Você sabe o que são ecovilas? Conhece uma? Eu particularmente só fui conhecer de perto recentemente e, apesar de ter uma vaga noção, obtive uma ótima impressão. A ecovila é uma comunidade formada voluntariamente por um grupo de pessoas, que pode ser rural ou urbana, onde procuram viver de forma sustentável e autossuficiente, integrando as dimensões social (relações humanas, bem-estar), ecológica (impacto ambiental), econômica (sustento da comunidade) e cultural (valores e tradições).
Nas ecovilas há um esforço para minimizar os impactos ambientais da população residente e turistas, bem como promover relações sociais harmoniosas, ou seja, todos colaboram para o bem estar de todos e do respeito ao ambiente em que vivem.
Fui conhecer a Ecovila Piracanga(foto do autor), na Península de Maraú, na Bahia. Trata-se de uma comunidade em contato com a natureza, com sustentabilidade e desenvolvimento humano.
Pude constatar que eles buscam reduzir o impacto ambiental e promover a autossuficiência através do uso de energia renovável (fotovoltaica), construção com materiais ecológicos, gestão de recursos com a separação do lixo, reciclagem, reaproveitamento, compostagem. Também possuem banheiros ecológicos, onde promovem a separação e o tratamento de todo o esgoto, através de sistemas eficientes e com testagem periódicas. Também captam água subterrânea e estimulam a redução do seu consumo, o que implica na redução de esgoto (o que facilita o seu tratamento), promovendo o uso de produtos biodegradáveis e que não contaminem o solo e o lençol freático. Promovem práticas voltadas a agricultura orgânica, reaproveitando o produto da compostagem e resíduos tratados.
A vida em comunidade é um elemento essencial e central nas ecovilas, com moradores compartilhando recursos, responsabilidades e tomando decisões de forma participativa. As ecovilas são, assim, intencionalmente projetadas e construídas para promover um modo de vida sustentável e comunitário, o que permite uma sensação de acolhimento e segurança, onde o respeito ao próximo é facilmente constatado.
Na minha visita encontrei pessoas com excelente nível de educação e comunicação, acolhedoras e bem intencionadas, demonstrando ações em favor do coletivo e das pessoas, o que permite que tudo funcione adequadamente, para o bem de todas as pessoas e da natureza.
No restaurante do local onde me hospedei todos são convidados a não entrar com os calçados com areia e também a lavar a louça após as refeições, o que de fato acontece por parte dos moradores e turistas. Após as 22 horas não se tem mais energia elétrica nas lâmpadas e tomadas, o que cria um vínculo, contemplação e integração ainda maior com a natureza preservada. Isso porque a energia é fotovoltaica, com armazenamento em baterias e sem ligação à rede pública, usando-se geradores apenas quando não há sol suficiente.
Também alguns “combinados” da comunidade são informados e respeitados, entre eles, a proibição do uso de drogas e álcool, priorizando também a alimentação vegana/vegetariana, valendo uma nota de que estava muito saborosa.
Ao chegar, recebi um cartão com os seguintes dizeres: “Este é um espaço onde o cuidado com a natureza se reflete no respeito por cada pessoa que chega. Esperamos que você se sinta envolvida(o) pelo carinho, pela paz e pela energia transformadora que nos inspira diariamente. Juntos, cultivamos a sustentabilidade e o autoconhecimento, criando um ambiente de amor e respeito para todos.” (Equipe Unah Piracanga).
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Pode parecer meramente poético, irreal, difícil ou inacessível, mas é bom saber que a comunidade organizada voluntariamente pode sim viver em harmonia, com respeito ao próximo, com ações coletivas em benefício de todos e com a preservação dos recursos ambientais, de onde retiramos tudo o que nos é necessário para uma vida com dignidade.
Fica a dica, o sonho, a utopia (espero que não), para que possamos replicar, ainda que aos poucos, esse modelo para toda nossa sociedade, com muitos benefícios diretos e indiretos, entre eles o verdadeiro respeito ao próximo (e também ao criador), o viver e trabalhar coletivamente para o bem comum, com mais segurança, qualidade de vida que reflete na saúde física, mental, espiritual, com respeito ao meio ambiente. Portanto, com mais amor, equilíbrio, fé e felicidade.
CLAUDEMIR BATTAGLINI
Promotor de Justiça (inativo), Especialista em Direito Ambiental, Professor Universitário, Consultor Ambiental e Advogado. Presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB Subseção Jundiaí e Vice-presidente do COMDEMA Jundiaí 2023/2025. E-mail: battaglini.c7@gmail.com
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