VÍDEO-Uma cientista de Jundiaí na luta contra as mudanças CLIMÁTICAS

A cientista jundiaiense Fabiana Barbi, de 37 anos, participará da Conferência do IPCC, sigla para Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, que começa hoje (5), em Edmonton, no Canadá. O evento deste ano tem o objetivo de reunir os maiores especialistas, discutir os efeitos do aquecimento global nas cidades, o que está sendo feito para melhorar a situação e criar uma rede de informações. Este trabalho gerará um relatório que será publicado em 2020 com as possibilidades para frear o aquecimento global e também pensar nas adaptações que serão necessárias caso nenhuma solução seja atingida.

Fabiana é socióloga, tem mestrado e doutorado em Ciência Ambiental. Hoje ela faz pós-doutorado no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), da Unicamp e trabalha na área de mudanças climáticas. Ela conversou com o Jundiaí Agora sobre os estragos que a humanidade vem fazendo ao planeta:

O que é o IPCC?

Trata-se de um organização que surgiu exatamente há 30 anos através do programa de Meio Ambiente da ONU e da Organização Meteorológica Mundial. Naquela época, em 1988, já havia preocupação sobre aquecimento global. Foram reunidos os maiores e melhores cientistas para juntar pesquisas e tirar conclusões sobre o clima global. Desde então já foram divulgados cinco grandes relatórios: em 1990; 1995, que deu origem ao Protocolo de Kioto, instrumento para limitar emissões dos gases que causam o efeito estufa; 2001 e 2007. Neste último, o relatório afirma que o aquecimento é provocado pelas ações humanos, sobretudo a queima de combustíveis fósseis.

Por que vão tratar das cidades especificamente?

As cidades são áreas de grande impacto quando se trata das mudanças climáticas. Estamos vendo períodos com muita chuva, alagamentos e deslizamentos. As secas também estão ocorrendo com maior frequência. O ano de 2014 é um bom exemplo. O sistema Cantareira quase entrou em colapso. O aumento da temperatura também tem a ver com o aumento do nível do mar. Jundiaí não será afetada. Mas o Brasil tem 8 mil quilômetros de costa. As Cidades são espaços que já afetados pelas mudanças climáticas e ao mesmo tempo são os locais que mais contribuem para o aumento do problema. Elas causam o problema e podem ter as possíveis soluções.


VEJA ENTREVISTA DE FABIANA BARBI À TV UNIVESP, EM 2014, SOBRE O LIVRO ‘MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AS RESPOSTAS POLÍTICAS NAS CIDADES:

 


E quais os objetivos do IPCC?

Pensar nos aspectos conhecidos sobre tema: o que já sabemos que ocorre nas cidades e o que ainda falta? Além disto, será criada uma rede de pesquisas e para trocar informações para um relatório que será divulgado daqui a dois anos. É um esforço para juntar o mundo para que cheguemos a algum lugar. Mostrar o que está sendo feito é bom mas não é suficiente. É preciso mostrar como será feito e o que ainda precisa ser realizado. O Brasil tem política mudanças aprovada em 2009 para minimizar sua responsabilidade frente ao problema. Com as queimadas na Amazônia e Cerrado, o Brasil contribui com o aquecimento global. Diminuir desmatamento significa reduzir as mudanças climáticas. É verdade que avançamos durante um certo tempo. O desmatamento foi reduzido. Porém, em 2012 voltou a aumentar, assim como as emissões de gases. O Brasil está desenvolvendo um plano de adaptação para mudanças climáticas que afetarão a todos, seja pobre, seja rico. Muita coisa já está acontecendo e é preciso saber responder a elas.

Qual é exatamente a área de pesquisa da senhora?

Trabalho com a governança das mudanças climáticas nas cidades brasileiras. Temos 5.570 municípios. Só sete têm políticas aprovada para amenizar os efeitos das mudanças climáticas. É pouco e são iniciativas isoladas. Algumas não têm plano de adaptação, ou seja, pensar como se precaver aos impactos das mudanças.

A senhora escreveu um livro sobre este tema?

Sim. O título é Mudanças Climáticas e as Respostas Políticas nas Cidades, da editora Unicamp, publicado em 2015…

Este evento só terá a senhora de brasileira?

Sei de uma professora da Bahia e de uma representante da Prefeitura do Rio de Janeiro. O IPCC não é voltado apenas para cientistas. Muitos políticos, como prefeitos, participam, além de integrantes de ONGs. Mas poucos brasileiros deverão participar.

Como a senhora vê a política dos Estados Unidos em relação ao aquecimento global?

Com Donald Trump, os americanos deram passo para trás. Em 2015, no Acordo de Paris, a maioria dos países concordou com o estabelecimento de metas voluntárias, inclusive o Brasil e os Estados Unidos. Com Trump na presidência, os Estados Unidos saíram do acordo. O interessante é que internamente muitas cidades e estados e organizações não concordaram com a decisão dele e estão organizando uma rede para o combate das mudanças climáticas. Então, reconhecem que o problema existe. O IPCC mostra com dados e pesquisas científicas que as atividades humanas são a causa desta questão. Não dá mais para ficar discutindo se as mudanças climáticas existem ou não. Já passamos deste estágio há muito tempo. As mudanças estão ocorrendo. Agora é preciso fazer algo. Se conseguirmos limitar o aquecimento a um grau e meio ainda temos uma chances de lidar com as mudanças. Se ultrapassarmos esta temperatura, as mudanças serão tão grantes que ainda não conseguimos imaginar os impactos para os seres humanos e para o planeta. Pesquisas existem. O que falta é vontade política. Implementar um plano é complicado. Porém, não há ação concreta que saia do papel sem vontade política…