O encanto do INESPERADO

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Viver nunca foi tarefa simples. Contudo, nos dias atuais tudo parece ainda mais mutável e imprevisível. O mundo está em constante movimento, como se os acontecimentos se reinventassem a cada amanhecer. Nada é exatamente o que aparenta ser e esse cenário tão fluido, que em certas horas assusta, também guarda uma beleza espontânea. A vida, em seu ritmo acelerado, nos oferece a surpresa do inédito. Cada dia surge como uma página em branco, convidando a escrever histórias que nunca poderiam ser repetidas. Há alegria nessa possibilidade de descobrir, de tentar de novo, de se surpreender com o que parecia comum. Há quem olhe para essa fluidez com temor, acreditando que a instabilidade rouba a segurança. Entretanto, existe um encanto especial no fato de que o presente nunca se apresenta igual ao passado. O tempo transforma, o mundo transforma, e nós nos transformamos junto. De forma silenciosa, aprendemos a nos adaptar, a enxergar brechas de esperança em meio ao desconhecido.

O hoje é tão misterioso que nos obriga a estar atentos às oportunidades que brotam de pequenas situações, aos encontros que chegam sem avisar e às lições que florescem de momentos aparentemente banais. Viver se torna uma aventura diária, um exercício constante de renovação. As relações humanas, mesmo atravessadas pela lógica da tecnologia e pelas telas que nos aproximam e afastam ao mesmo tempo, ainda guardam o potencial de encantar.

Vivemos na era da cibercultura, que favorece a informação e a conexão rápida, mas que muitas vezes tenta substituir o toque pelo clique. Apesar disso, ainda encontramos pessoas que se recusam a perder a ternura. Pessoas que sorriem olhando nos olhos, que dedicam tempo ao diálogo verdadeiro, que se alegram com o simples ato de existir ao lado de outros seres humanos. Há quem faça questão de lembrar que sentir ainda é uma força poderosa e insubstituível.

Existe encanto ao perceber que o humanismo não desapareceu. Ele se oculta às vezes, pressionado pela pressa e pela superficialidade do cotidiano, mas resiste nos gestos que acolhem e nos afetos que perduram. A convivência com quem valoriza a vida em toda a sua profundidade nos fortalece. Pessoas assim resgatam o brilho de estar junto, de aprender a cada troca, de compreender que ninguém cresce isolado. A felicidade não nasce apenas no conforto de bens materiais ou na satisfação de pequenas conquistas.

Cresce, sobretudo, na harmonia dos vínculos, nos encontros que despertam o melhor de nós. Mesmo em tempos tão confusos, as aprendizagens continuam surgindo de forma virtuosa. Cada relação que estreitamos nos oferece refletir sobre nossas próprias atitudes e escolhas. Há sempre algo novo a ser entendido sobre nós mesmos quando o outro se aproxima. O caminho que percorremos se torna mais leve quando partilhado.

O desconhecido se torna menos assustador quando a mão de alguém nos acompanha. A vida ganha sentido quando percebemos que a alegria pode estar em pequenas delicadezas, em sorrisos que surgem sem motivo, em encontros simples que nos devolvem a certeza de que vale a pena existir. A verdade é que o mundo moderno não diminuiu a possibilidade de felicidade. Ele apenas mudou os caminhos pelos quais ela chega até nós. Precisamos apenas manter o olhar sensível para o que importa.

A tecnologia pode acelerar a comunicação, mas não pode substituir a profundidade dos sentimentos. A rapidez do tempo pode gerar ansiedade, mas também nos ensina a valorizar o presente. A fluidez dos vínculos pode assustar, mas também nos convida a sermos mais inteiros e verdadeiros nas relações que escolhemos cultivar com encanto.

Conviver com pessoas que demonstram o humanismo que carregam dentro de si nos faz acreditar que o futuro ainda pode ser belo. Elas lembram que a vida merece ser celebrada, mesmo quando o caos parece dominar. São faróis discretos que iluminam o caminho, permitindo que encontremos sentido mesmo nas noites mais incertas. A alegria de viver nasce exatamente dessa mistura de surpresa e profundidade.

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Do novo que chega para reinventar nossas certezas e do afeto que permanece para reafirmar nossa humanidade. Que nunca percamos a capacidade de nos surpreender. Que saibamos reconhecer o valor dos encontros que acontecem sem esforço e das amizades que florescem por afinidade.

Que cada amanhã continue carregando mistérios que nos impulsionem a seguir em frente com entusiasmo e encanto. Viver não é decifrar totalmente o mundo, mas dançar com a imprevisibilidade dele. Em tempos tão líquidos e tão velozes, a maior felicidade está em continuar sendo, acima de tudo, humanos.(Foto: Sam Lion/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona, ainda, na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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