Não sei exatamente como vocês ‘videntes’ constroem imagens. No meu caso, vamos começar pelas mãos. Toco os objetos. Vou aprendendo e gravando suas formas. O objeto tem um nome. Ao tocar aquelas formas as associo ao objeto. Escrevendo isso me vem a lembrança que sempre amei andar descalço. E sim, meus pés também capitavam a imagem do chão.
As árvores? Adorava subir nelas. Ia tocando o tronco, folhas galhos e frutas. Claro. Não dá para vê-la inteira com a mão. Acabei unindo a série de imagens que meu corpo captava. Aqui estão as sementes de minha árvore mental.
Assim fui indo. Quando criança o trem me fascinava. Íamos a Campinas. Ele era muito grande. Fazia muito barulho ao chegar na estação onde deveríamos embarcar freando ferro contra ferro. Sentado tocava as grandes janelas. Mamãe descrevia o mundo. Eu sugava. E cada grande caixa comprida com janelas ligava-se a outras caixas iguais. Podíamos passar de uma para outra. Havia até um banheiro. Tudo isso era puxado por uma locomotiva. Ai só pude contar com a descrição. Tinha que imaginar.
No caso do vinho, prová-lo é sempre uma experiência singular e única. Coloco o vinho na taça. Levanto diante dos olhos como meu pai fazia, com ares de entendido. Movimento levemente a mão. Sei que o vinho está na taça. Eu a conheço. Então vem o cheiro. É como se meu corpo, meu eu se unisse ao quase sagrado vinho.
A mesa, os amigos, a vida… Meu braço se curva e vem o gole. Chegou ao paladar. Talvez a minha percepção de imagens lembre um pouco o ato de provar um vinho. Neste processo entra o conhecimento. Entra a imaginação, o olfato, o paladar e talvez, talvez um bom tanto de alma.

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. WhattsApp: (11) 982190402.
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