O servidor público e pesquisador Wagner da Silva Soares lançou o livro “Política de Desenvolvimento Econômico de Jundiaí – Lições para Cidades de Médio Porte”, resultado de mais de duas décadas de experiência e pesquisa sobre desenvolvimento econômico local. A obra documenta as políticas públicas implementadas em Jundiaí entre 2008 e 2024. O autor analisa avanços, desafios e aprendizados em setores estratégicos como empreendedorismo, indústria de alimentos e bebidas, agricultura familiar, turismo, saúde e tecnologia, oferecendo um verdadeiro manual de boas práticas para gestores públicos, acadêmicos e empreendedores. Além dos indicadores econômicos, o livro aborda temas como mobilidade urbana, capital humano, reforma tributária, infraestrutura e preservação ambiental, com destaque para a Serra do Japi e o potencial da economia verde. Experiências bem-sucedidas, como a transformação da TVTEC em escola de economia criativa – com mais de 40 mil alunos formados – dividem espaço com iniciativas que não alcançaram os resultados esperados, como o projeto Tecnovale. No capítulo final, o autor apresenta um prognóstico para Jundiaí, apontando caminhos para consolidar o município como referência nacional em sustentabilidade, inovação e inclusão social. O Jundiaí Agora conversou com Wagner:
O estudo do senhor começa em 2008, quando o prefeito era Ary Fossen. Porém, o desenvolvimento da cidade começou a se acentuar anos antes. Qual a importância das gestões de Walmor Barbosa Martins, André Benassi e Miguel Haddad para as administrações posteriores?
O estudo tem como foco as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico local, e nele foram identificadas as principais vocações produtivas de Jundiaí — como a indústria de alimentos e bebidas, o turismo, a tecnologia, a saúde e o empreendedorismo de pequenos e médios negócios. O recorte temporal, a partir de 2008, foi definido por representar uma mudança estrutural na atuação da prefeitura: naquele ano, com a criação da primeira incubadora de empresas, o município deixou de ser apenas um órgão fiscalizador — atuando nas esferas fiscal, sanitária e ambiental — para assumir o papel de agente promotor do desenvolvimento econômico. No entanto, é importante reconhecer que a cidade é uma engrenagem que começou a se mover muito antes desse marco. As gestões de Walmor Barbosa Martins, André Benassi e Miguel Haddad foram importantes ao criar as bases institucionais, de infraestrutura e de planejamento que permitiram os avanços posteriores. Elas prepararam o terreno, fortaleceram a máquina pública e deram os primeiros passos rumo a uma visão mais moderna de cidade — o que possibilitou que, a partir de 2008, Jundiaí consolidasse políticas de longo prazo voltadas à inovação, competitividade e sustentabilidade econômica.
Quais os principais avanços para todas as áreas econômicas da cidade entre 2008 e 2025?
O estudo faz um recorte das políticas públicas implantadas neste período, período em que Jundiaí consolidou uma trajetória de crescimento e de fortalecimento institucional. O principal avanço, portanto, não está em uma ação isolada, mas no conjunto de políticas que permitiram à cidade alcançar o posto de 18ª economia do país e 7ª do Estado de São Paulo — um feito expressivo, especialmente se considerarmos que apenas um terço do território é urbano, enquanto os outros dois terços são compostos por áreas de preservação ambiental, como a Serra do Japi, e por zonas rurais e de mananciais. Se fosse necessário destacar um avanço em especial, eu mencionaria o fortalecimento do ecossistema de micro e pequenos negócios, que hoje representa um dos pilares da economia local. São cerca de 65 mil CNPJs ativos, dos quais mais de 40 mil são de microempreendedores individuais (MEIs). Essa vitalidade empreendedora foi impulsionada por políticas públicas estruturadas e interligadas, como a TVTEC, o Programa Jundiaí Empreendedora e a FENS, que funcionam como verdadeiros agentes de inovação, qualificação e estímulo à autonomia econômica. Trata-se de uma escolha acertada da cidade, que compreendeu que o desenvolvimento se constrói a partir da base produtiva local, valorizando o talento e a criatividade das pessoas.
É possível mensurar o crescimento da cidade neste período?
Sim, é plenamente possível mensurar o crescimento de Jundiaí nesse período, e o principal indicador para isso é o Produto Interno Bruto (PIB), que reflete a soma de todos os bens e serviços produzidos em um determinado território ao longo do ano. Embora o PIB não capture dimensões sociais como qualidade de vida, saúde, educação ou distribuição de renda — que exigem outros indicadores —, ele é uma métrica fundamental para compreender a evolução econômica da cidade. Os dados mais recentes do IBGE confirmam o destaque de Jundiaí no cenário nacional: a cidade ocupa a 7ª posição entre os municípios do Estado de São Paulo e a 18ª no Brasil, com uma produção de riquezas que alcançou R$ 57,6 bilhões em 2021. O setor de serviços lidera essa composição, contribuindo com R$ 29,5 bilhões, seguido pela indústria, com R$ 11,7 bilhões. Além disso, o PIB per capita chegou a R$ 135.081,20, mais que o dobro da média estadual e quase três vezes o valor nacional no mesmo período — um dado que evidencia a força produtiva e a eficiência econômica do município. Ao observar a série histórica, o avanço é notável: em 2009, o PIB era de R$ 18,9 bilhões; em 2010, subiu para R$ 23,1 bilhões; entre 2011 e 2014, cresceu cerca de R$ 4 bilhões por ano, atingindo R$ 39 bilhões; e entre 2015 e 2017, mesmo em um cenário nacional adverso, manteve trajetória positiva, chegando a R$ 41 bilhões. A partir daí, o crescimento se tornou mais consistente, culminando nos R$ 57,6 bilhões de 2021.
O senhor comparou estes números com os de outras cidades do mesmo porte?
Sim, realizei comparações com outras cidades de porte semelhante, especialmente no que diz respeito à demografia e ao consumo de energia elétrica, dois indicadores que ajudam a compreender a estrutura e o perfil produtivo dos municípios. De acordo com os dados do Governo do Estado, Jundiaí é o 4º maior consumidor de energia elétrica de São Paulo, o que chama atenção quando consideramos que sua população é bem menor que a de cidades como Campinas, Sorocaba ou São José dos Campos. O consumo industrial de Jundiaí é particularmente expressivo: 1.209.844 MWh, ou seja, mais que o dobro do registrado em Campinas, que apresenta 525.948 MWh nesse mesmo segmento. Já o consumo residencial de Jundiaí é de 450.481 MWh e o comercial, de 426.244 MWh, valores compatíveis com cidades de porte médio, mas que evidenciam um peso muito maior da indústria na matriz econômica local. Esses dados revelam um ponto interessante: Jundiaí possui uma estrutura produtiva fortemente industrializada, com consumo de energia que ultrapassa o de cidades maiores em termos populacionais. Isso indica eficiência e densidade industrial acima da média, mas também um desafio: o setor comercial ainda tem espaço para expansão, especialmente no varejo e em serviços de maior valor agregado. Portanto, em comparação com municípios de porte semelhante, Jundiaí apresenta índices econômicos e industriais superiores, sustentados por uma base produtiva diversificada e com destaque para a indústria de alimentos e bebidas, o que explica parte de o destaque entre as maiores economias do país.
Quais os desafios enfrentados no período estudado?
Para alcançar o 18º lugar entre os municípios brasileiros em relação ao PIB de 2021, Jundiaí enfrentou – e continua enfrentando – uma série de desafios ao longo das gestões. À medida que o município atingiu elevados índices de desenvolvimento, surgiram situações cada vez mais complexas, exigindo dos gestores novas perspectivas e soluções inovadoras. O crescimento econômico e populacional trouxe consigo questões relacionadas ao capital humano, ao aprimoramento do arcabouço legal municipal e à necessidade de ampliar e modernizar infraestruturas essenciais, como as de mobilidade urbana, água, energia e telecomunicações. Além disso, a cidade passou a lidar com o desafio permanente de conciliar o desenvolvimento econômico e social com a sustentabilidade ambiental, garantindo que o progresso ocorra de forma equilibrada e inclusiva.
Quais os aprendizados?
Os aprendizados são muitos. Em primeiro lugar, compreendi que o planejamento adequado é indispensável. De modo geral, é essencial que as políticas públicas sejam concebidas buscando equilibrar, de forma simultânea, três dimensões inseparáveis: a econômica, a social e a ambiental. Nenhuma delas é mais importante que a outra. A experiência de Jundiaí oferece lições valiosas a outras cidades brasileiras de médio porte. A primeira delas é a importância da gestão responsável dos recursos naturais, especialmente no enfrentamento de desafios hídricos. A cidade demonstra que planejamento e investimento nessa área são fundamentais para assegurar um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. A segunda lição é o compromisso com a educação, evidenciado pelos resultados expressivos obtidos no IDEB — 7,1 nos anos iniciais do ensino fundamental sob responsabilidade municipal —, fruto de políticas contínuas e de longo prazo. E, por fim, destaca-se o planejamento estratégico estruturado, materializado no Plano Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Internacionalização (PDEII), que se apoia no tripé econômico, social e ambiental. Essa integração demonstra que políticas públicas bem planejadas e executadas com visão de futuro geram resultados duradouros para o desenvolvimento sustentável da cidade.
É evidente que Jundiaí cresceu muito. As políticas de preservação do meio ambiente, em especial a Serra do Japi, foram adequadas? Como explorar o potencial econômico da Serra sem destruí-la?
O estudo tem como foco os aspectos econômicos de Jundiaí, funcionando como uma fotografia panorâmica da economia local em determinado momento histórico. Por isso, a Serra do Japi, embora citada, não é aprofundada, já que sua relevância exige um estudo específico. A Serra é um ativo ambiental estratégico, essencial por sua rica e preservada fauna e flora, além da sua importância hídrica, com potenciais ligados à economia verde — área em que já iniciei um novo projeto de pesquisa e talvez o próximo livro. O debate, porém, ainda inicial, carece de amadurecimento: hoje, prevalecem discussões superficiais sobre problemas, sem avanço em soluções concretas, inclusive nos conselhos ambientais aqui da cidade. Enquanto Cajamar já perdeu a floresta em seu território, o que é um verdadeiro crime ambiental, e Cabreúva avança sobre a mata com urbanização, Jundiaí também enfrenta sérios dilemas. Desde o tombamento pelo Condephaat, em 1983, a Serra não recebeu a devida atenção do governo estadual, permanecendo vulnerável. Em 2004, o município legislou e definiu zonas e objetivos, mas, 10 anos depois, dois congelamentos de licenciamentos recaíram sobre o território, mostrando a fragilidade do arcabouço legal. Para o próximo projeto quero contribuir para que lideranças regionais fortaleçam estratégias de preservação e desenvolvimento sustentável, explorando caminhos como o turismo ambiental, créditos de carbono e outras vertentes da economia verde.
Como melhorar o transporte público, a saúde, segurança. Estes setores acompanharam este crescimento?
Quanto mais sólida é a economia, mais recursos existem para enfrentar os desafios e promover melhorias estruturais. O ponto central está no pacto federativo. Embora as riquezas sejam geradas no município, cerca de 83% dos impostos arrecadados vão para os cofres do Estado e da União, restando apenas 17% para o município, que precisa lidar praticamente sozinho com as demandas locais. Mesmo diante desse desequilíbrio, Jundiaí tem feito muito com os recursos de que dispõe. A cidade investe cerca de 60% do seu orçamento em saúde e educação, muitas vezes assumindo responsabilidades que deveriam ser do Estado e da União. O Hospital São Vicente de Paulo é um exemplo claro: presta atendimento regional, mas sem o devido apoio financeiro dos outros entes federativos. Por muitos anos, o governo estadual concentrou investimentos em grandes obras de mobilidade na capital, como o metrô, enquanto o interior — que contribui fortemente para a arrecadação — ficou em segundo plano. Esse modelo precisa ser revisto. Portanto, cidades como Jundiaí fazem o possível dentro de um cenário fiscal limitado. A revisão do pacto federativo é urgente para permitir que municípios disponham de mais recursos e possam avançar com maior agilidade na solução dos desafios sociais. Ainda assim, é importante reconhecer que, como todas as cidades brasileiras, Jundiaí também enfrenta problemas sociais, que exigem atenção contínua e políticas públicas consistentes para garantir qualidade de vida à população.
Com o crescimento, mais carros tomaram as ruas, assim como os congestionamentos. O trânsito foi devidamente contemplado entre 2008 e 2024?
Entre 2008 e 2024, o trânsito de Jundiaí passou a refletir, de forma cada vez mais nítida, o avanço econômico e social da cidade. O crescimento econômico, ao elevar a renda e a capacidade de consumo da população, fez crescer exponencialmente o número de veículos — hoje, praticamente um por habitante. Contudo, as políticas públicas voltadas à mobilidade não acompanharam essa transformação na mesma velocidade, em grande parte devido à ausência de investimentos dos governos estadual e federal, tornando o trânsito um dos principais gargalos urbanos. Embora o período tenha registrado avanços pontuais em obras viárias e na ampliação de vias estruturais, não houve uma política contínua e integrada de mobilidade que articulasse transporte público, modais alternativos e planejamento urbano. O sistema viário de Jundiaí ainda guarda características da década de 1980, sem corredores exclusivos para ônibus e com baixa conectividade entre bairros. Além disso, barreiras físicas como as rodovias Anhanguera e Bandeirantes continuam a dificultar a circulação interna, aumentando o tempo de deslocamento mesmo em curtas distâncias. Do ponto de vista econômico, esse cenário afeta diretamente a produtividade e a competitividade local. O tempo perdido no trânsito gera custos logísticos mais altos para as empresas e reduz a eficiência do deslocamento de trabalhadores e mercadorias. Portanto, é possível afirmar que, embora tenha havido esforços pontuais, o trânsito e a mobilidade não foram devidamente contemplados entre 2008 e 2024 dentro de uma visão sistêmica e de longo prazo. O desafio agora é encarar a mobilidade como parte do desenvolvimento econômico, investindo em transporte coletivo de qualidade, novos modais e medidas que incentivem uma mudança cultural no uso do automóvel.

Neste período, quais as experiências do poder público que ‘equilibraram’ o desenvolvimento econômico ao social?
Entre 2008 e 2024, Jundiaí vivenciou um processo de crescimento econômico expressivo acompanhado de políticas públicas que buscaram equilibrar o desenvolvimento econômico ao social. Diversas experiências do poder público se destacaram nesse sentido. A TVTEC é um dos exemplos mais emblemáticos. Idealizada como uma emissora pública, transformou-se em uma verdadeira escola de economia criativa, oferecendo cursos gratuitos nas áreas de audiovisual e criações digitais. Mais de 40 mil alunos já se formaram, muitos dos quais hoje integram o mercado de trabalho criativo, impulsionando a inovação e gerando renda. Essa política pública inovadora alia inclusão social, formação profissional e dinamismo econômico, tornando-se um case de sucesso reconhecido nacionalmente. Outro eixo de equilíbrio entre o econômico e o social está na valorização da área rural. A agricultura familiar e o turismo rural não apenas fortalecem a economia local, como também preservam o patrimônio cultural, ambiental e paisagístico de Jundiaí. Esse modelo de desenvolvimento respeita a identidade do território e amplia as oportunidades de renda, promovendo um crescimento sustentável e integrado. A Serra do Japi representa, nesse contexto, o desafio e a oportunidade de conciliar a preservação ambiental com o pertencimento social. Garantir o acesso responsável da comunidade e o fortalecimento das atividades sustentáveis em torno da Serra é essencial para manter o equilíbrio entre conservação e desenvolvimento. Por fim, a priorização da primeira infância, adotada como política central a partir de 2017, simboliza o compromisso do município com um futuro socialmente equilibrado. Investir nas crianças é investir no capital humano, o que traz impactos econômicos e sociais duradouros. Esse conjunto de iniciativas — somado à localização estratégica e à boa gestão pública — consolidou Jundiaí como a 18ª economia do Brasil, demonstrando que é possível aliar prosperidade econômica a qualidade de vida e justiça social.
Quais os caminhos que Jundiaí deverá trilhar para se consolidar o município como referência nacional em sustentabilidade, inovação e inclusão social?
Jundiaí está no caminho certo. A consolidação do município como referência nacional em sustentabilidade, inovação e inclusão social passa, necessariamente, pela implementação integral das ações previstas no Plano Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Internacionalização (PDEII). Trata-se de um estudo técnico e participativo, baseado em dados primários e secundários e construído com a contribuição de cerca de 2 mil pessoas, o que o torna o instrumento mais consistente para orientar o desenvolvimento sustentável da cidade. Para avançar, Jundiaí precisará enfrentar seus desafios estruturantes, especialmente nas áreas de formação de capital humano, modernização do arcabouço legal municipal, mobilidade urbana, e infraestrutura de água, energia e rede de dados. São pilares essenciais para sustentar um crescimento equilibrado e resiliente. Ao mesmo tempo, é fundamental potencializar as vocações econômicas locais, fortalecendo o empreendedorismo de pequenos e médios negócios, os setores de tecnologia, saúde, turismo, e a indústria de alimentos e bebidas — áreas em que Jundiaí já demonstra vantagens competitivas. Com planejamento, continuidade de políticas públicas e valorização das pessoas, Jundiaí pode continuar sendo uma referência nacional, demonstrando que desenvolvimento econômico e qualidade de vida podem caminhar juntos, mesmo em um país marcado por grandes desigualdades urbanas.
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