Vivências de Carnaval e desatinos, em Jundiaí, foram assunto em destaque nas redes sociais e em outros meios de comunicação. Li diversos deles, tanto os que demonstraram o entusiasmo de inúmeros foliões, como os de reclamos. Participei dos festejos do Momo, de 1967 a 1986, nos bailes do Grêmio CP: cinco noites e dois matinês. No carnaval de 1987, meu pai se encontrava acometido da doença grave, que o levou. Não tinha gosto para diversão. Acabei perdendo o ritmo de confetes e serpentinas. Mas não deixo de considerar que faz parte da cultura brasileira e que se divertir, sem excessos que prejudiquem o folião e o entorno, é muito bom.
Na tarde da segunda-feira de Carnaval, fui ao centro da cidade para uma compra e me surpreendi com o número de jovenzinhos de olhar embaçado, com garrafa de Vodka, de pinga azul Bala Blue… Aparentavam 13, 14, 15 anos… Que judiação! Conversando com uma professora de ensino fundamental, contou-me que orientara os adolescentes para que se divertissem sem bebida alcoólica. Recebeu como resposta que bebiam para “curtir um barato”. E quando enjoarem desse “barato”? Em seguida, questionou se a mãe sabia sobre uso de bebida por alguns deles. Retrucaram que também bebia e lhes ofertava. Difícil!
Em 1985, participava de um trabalho denominado “Pró-Menor”, sob a coordenação do Juiz de Menores da época, o inesquecível Dr. Paulo Sérgio Fernandes de Oliveira, e o também saudoso empresário Francisco Siqueira Filho. Dentre outras ações, promovíamos, no final de semana, eventos culturais e esportivos em bairros distantes, com destaque para os valores do local. Considerávamos a importância de recuperar a identidade dos anônimos sociais. Saber que alguém é fulano de tal, ou reconhecer que é filho desta ou daquela pessoa, é uma maneira de inibir determinadas atitudes desagradáveis. Penso, portanto, que a apresentação regionalizada dos blocos facilita a identificação e dificulta atitudes incompatíveis com as normas dos bons costumes por parte dos desordeiros.
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Quanto ao bloco Refogado do Sandi, é tradição no centro. A organização acontece o ano todo, via “deretora” Gisela Vieira e equipe. E organização bonita, que reúne as pessoas em eventos diversos em nome da alegria. Não participo, mas acompanho através das redes sociais e imprensa e aplaudo. O Refogado do Sandi me faz lembrar o frevo de Caetano Veloso: “A Praça Castro Alves é do povo / como o céu é do avião/ um frevo novo,/ eu peço um frevo novo/ todo mundo na praça/ e muita gente sem graça no salão…”
Perdoem-me os que pensam o contrário, mas considero adequado o “Refogado do Sandi”, nos seus 25 anos, no centro. Possui história e raízes em um nobre ponto cultural da cidade, o Gabinete de Leitura Ruy Barbosa. Quantos aos desatinos de alguns – minoria -, será preciso refletir em conjunto sobre uma forma de resolver, sem “enjaular” o Carnaval. (Foto acima: socientifica.com.br)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho.