Passou Dia dos Pais e eu pouco me referi a ele, a não ser a mensagem curta que deixei. Agora passou 7 de Setembro, e não me manifestei antes; pode parecer que perdi a mão, que perdi os fatos, que não vi relevância, mas na verdade apenas deixei a coisa passar para poder trabalhar com as idéias, posteriormente. Sem que o fato seja esquecido e sem que ele perca seu valor, afinal 7 de setembro é todo dia em nossas vidas. Lembra do Hino da Independência? Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós! Pois é exatamente isto!!!
O 7 de Setembro é aquele show de horror, com crianças desfilando sem ao menos saber por quê? Ou uma passeata orquestrada de militares, jovens recrutas que igualmente desconhecem a questão da libertação do Brasil das relações portuguesas? Ou um sem número de outros personagens que buscam fazer um malabarismo sócio-cultural para engendrar numa temática nada a ver, ofertando como lição de patriotismo?
Porque neste dia vale tudo, não é? Desfile de motoqueiros, desfile da terceira idade, desfile de pré-escola, desfile de cães…mas qual o real significado desta salada russa para a dita liberdade nacional? O que significa todo este emaranhado de propostas diante de uma nação falida e sem visão de futuro? Questiono-me se isso é aquilo a que chamam de patriotismo, porque se for, eu ainda não entendi o que é este tal patriotismo.
Fico pasmo ao ouvir todos dizerem sobe o patriotismo; mais pasmo fico quando estou num ambiente e ocasião onde será cantado o Hino Nacional Brasileiro, que até a segunda linha sai bem, daí para a frente ocorrem murmúrios e sussurros, sem sentido e sem som audível. É isso que se chama patriotismo?
Não entendo bem alguns significados. Realmente me questiono sobre algumas afirmações e outras ocorrências: no Dia da Pátria vale tudo? Desfilar faz nascer o amor pátrio? Cantar o hino nacional possibilita crescer com valores morais? Serão estas as questões que estão em jogo? Ou será que tudo isto é fruto de uma educação estruturada e consistente; de diálogos abertos e aprofundados, com pertinência; de conhecimento alicerçado e real; de professores cônscios de seus deveres; de pais presentes e idôneos; de uma religiosidade sem fanatismo?
No momento atual, neste exatamente, vemos pessoas fazendo apologias ao militarismo, sem saber o que isto significa. Vemos outras falando de uma escola libertadora, quando a escola mal está dando conta de ensinar o grafismo e o cálculo elementar. Pais falando em moralidade e cidadania, enquanto burlam o fisco e mentem para a justiça comum. De que ângulo estamos vendo e ensinando o patriotismo? Por acaso não estamos brincando de modernidade, enquanto ainda estamos no século das trevas? Ou na idade da pedra lascada?
Vou levar meu filho ao desfile para ele aprender patriotismo. Sim, leve-o, pois é seu filho, mas quais as lições do parágrafo acima você senta para fazer com ele? Como está sendo vivida a pluralidade de gêneros em sua família? Como se fala da desigualdade social entre os seus? Como se discute valores e virtudes nas refeições? Estes são princípios básicos de um patriotismo. De um espaço íntimo reservado ao respeito à liberdade individual, que em seu processo familiar e comunitário adquire vultos de uma nação livre.
Existe isso? Ou existem bolsões de boas propostas margeados por insensatez e imprudência que chocam os habitantes de um povoado? Como fica difícil conversar com pessoas que valorizam o socialismo sem saber dividir sua própria opinião. Ou vociferam por um imperialismo sem conseguir perceber seu entorno de pessoas famintas e desesperadas por afeto. Sim, carentes de afetos. Aquilo que todos somos.
Onde será que o Brasil errou para que agora nada faça sentido?
Quando começamos a ouvir-falar-pensar nestas situações, as coisas passam a pulular em nossa cabeça e ficamos perdidos diante de tantas falas e tantas interpretações, que não fazem sentido mas povoam o imaginário popular e as crendices (do tipo: ter hasteamento de bandeira deixa a pessoa mais patriota; cantar hino nacional todo dia, idem; explorar o verde-amarelo nas roupas, idem; estimular movimentos de acantonamento e passeios em grupo, idem) de modo a que tudo passa a ser patriotismo.
Mas afinal, será realmente este o nosso desafio e a nossa trilha mais adequada? Ou será que a questão fica por conta daquilo de precisamos incorporar em nossas Vidas, para melhorar nossa trajetória pessoal? Quando se burla o Imposto de Renda é um ato solitário. Quando se atravessa o semáforo fechado, é um ato solitário. Quando não se respeita a faixa de segurança, é um ato solitário. Quando se rouba ou se trapaceia nas arrecadações de determinadas campanhas para hospitais e propostas beneficentes, é um ato isolado. Denúncias sobre corrupção e abuso de poder, são atos isolados. Pois, como impregnar nossos contextos com ações pró-ativas e dirigidas para ações construtivas e adequadas? O que fazer?
Fico pensando numa realidade que vivo, diariamente, na rua do Retiro. Temos uma escola confessional com pais que insistem em parar em fila dupla. Todos, em sua maioria, igualmente confessionais e fizeram opção por esta escola em função disto. Então fica a questão: prega-se e não se vive? Ou prega-se e verbaliza, verbaliza, verbaliza e a ação fica para o juízo final? Se alguém liga para os “amarelinhos”, eles chegam depois do horário de pico e não pegam ninguém estacionado na fila dupla. Inclusive já chegaram a me perguntar: mas fila dupla neste lugar? E eu digo: olha, só eu, com este numero de RG, já fiz mais de cinco solicitações. E…
Ou isto não dá origem ao patriotismo? Patriotismo é só quando tem bandeira e hino? Porque se for, nossas seleções de futebol estarão perdidas, já que poucos conseguem acompanhar o canto, acompanhando a música com certeza da letra. E eles são nossos representantes em campeonatos internacionais. Pois é.
O desrespeito de atendimento em locais públicos (um dia refletirei sobre atendimento numa AME, coisa de perfurar o fígado, se formos levar na calma tibetana, não é patriotismo? Ser mal atendido e ser colocado numa posição vexatória pela funcionária, que fica sentada vendo mensagens nas redes sociais, enquanto a população se espreme em pé, esperando para ser atendido no balcão, porque nesta AME ainda existe um aviso sobre o desrespeito ao servidor publico (aliás, lei em desuso, faz tempo) como se o funcionário publico fosse o patrão e não o servidor, pago pelo dinheiro público. O que dizer disso? Também é patriotismo.
Os exemplos são inúmeros. Os motivos são múltiplos, Os descasos são violentamente grandes. Mas quem se atreve a consertar? Porque o envolvimento em qualquer destes problemas exige disposição e disponibilidade de envolvimento; as pessoas se acostumaram a receber mal atendimento. Tornaram-se passivas diante do descaso com as reclamações que eles fizeram, em outros tempos e isso causa o imobilismo social.
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No mesmo caminho, ouvi uma história hoje: um retorno ao médico, de um amigo pré-infartado. Chegando no hospital, ele foi informado de que o médico em questão acabará de entrar em férias e só voltaria a atender daqui 30 dias. Educadamente ele insiste: como faço? E a resposta foi, educada e polida: senhor, retorne para sua casa e aguarde o reagendamento. Diga: será que a calma tibetana, ou a paz interior budista ou a meditação transcendental solucionam tal descaso? E isso não será também uma observação explícita de patriotismo?
Existem coisas boas? Sim e muitas. Porém não estão sendo suficientes para neutralizar as más e insistentes danosas experiências. Temos, sim, motoristas que param ao ver alguém se aproximar das faixas de seguranças. Mas quantos fazem isso? Na avenida Luiz Latorre? Não vejo. Quantos jovens oferecem seus lugares nos coletivos, para idosos ou grávidas? O que vejo são jovens com aparelhos no ouvido, escutando suas musicas, e fingindo dormir, enquanto os idosos e demais se equilibram nos solavancos dos ônibus. Mas isso não é patriotismo?
Fechando: prezo pela minha liberdade. Esperneio quanto sou violentado em meus direitos básicos e nos não-básicos (se são meus direitos, quero-os). Mas quantos me acompanham nesta luta? Quantos lutam por si e pelos seu próximos mais próximos? Talvez, pela minha inquietude é que meu me coloco defendendo os que se calam, como o senhor que foi chamado de “velho idiota”, na rampa de um estacionamento de supermercado da cidade. Fui defendê-lo e ele me diz: deixa! Essa meninada não tem jeito. Enfiei a viola no saco e sumi.
Quando eu deixo de me defender eu ofereço espaço para o abusador e ele se faz presente. Mas eu não deixo de me defender. Luto pelos meus princípios, ela minha liberdade e pela minha autonomia. Eu comemoro meu 7 de Setembro. Nem sempre de verde-amarelo, mas sou livre e livre morrerei. Tenho fé.(Foto: Maurício Baria/Youtube)
Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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