Ah, como era difícil acordar cedinho para ir à escola. Na sala de aula, o bom mesmo era escolher as carteiras que ficavam encostadas nas paredes e nos escoravam naquele soninho que não queria ir embora. A volta para casa era percorrida com ansiedade. Sim, a meta era chegar, almoçar, fazer o dever de casa e ir pra rua brincar com os amiguinhos. Época boa! O maior perigo era cair de bicicleta e chegar com o joelho esfolado em casa. Carrinho de rolimã, então… Que aventura! Descer a rua em alta velocidade! E olhe eu não havia equipamentos de segurança como joelheira, capacetes etc. E raramente alguém se machucava. Parecia haver limites naquelas mentes inocentes. Uma infância rica e saudável!
As crianças comiam verduras, frutas, tomavam leite, não pulavam as refeições porque precisavam de muita energia para brincar. E quando caíam na cama era pra dormir, sem fones de ouvidos conectados a um celular. O resultado disso tudo? Saúde física e mental! Ninguém era refém de internet; o máximo que se tinha era algumas casas com aparelhos telefônicos convencionais, pois uma linha custava muito caro, e orelhões instalados a cada quarteirão. E era o auge da comunicação para a época! Fim de tarde, pais gritando nas portas de suas casas, chamando os filhos que teimavam em ficar na rua. A brincadeira era boa.
Em tempos de revolução tecnológica e de altas conexões, as crianças de ontem saíram das ruas e se tornaram adultos totalmente dedicados às novas tendências e interações na era da comunicação. Ocupados, grande parte desses pais, que outrora souberam o que é brincar nas ruas e tiveram uma infância saudável, logo cedo equipam seus filhos com um videogame ou um aparelhinho de telefonia móvel. Para se comunicar com eles? Também! Mas é mais para que fiquem brincando em joguinhos oferecidos em milhares de aplicativos disponíveis para baixar. E de graça!
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Nem de longe passa por suas cabeças deixar os filhos nas ruas para brincar. É perigoso. E sem esse hábito, nem mesmo nas reuniões entre amigos ou familiares a gente consegue ver essa garotada interagindo numa brincadeira de pique-esconde, pulando corda, amarelinha ou qualquer coisa do gênero. O que se vê são crianças sentadas lado a lado numa festa, por exemplo, cada uma no seu celular. Ah, que saudade do orelhão! E não raro, mesmo estando lado a lado, elas trocam mensagens, sem necessitar pronunciar uma palavra.
Pobre infância rica! Pais que não conversam com filhos a não ser por WhatsApp. E que não se importam com o conteúdo que o filho está acessando na internet ou com quem o filho está trocando mensagens. Crianças carentes, problemáticas, desrespeitadas em sua necessidade ímpar de interagir com o outro, em conversar de verdade, olho no olho. Se a modernidade nos ajuda a encurtar distâncias, também as aumenta dentro da própria família. Sim, crianças não sabem o que é brincar, não sabem o que é conversar e nem mesmo o que é ter uma estrutura familiar respeitável de fato. Crianças que já nascem presas às tecnologias… Será que não pode existir equilíbrio nessas relações? Não é possível alinhar a necessidade da tecnologia à uma infância saudável? Já passou da hora de parar e pensar nisso tudo. E mudar esse jogo! O equilíbrio é sempre muito mais sensato.(Foto: www.ibcr.org/en)
VALÉRIA NANI
É jornalista pós-graduada pela PUC-Campinas e trabalha como assessora de imprensa. Foto principal: ouropel.blogspot.com
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