Jundiaí no século XIX: O censo de 1872(Parte 2)

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Momento histórico: em 1872, o movimento abolicionista já ganhava força. Ao mesmo tempo, os primeiros fluxos de imigrantes europeus começavam a se intensificar, oferecendo alternativas de trabalho para os proprietários que não desejavam ou não podiam mais investir em cativos. Apesar do declínio, os escravizados de Jundiaí viviam em condições de intensa exploração. Muitos trabalhavam na agricultura, em pequenas propriedades, enquanto outros eram empregados em tarefas domésticas. Mesmo em número reduzido, sua presença moldava relações sociais, políticas e simbólicas, marcadas pela hierarquia racial e pela herança do sistema colonial.

O censo de 1872 revela também a diversidade da população jundiaiense. Na paróquia do Desterro, entre os livres, havia 1.962 brancos, 648 pardos, 111 pretos e 159 caboclos. Já em Bethlem, o quadro era de 1.037 brancos, 461 pardos, 69 pretos e 10 caboclos.

Essa variedade mostra que a miscigenação era uma característica estrutural da sociedade local. Brancos ocupavam majoritariamente as posições de proprietários, comerciantes e autoridades. Pardos e pretos, muitos descendentes de africanos escravizados ou libertos, atuavam como lavradores, artesãos, pequenos comerciantes e trabalhadores urbanos. Os caboclos, descendentes de indígenas, preservavam laços com a agricultura de subsistência.

Embora as categorias usadas pelo Estado imperial buscassem estabelecer hierarquias, na prática, a sociedade jundiaiense se articulava de forma mais fluida, com certa mobilidade social, ainda que limitada e permeada por preconceitos raciais. A vida em Jundiaí no século XIX era atravessada por práticas religiosas, festas, trabalho e sociabilidade. As igrejas das duas paróquias, Desterro e Bethlem, funcionavam como centros de encontro comunitário, articulando devoção e convivência social.

As festas religiosas, como a do Divino Espírito Santo, eram momentos de reunião entre livres e cativos, em que a fé se misturava ao lazer. Havia também irmandades leigas, compostas por brancos, pardos e pretos, que desempenhavam papel importante na coesão comunitária.

A educação ainda era restrita, mas começava a se expandir por meio de escolas paroquiais. Muitas famílias viam na instrução a possibilidade de ascensão social. As mulheres tinham presença marcante, não apenas no espaço doméstico, mas também na agricultura familiar e no comércio. O censo registra várias viúvas como “chefes de fogo”, ou seja, responsáveis pelo domicílio e pela administração das propriedades.

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Os africanos e seus descendentes mantinham tradições culturais que se expressavam em cantos, danças e práticas religiosas híbridas, resultado da interação entre a herança africana, o catolicismo e elementos indígenas. A economia de Jundiaí no século XIX era multifacetada. Três pilares a sustentavam:

  • Policultura de subsistência: o cultivo de milho, feijão, mandioca, arroz e hortaliças abastecia o mercado local e vilas vizinhas.
  • Cana-de-açúcar e aguardente: a produção de aguardente deu notoriedade à região. Diferente da monocultura açucareira nordestina, a aguardente de Jundiaí era feita em engenhocas de pequena e média escala, muitas vezes combinando trabalho familiar com mão de obra contratada.
  • Café em ascensão: o café ainda não era predominante em 1872, mas se expandia com rapidez. A ferrovia de 1867 acentuou Jundiaí como entreposto estratégico, facilitando o escoamento da produção para o porto de Santos.(Ilustração: quadro de J.B. Debret)

JOSÉ FELICIO RIBEIRO DE CEZARE

Mestre e doutorando em Ensino e História de Ciências da Terra pelo Instituto de Geociências da Unicamp. Membro da Academia Jundiaiense de Letras. Pesquisador, historiador, professor, filósofo e poeta. Coeditor da Revista literária JLetrasPara saber mais, clique aqui. Redes sociais: @josefelicioribeirodecezare.

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