E chegou setembro, com sua força total. Mês fundamental para desenvolvermos a empatia e o compartilhamento, que deveria ser a tônica de toda nossa existência. Eu não entendo porque isso não ocorre, eu não entendo, mas…a representação do mês de prevenção do suicídio é a cor amarela e, conforme já trouxe, em 2018, tem lá seu motivo: o casal Dale e Darlene Emme são os responsáveis por isso, pela “yellowribbon”, a fita amarela. Em 1994 o filho do casal, Mike Emme, restaurou um Mustang 68 e o pintou de amarelo; infelizmente seus amigos não perceberam os sinais de alerta do jovem e ele falece. Em seu funeral, uma cesta de cartões com fitas amarelas estava disponível para quem quisesse pegá-los. Todos cartões confeccionados pelos amigos de Mike tinham uma única mensagem: “Se você precisar, peça ajuda”
Aqueles cartões coma fita amarela se espalharam pelos Estados Unidos e se reproduziram vertiginosamente, diante das situações de alerta e de necessidade de ajuda, criando uma corrente nacional, trazendo em seu núcleo aqueles que necessitavam de ajuda, de escuta, de receber um olhar,e torna-se símbolo do programa, incentivando àqueles que têm pensamentos suicidas a buscar ajuda e ser reconhecido como alguém que necessita de escuta. Desta maneira, em 2003, a OMS instituiu o dia 10 de setembro para ser o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, e a cor amarela, do Mustang de Mike, foi a cor escolhida para representar esse sentimento.
É assustador o fato de mais de 900 mil suicídios ocorrerem por ano, no Mundo, o que representa uma morte a cada quarenta segundos. Pior que isso: a cada 10 suicídios temos de 40 a 60 tentativas; precisamos nos convencer de que não se trata de drama, nem de frescura, nem falta de religião. Menos ainda a ideia de chamar a atenção. Trata-se da necessidade de um ouvido, de um acolhimento, da compreensão de alguém, sejam amigos ou familiares, mas que chega na ajuda profissional, visto a seriedade da questão.
O falar terapêutico daquela dor psíquica exige a escuta qualificada que apenas um profissional pode oferecer. Na correria do mundo caótico onde vivemos e com os afetos descolados e fugazes a que somos afeitos, é preciso um olhar sério e comprometido com aqueles que apresentam um comportamento mais diferenciado e mais aflitivo. Ou ainda com aqueles que não demonstram tamanha necessidade ou carência, mas que sinalize qualquer comportamento desviante. É necessário desenvolvermos olhares astutos, acolhedores e atentos para com todos do nosso entorno; nenhum de nós está isento de atenção e carinho.
Sabemos que o índice de suicídio em nosso país é alto e não atinge a uma faixa etária específica, nem a um gênero: temos uma gama de diferentes indivíduos que, por vários e íntimos motivos tentam contra sua própria Vida, de formas e por questões próprias. As razões são as mais variadas e todas elas muito sérias, do ponto de vista do fragilizado, o que significa dizer que todos têm motivos por demais suficientes para atentar contra sua própria vida e tudo o que não precisam é do julgamento dos outros.
Como já conversamos em minha crônica de 2017, no mesmo período, surpreende-nos o grande números de idosos que recorrem a esta alternativa, diante da impossível e inexplicável percepção de pertença à uma sociedade cada vez mais jovem e desrespeitosa. Já, na outra ponta da linha, temos as ocorrências dos suicídios infantis: também inexplicáveis e apavorantes, pelo fato de estarmos diante daqueles que iniciam seus caminhos, não vislumbrando sucesso ou preenchimento do vazio existencial que já toma suas vidas. Nunca deixamos de explicitar a necessidade de um profissional especializado para trabalhar com estes indivíduos mais críticos e sensíveis dos nossos grupamentos sociais.
Entretanto, precisaremos dos olhos e ouvidos dos familiares e amigos próximos para que toda e qualquer ação no sentido de ajudar e acolher aquela dor psíquica e aquele vazio existencial seja sempre coletiva e tenha sempre a presença de pessoas significativas para a pessoa que busca dar fim em sua Vida. Não são apenas falsos objetivos nem grandes desilusões que se apresentam como fortes motivadores para o suicídio:muitas vezes o acumulo de insucessos ou de negativas e a impossibilidade de perceber o sucesso, à distância, transforma-se no estopim para pensamentos destrutivos.
Até mesmo a facilidade exagerada na obtenção de coisas difíceis pode criar a sensação de falta de emoções na trajetória da Vida, deixando-a sem sentido e sem prazer. Isto permite a instalação de uma sensação de plenitude, o que nem sempre é saudável, diminuindo a vontade da conquista. Estas possibilidades apontam para um espaço que prediz ser importante que tudo tenha seu devido valor: nem mais, nem menos. O devido valor para que uma Vida possa se empenhar em sua conquista e, neste cenário, o olhar atento e cuidadoso da família e dos amigos próximos atende pelo nome de sentinela. Sentinela daquele que não encontra razão em sua existência. E, de modo geral, o vazio existencial leva à tentativas de grande periculosidade, incluindo o suicídio.
Em outro contexto, em países muito desenvolvidos, também temos uma alta taxa de mortalidade causada pelo suicídio. Lá, as explicações das causas soam estranhas, visto o fato de ser uma sociedade muito desenvolvida, com grande poder aquisitivo; a inexistência de dificuldades gera o vazio que reverbera pela mente em busca de mais, de aventuras diferentes, de outras propostas. Daí…Sempre o vazio existencial e a dor psíquica fazendo eco e impactando. Não tão simplesmente, mas em ordem inversa, acontece com a população de um país subdesenvolvido: a dificuldade suprema e a inexistência de algo promissor passa a ser motivo suficiente para atentar contra a existência. Mais uma vez o vazio existencial se faz presente e o final é o mesmo.
O que dizer do preenchimento deste vazio com propostas religiosas, recreativas e afetivas. O que dizer da possibilidade de iniciar um novo curso ou participar de um movimento sociocultural. Caso tenhamos um preenchimento sadio daquele vazio que corroía a alma, estaremos diante de alguém que fez uma boa escolha e se protegeu psiquicamente do caos operante. Entretanto, a ajuda de um profissional especializado pode modelar estas escolhas citadas e pode fortalecer ideias de vínculos mais fortes e sadios que, adotados, passam a ser uma amarra ao aqui e ao agora, pleno de atividades e propostas que impulsionam a vida em novas direções, com novos problemas a serem resolvidos, com novas propostas de desenvolvimento. Isto requer escuta, olhar e fala equilibrada e bem dirigida. O foco será primordial para assegurar sucesso na intervenção profissional.
Quantos não se sabotam apenas para sentir o prazer do insucesso e da perda! Mas preferimos não pensar nisso e partir para outra aventura em que somos o joguete de nós mesmos, nossos próprios inimigos. Somos os garotos e garotas interrompidos por nós mesmos, brincando com e contra nossos próprios sentimentos, numa batalha insana e destrutiva. Alguns olhares e alguns silêncios falam mais do que lágrimas e gritos pedindo socorro: são apenas outra forma de gritar contra a dor interna. Isto é suficiente para que partamos em direção de uma ajuda firme e bem dirigida; uma ajuda com formação adequada e pertinente para tal propósito: sem afetação e sem perda de tempo, porque nestes casos a hora é agora; aquele que grita por ajuda já o faz na sua 25ª hora. Já sofre em excesso.
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Nenhum de nós é forte demais ao ponto de nunca termos sentido este maldito vazio existencial, porém, por nossas resiliências, conseguimos superar o obstáculo e aquele momento passa a ser uma referência de um tempo de instabilidade emocional superada. Já, outros de nós não têm a mesma reserva de resiliência e não articulam com tanta facilidade; este é o momento e a pessoa certa a ser acolhida.
De qualquer modo, que o Setembro Amarelo seja apenas uma sinalização de um estado de vigília que devamos exercer durante todo o ano e por toda nossa Vida. Muitas outras Vidas podem estar dependendo de nós; basta-nos exercer a empatia e observarmos nosso entorno. O dom da descoberta está no dom da Vida: cada dia uma aventura que nos garante nosso poder de recriar, de renascer. Sejamos persistentes neste empenho e nessa sabedoria. (Foto: Infoescola)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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