas ou em movimento – nasceu ainda criança. Ele brincava pelas ruas de Roma quando viu uma equipe de filmagens. Ofereceu-se para ajudar os cinegrafistas carregando equipamentos e, mais velho, acabou sendo contratado. Veio o serviço militar. Elio contava que ia deitado, na ponta transparente do avião, fotografando cidades quase sempre à noite.

Foto: pt.topwar.ru

No dia 28 de abril de 1945, quando a vitória dos Aliados se aproximava, Mussolini e a amante, Clara Petacci, tentaram fugir. Foram fuzilados e os corpos amarrados de cabeça para baixo numa praça de Milão. Cocheo estava lá e registrou tudo. Os filmes, ele mantinha escondidos. Uma espécie de herança que guardava para a família. Quando era questionado sobre o ditador, Elio desconversava. “Sabe os fanáticos políticos? Eles ainda estão por aí”, explicava.

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Depois da guerra, Elio Cocheo trabalhou Cinecittà. Nomes como Rosana Podestá, Gina Lolobrígida, Sofia Loren, Claudia Cardinale, Vittorio Gassman, Alberto de Sordi, Marcello Mastroiani e Giuliano Gemma passaram pelas lentes dele.

Quando viu o anúncio da Cia Cinematográfica Vera Cruz, que buscava junto ao sindicato italiano de cinema, diretores e cinegrafistas para os seus filmes, decidiu se mudar para o Brasil. Elio estreou na Vera Cruz com os diretores italianos Pieralice e Mastrocinco, filmando “Veneno”, e depois fez outros filmes, como “Casinha Pequenina” e “Brasil à Meia-Noite”, além de numerosos documentários dirigidos por Primo Carbonari. Trabalhou com Mazzaropi, o rei da comédia na época, e Tarcísio Meira em início de carreira.

Após o fechamento da Vera Cruz, Elio passou a trabalhar como fotógrafo, incentivado pelo amigo Rigo Sanguini, com o qual abriu um estúdio em Jundiaí. Ele seu mudou para a cidade em 1957 e contava que conheceu Jundiaí nas filmagens da Vera Cruz. Ele criou afinidade com a Terra da Uva quando descobriu que aqui moravam muitos italianos e descendentes. Cocheo associou-se a Innocêncio Mazzuia, Américo Mean e Reynaldo Bedin e fundaram a Jundiá Filmes. Essa empresa trouxe para Jundiaí o cineasta Carlos Coimbra para dirigir as filmagens de “Crepúsculo de Ódios”, com Carlos Zara e Norma Monteiro(foto acima).

Depois de trabalhar nesse filme como diretor de fotografia, Cocheo passou a se dedicar ao fotojornalismo. Trabalhou no Jornal de Jundiaí de 1965 até 1973. Ele contava orgulhoso que movera ação trabalhista contra essa empresa e com o dinheiro conseguiu levar toda família para passear na Itália. Também trabalhou no Jornal da Cidade(JC), até 1999. Teve passagens, ainda, pelo Diário de Jundiaí e pelas sucursais do Diário de São Paulo e do Correio Popular de Campinas, como freelancer.

Como repórter-fotográfico, Elio Cocheo, o Rei Pelé e Chico Anysio

No JC, devido ao status conferido pela idade e tempo de profissão, atuava como repórter-fotográfico dos colunistas sociais. Ia a todas as festas. Nelas, pegava um copo de uísque e ia clicando os socialites. Quando o copo ficava vazio, pedia outro para os garçons. Elio contava que fotografava melhor quando já estava ‘alto’. Ele era o fotógrafo oficial da sociedade jundiaiense, mas não fugia das pautas, mesmo que fosse um acidente terrível entre carros ou um assassinato.

Homenagem – Em 1995, quando um grupo de estudantes da Puccamp apresentou ao professor Celso Falaschi o resumo do que viria a ser o trabalho sobre Elio, o mestre soltou a frase: “Esse italiano é um cidadão do mundo”. Ou seja: alguém que transcende fronteiras nacionais e culturais. O livro e o documentário receberam, então, o nome de ‘Cocheo, Cidadão do Mundo’. No dia da apresentação, o ex-militar, cinegrafista, fotógrafo, estava lá. E foi aplaudido de pé. Cocheo morreu no dia 25 de dezembro de 2005.(Com informações e fotos Jundipedia)

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