As vivências de luz e trevas no dia a dia me questionam. Fui à Vigília Pascal no Mosteiro São Bento. O Círio Pascal, a partir da pequena fogueira, acendeu a noite.  Bênção do Fogo Novo. Tudo preparado com esmero. As vozes do coral abrasando a alma. Foram oito leituras começando pelo Livro do Gênesis: “A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: ‘Faça-se a luz! ’ E a luz se fez. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas” (Gen. 1, 3). Na Leitura do profeta Isaías (54, 10): “Podem os montes recuar e as colinas abalar-se, mas minha misericórdia não se apartará de ti, nada fará mudar a aliança de minha paz, diz o teu misericordioso Senhor”.

Do Profeta Ezequiel (36, 26), ouvimos: “Eu vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne…” No Evangelho de São Marcos (16, 1-7), lemos que Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus e foram ao túmulo ao nascer do sol. Depararam-se com a pedra do túmulo retirada e o anjo, vestido de branco, que lhes anunciou que o Senhor ressuscitara.  Luz no firmamento, compaixão de Deus, iluminação para a alma a chama da fé no Ressuscitado.

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No retorno para casa, passo por uma rua sombria. As luzes dos postes com reflexos enferrujados. Na noite do sábado, na primeira esquina, sob a marquise, quatro jovens em situação de degradação, dependentes químicos. Olhar desmaiado, silhueta invisível para alguns. Um deles, com limite físico doloroso, não sei se de nascença, acidente ou provocado pelo uso de entorpecente. Todos eles envoltos pela noite molhada por pingos opacos, sem ao aguardo da aurora.  Nas próximas duas esquinas, vi mocinhas com pouca roupa, à espera de um programa qualquer, por valor ínfimo, que lhes garantisse a próxima pedra de crack.

Que doloroso! Tão distantes da labareda acesa da Vigília Pascal.

Questionei-me e me questiono sobre o que tenho feito com a vela que acendi no Círio Pascal.  Há tantos lugares com sombras e fantasmas necessitando de claridade…(Foto: Youtube)


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho.