A coordenadora da Casa da Fonte; uma delegada aposentada e uma jornalista. Maria Cristina Castilho de Andrade, Fátima Giassetti e Cláudia Marin têm uma coisa em comum. Elas não têm filhos. O Jundiaí Agora fez as mesmas perguntas para as três sobre a ausência da maternidade em suas vidas. Veja as respostas:

Por que não quis ter filhos? 

Cristina Castilho  – Não é uma questão de não querer ter filhos. Fui criada dentro dos valores do catolicismo, os quais, apesar de minhas inúmeras misérias, considerei e considero o melhor para minha vida. Não concebia, portanto, o ter filhos fora de uma situação de casamento. Isso não significa que não respeite e valorize mulheres que são mães e pais para seus filhos. Respondo sobre minha escolha. E, por certo, você me perguntará se não quis me casar. Aos 16 anos, pensei em ser freira. Um sacerdote me aconselhou que aguardasse pelo menos os 18 anos, com mais maturidade. Aos 18, estava envolvida com tantas atividades, incluindo as da Igreja, e não retornei mais a essa ideia. Na criação que tive, meus pais não falavam sobre casar-me ou não, sobre fazer enxoval e outras coisas mais. Então fui vivendo o dia a dia e o casamento não aconteceu e, consequentemente filhos também não.

Fátima Giassetti – Cada ser humano é um universo único. Desde criança nunca gostei de brincar de bonecas. Tive uma única boneca, de porcelana, a Sueli. Meu irmão queria a boneca e eu a escondia. Um dia dei a Sueli para ele. Em dois minutos ele a desmontou. Eu não me importei. Meu negócio era limpar a casinha. Tinha e tenho mania de limpeza. Seria TOC? Não sei? A minha mãe sempre disse que não seria avó de filhos gerados por mim…

Cláudia Marin – Na verdade nunca desejei ser mãe. Nunca quis gerar em mim uma criança. Não sou avessa às crianças. Pelo contrário. Gosto delas. Tenho meus sobrinhos, que quero como filhos.



 

 

 

CRISTINA CASTILHO, DA VONTADE DE SER FREIRA AO CONTATO DIÁRIO COM AS CRIANÇAS DA CASA DA FONTE

 



 

Quando mais jovem imaginava-se mãe? 

Cristina Castilho  – Não me imaginava e nem deixava de me imaginar mãe, mas tive a fase de aguardar um príncipe encantado. Envolvi-me demais na infância com os mais belos contos de fada. Rsss.

Fátima Giassetti – Não. Comecei trabalhar muito cedo. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Não tinha tempo nem para mim…

Cláudia MarinNunca me senti com vontade de ser mãe. Algumas pessoas não compreendem. Acham que é impossível uma mulher não desejar a maternidade. Quando casei, não sabia se meu marido ia querer ter filhos. Ele nunca foi ‘tarado’ para ser pai. Fomos ao médico para saber se poderíamos ter. Podíamos. E decidimos não tê-los

Se sim, como pensava que agiria com seus filhos?

Cristina Castilho – Se tivesse filhos, procuraria agir da forma como meus pais agiram comigo e com meu irmão. Fomos bem cuidados e amados. Éramos valorizados nos acertos e corrigidos, sem qualquer sinal de violência, nos erros.

Fátima Giassetti – Filhos nunca foram meu sonho consumo. Faltava dinheiro para muita coisa. Se tivesse filho só pioraria. Não precisava ser doutor em matemática para saber disto…

Cláudia Marin – Eu e meu marido brincamos com isto. Sempre imaginamos que não faríamos isto ou aquilo. Temos nossa crença, nossa fé, nossa maneira de agir. Meu marido até ironiza: ele diz que seríamos perfeitos. Risos.



 

   

A EX-DELEGADA FÁTIMA GIASSETTI: MÃE E AVÓ POSTIÇA

 

 

 



 

Sua vida teria sido muito diferente com eles? Como? 

Cristina Castilho – Se tivesse filhos, sem dúvida me dedicaria menos às causas às quais me dediquei, como em relação aos excluídos. Precisaria ser mais deles.

Fátima Giassetti – Claro que sim! Certamente teria deixado de realizar muitos sonhos. Tudo que fiz e faço é sempre bem feito. Muitas das minhas realizações não teriam sido possíveis se tivesse filhos.

Cláudia Marin – Com certeza. Nossa vida, nossa rotina, nossas prioridades. Faríamos como toda família faz: pensaríamos na educação dos filhos, numa boa escola. Não diria que nossa vida seria pior. Só digo que nós tivemos outra escolha. Somos mais livres. Mais donos das nossas vidas, dos nossos afazeres e do nosso lazer. Filhos impediriam de fazer algumas coisas. Filho é dedicação. É um amor pleno, indiscutível. Deve ser o amor mais completo do mundo. Mas não invejo que os tem. E também não os desejo. Na boa, na paz!

Acha que teria sido uma boa mãe? 

Cristina Castilho – Não sei se teria sido uma boa mãe. Pergunta difícil. Mas por certo tentaria.

Fátima Giassetti – Sou uma boa pessoa. De bom coração. Tenho coração mole e enorme. Não sei se seria uma boa mãe. Mas faria o meu melhor. E seria boa para eles…

Cláudia Marin – Eu e meu marido tivemos uma base educacional muito boa. Creio que saberíamos passar isto para nossos filhos. Sem nenhuma presunção, acho que eu me sairia bem sim…

Há um vazio por conta da ausência deles? Frustração? 

Cristina Castilho – Não sinto que haja um vazio, porque creio que Deus me propôs algumas missões e, apesar de meus limites, procurei me dedicar a elas. Mas somente concluí que não seria mais mãe, após ter endometriose e passar por cirurgia de extração do ovário. No tempo de recuperação, experimentei uma certa nostalgia do tempo em que ainda poderia ser mãe. Depois, as emoções se acertaram.

Fátima Giassetti – Não! Acho impossível sentir falta de algo que não se teve. Filhos nunca me fizeram falta. Gosto da minha liberdade de ir e vir na hora que quero e com que eu quero. Encaro as coisas de forma muito séria. E os filhos me deixariam presa. Desconheço o que seja frustração nesta vida. Tive decepções. Sou facilmente adaptável. Não perco a fé nem a alegria de viver. Frustração não combina com a minha moldura.

Cláudia Marin – Não. Tenho uma mãe maravilhosa, companheira, que brincou comigo. Sempre me dediquei à minha profissão e ao meu marido.



 

       

A JORNALISTA CLÁUDIA MARIN NÃO ESCONDE QUE ADORA SER ‘TIA’

 

 



 

De alguma forma compensou este fato? 

Cristina Castilho – Não é uma compensação, mas creio que toda a mulher pode ter a experiência de maternagem. Amei demais ser professora durante décadas, convivendo com crianças e adolescentes. Ainda convivo, a partir do trabalho na Casa da Fonte. Mas não são meus filhos emprestados. Não misturo os papéis. É povo miúdo e um pouco maior que trago no coração. Fazem-me um bem imenso. Contudo a minha experiência forte de maternagem é com os excluídos. É incrível. Experimento em relação a eles uma vontade de gerar para uma vida nova. É a minha maternagem de fato.

Fátima Giassetti – Vivi e vivo de forma intensa. Trabalhei com afinco. O primeiro casamento foi muito rápido e não cogitamos ter filhos. No segundo, meu marido já tinha três. Adoro todos. Tenho um excelente relacionamento com minhas enteadas. Tenho vários filhos e filhas postiços. Netos e netas também! É muito gratificante.

Cláudia Marin – Curto as barrigas grávidas das minhas amigas. Sou feliz sendo ‘tia’. Estou muito contente com as minhas escolhas…

Como analisa o dia das mães? É meramente uma data comercial?

Cristina Castilho – O Dia das Mães tem sim um apelo comercial, mas há muito forte essa oportunidade de enaltecer aquela que tem uma história de doação incrível, que faz sorrir o Céu. Então possui também um grande valor.

Fátima Giassetti – Eu adoro o Dia das Mães. Sempre comemorei com a minha, uma guerreira. Ela se foi e deixou uma saudade infinita. Mas continuo comemorando com gente querida. Não vejo a data como meramente comercial. Muitos filhos amam e não podem comprar presentes. O significado deste dia é sublime para mim. Não ter sido mãe não é falta de sensibilidade minha. Eu tive o amor da minha. Mãe é algo sagrado.

Cláudia Marin – Pode até ter. Mas adoro o Dia das Mães. Faço aniversário em maio, dia 14. A cada sete anos meu aniversário cai no Dia das Mães(risos). Sempre comemoramos com família, com a minha mãe que está bem e com muita saúde, com minha irmã, sobrinhos, prima. Fazemos um churrasco. Cantamos parabéns para todas.