Durante anos, o comércio eletrônico evoluiu de vitrines digitais para plataformas orientadas por dados. Agora, entramos em uma nova fase: o comércio agêntico, modelo em que agentes de inteligência artificial atuam de forma autônoma para pesquisar, decidir e executar compras em nome de pessoas e empresas. Não se trata de conveniência incremental, mas de uma mudança estrutural na lógica do consumo digital.
Globalmente, os números deixam claro que essa não é uma aposta conceitual. Estudos da McKinsey indicam que agentes de IA aplicados ao comércio podem movimentar entre US$ 3 trilhões e US$ 5 trilhões até 2030, valor comparável à criação do próprio e-commerce moderno. Nos Estados Unidos, projeções da Bain estimam que 15% a 25% de todo o e-commerce americano poderá ser intermediado por agentes autônomos até o fim da década. Já análises da Morgan Stanley apontam um impacto adicional de US$ 115 bilhões em vendas online apenas com a adoção de agentes de compra baseados em IA.
O que sustenta esse crescimento não é apenas tecnologia, mas mudança de comportamento. Consumidores e empresas estão cansados de atrito entre processos, múltiplas telas, comparações manuais, decisões repetitivas. Agentes inteligentes prometem assumir essas tarefas, operando com critérios claros, ou seja, preço, prazo, reputação, sustentabilidade e executando decisões em tempo real. O foco humano deixa de ser o processo e passa a ser a estratégia.
No Brasil, esse movimento ocorre em um terreno fértil. O país já figura entre os mercados mais avançados em pagamentos digitais, uso intensivo de smartphones e adoção de IA em interações comerciais. Pesquisas recentes mostram que mais da metade dos consumidores brasileiros já utilizou algum tipo de ferramenta de IA generativa, índice acima da média global inclusive. Além disso, a confiança em recomendações algorítmicas é elevada, especialmente em marketplaces e serviços financeiros.
Isso coloca o Brasil em uma posição peculiar; não somos líderes no desenvolvimento dos grandes modelos, mas somos early adopters pragmáticos. O comércio agêntico tende a avançar primeiro em áreas onde já existe maturidade digital: varejo online, serviços financeiros, logística e compras corporativas. Pequenas e médias empresas, em especial, podem se beneficiar ao delegar decisões operacionais a agentes capazes de negociar preços, otimizar estoques e reduzir custos de aquisição.
No entanto, essa transformação muda radicalmente a dinâmica competitiva. Marcas não disputarão apenas a atenção do consumidor, mas a preferência dos agentes que operam em seu nome. Catálogos mal estruturados, dados inconsistentes e políticas pouco transparentes tendem a ser penalizados por sistemas que priorizam eficiência, confiabilidade e previsibilidade. A otimização deixa de ser apenas para humanos e passa a ser também para máquinas.
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Há, evidentemente, desafios relevantes. Governança de dados, segurança, limites de autonomia e responsabilidade legal são temas centrais. Relatórios globais mostram que mais de 70% dos varejistas já testaram agentes de IA, mas poucos avançaram para implementações maduras justamente por essas barreiras. A confiança será o principal ativo dessa nova economia: confiança do consumidor em delegar decisões e confiança das empresas em permitir que agentes atuem em seus sistemas.
O comércio agêntico não elimina o papel humano; ele o desloca. Executivos, empreendedores e gestores precisarão pensar menos em cliques e mais em arquitetura de decisões, menos em campanhas isoladas e mais em ecossistemas inteligentes. Quem entender isso cedo terá vantagem competitiva real.
Como em toda grande transição tecnológica, não se trata de perguntar se ela vai acontecer, mas quem estará preparado quando se tornar padrão. No comércio digital, o futuro não será apenas automatizado. Ele será, cada vez mais, agêntico.(Foto: Ron Lach/Pexels)

ARTUR MARQUES JR
É cientista de dados e especialista em IA aplicada, com sólida atuação em educação digital e inovação. Coordena a pós-graduação digital na Cruzeiro do Sul Educacional e é PhD em Ensino de Matemática, Mestre em Física Computacional e Astrofísica. Atua como palestrante, mentor, cofundador do Grape Valley, é VP Fiscal do Hosp. GRENDACC e já foi VP da DAMA Brasil.
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