Há várias formas de se falar sobre um assunto, seja quando ainda não o conhecemos, seja quando já temos ciência do que se trata, mas queremos saber mais. Esse é o caso dos agrotóxicos. Perante tantas questões que cotidianamente nos acercam, é fundamental que cada um possa se posicionar, pois uma hora haverá de responder: por que há resíduos de venenos nos alimentos que compro? Quem decide isso? Posso fazer algo para garantir minha saúde? Tem a ver com as leis ou só com o agricultor? E as empresas químicas? Mas não é assim em todo mundo?
Hoje propomos aqui novos olhares, por meio dos filmes: alguns, como veremos, não tão novos assim, mas todos convergindo para ampliar nosso conhecimento, com o intuito de ajudar a formar nossa opinião. Formar não é engessar! É só um começo…para pensar, associar, buscando entender e seguir aquele riacho do bem e do bom, para todos. “Ah, mas pode-se ir contra a corrente!”. Ops! Essa é a ideia! Vamos lá?
Filmes, documentários, curtas: começamos com o “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, lançado em Porto Alegre, nos idos de 1989. Já o citamos aqui e não tem a ver diretamente com agrotóxicos, mas é bem atual, pois muitas questões levantadas, de forma genial, ainda são pontos de reflexão e não resolvidas. Dá para baixar gratuitamente, (https://youtu.be/LETSDS8qm9U). Aliás, a pedida é embarcar na onda desse genial diretor, Jorge Furtado, assistindo “O homem que Copiava”, 2003, “Saneamento Básico”, 2007, e outros, nessa toada.
Colocando o tema central literalmente à mesa, temos o “Veneno Está na Mesa”, parte 1(acima), lançado em julho de 2011 (https://youtu.be/fnyZwI7022) e parte 2, lançado em 2014 (https://youtu.be/fyvoKljtvG4), do também talentoso Sílvio Tendler. Objetivo e corajoso, Tendler mostra nesse documentário o outro lado da história do modelo agrícola imposto a países, como o Brasil, a partir do pós guerra, décadas de 1960/70. Aqui não vamos nem resumir, pois é tão rico em histórias, depoimentos, que qualquer síntese não fará jus à riqueza de informações e de vida. “Vá-lá-já”, baixe essas preciosidades, prepara a pipoca e…preste atenção!
Estes indicados acima e uma variedade imensa de material foi colocado ao público, nesse mês de junho, na 7ª. Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental (acima), em São Paulo, de 31 de maio a 13 de junho. Foram mais de 120 filmes veiculados em cineclubes de fácil acesso, perto do metrô, nos CEU´s (Centros de Arte e Esportes Unificados), ETEC´s (Escolas Técnicas Estaduais), abordando panoramas históricos, retrospectiva Werner Herzog, cineasta polêmicos e por isso mesmo instigante, refletindo sobre o embate natureza versus homem, entre outros, trazendo olhares dos quatro cantos do mundo para a questão ambiental no sentido mais amplo possível, que inclui homens, mulheres, saúde, igualdade, justiça. E o melhor, gratuito! Já foi esse ano, mas não é para ficar triste: o evento é anual, e para se ter uma amostra, segue link de filmes colocados para baixar, na faixa, no “Vasco” (https://bit.ly/2EAG2Ep).
Destaque aqui para a homenagem a Chico Mendes, seringueiro ativista e sindicalista, que pagou com a vida em 1988, em Xapuri/Acre, sua luta pela defesa de dignidade na preservação de seu trabalho, terras e sobrevivência na e da Amazônia legal, que abrange 9 estados, como Acre, Pará, Rondônia. O objetivo é deixar viva a chama que acendeu, pois a solução rápida – assassinato sem justa punição – a reivindicações em prol da comunidade local é ainda vigente. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ocorreram no estado do Pará, entre 1964 e 2010, 914 assassinatos de trabalhadores rurais, religiosos e advogados por questões de terra. Desse total, 654 ocorreram no sul e sudeste do Pará. Exemplo de assassinato sem punição é o da missionária Dorothy Strang, executada com 6 tiros à queima roupa em 2005 em Anapu/Pará, com matador e mandantes ainda em liberdade hoje, 2018.
E a questão da terra tem tudo a ver com agrotóxicos. Sugerimos outro documentário de cerca de 25 minutos, “Nuvens de Veneno”(ao lado), de 2013 (https://youtu.be/v2eUR5EyX9w), de Beto Novaes, cineasta e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que traz mais dados e outros “lados” da produção de grãos, no centro-oeste brasileiro, especialmente Mato Grosso.
Retomando as perguntas lá do início: tem lei para isso? Qual a situação dela (s) hoje? Chegamos então com “notícias frescas nesse disco” (parafraseando Chico Buarque, em “Meu Caro Amigo”, 1976).
A lei federal 7.802/1989, chamada de lei dos agrotóxicos, está sendo objeto de reforma pelo projeto de autoria do senador Blairo Maggi (PP, Partido Progressista), ministro da agricultura desde 2016. “Reforma” essa que tem grande resistência e indignação de pesquisadores renomados (SBPC, FIOCRUZ), instituições de ensino, ONG´s ligadas a movimentos comunitários, de agricultura familiar e agroecologia, fundações e institutos ligados à cura do câncer (INCA), pois expressa preocupante retrocesso ante conquistas para melhoria da saúde do ambiente, do agricultor e do consumidor.
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Só para ilustrar, restringe atuação de órgãos como ANVISA no processo de liberação e controle dos agrotóxicos, concentrando as competências no setor da agricultura; aliada a outra alteração, que é a criação do registro/autorização “temporária, para produtos químicos não autorizados, revelam-se medidas temerosas pela substituição do aval técnico pelo político/partidário; some-se a estas a eliminação dos atuais critérios de proibição de registro de agrotóxicos com base nos efeitos deles em causar câncer, mutações, defeitos congênitos, distúrbios hormonais, em seres vivos, o que inclui nós, humanos. Ah! Alteração da terminologia: nada de falar “agrotóxico”, mas voltar no tempo, tipo uns 60 anos, nomeando o produto químico de “defensivo fitossanitário” ou “produto de controle ambiental”.
Enquanto o país se distrai com o futebol, nessa terça, dia 19 de junho, acontecerá uma reunião deliberativa da comissão especial deste projeto de lei 6.299 (https://bit.ly/2I1C8Lu), com resultados temidos se for aprovado. Se ainda restam dúvidas das intenções dessa reforma e de seus apoiadores, finalizamos com esse documentário, saído do forno (Goiás, 2018), “Brincando na Chuva de Veneno: Cinco anos depois” (https://youtu.be/2Rc4pr6V4bM), de Dagmar Talga. Trata-se do que aconteceu após a pulverização aérea de agrotóxico da multinacional Syngenta em área rural de Rio Verde, Goiás, em 2013, atingindo quase uma centena de crianças, adolescentes e adultos no recreio de escola.
Com novos olhares, caberá talvez a pergunta: “agrotóxico: nominho suave ou exagero?”
ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS
Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.
CRÉDITOS
. Abertura
https://bit.ly/2MyAgIC/https://bit.ly/2teimCd
. Divulgação do filme “o veneno…”
https://bit.ly/2HUB0UO
. Cartaz “Mostra Ecofalante…
https://bit.ly/2lfa7SQ
. Nuvens de veneno:
https://bit.ly/2JPxflb