… E as redes sociais? O caminho é só de ida, sem volta. Não tem como escapar delas. Na verdade, não nos desatamos porque não queremos. Até podemos. Livre arbítrio está aí. Ser “diferentona” dá um alívio, uma folga do compromisso autoimposto de postar, dizer, aparecer, comunicar, divulgar, opinar. Tenho amigos que se livraram das garras e olhares de lobo da sociedade virtual. Estão muito bem, obrigado. Outros sei que tentaram, mas não demoraram tanto e lá estavam novamente de volta, dando aquela satisfação básica (quem foi que perguntou mesmo?) sobre o fato de terem ficado ausentes, o que fizeram naquele ínterim e logo, então, vem uma opinião formada sobre o fato quente da semana. E como chovem opiniões prontas, frases de autores distintos tomadas para si, virtudes desvirtuadas, falas tiradas de um contexto, disseminadas e usadas para desfigurar pessoas – se pudéssemos ouvi-las, estariam com o dedo em riste e um sorriso no canto da boca. Mas como eu ia dizendo, não tem volta esse caminho e cada um faz dele o que bem entender. Confesso que me sinto um pouco incomodada, invadida, bisbilhotada e até sem assunto quando encontro uma pessoa (fisicamente falando) que não vejo há muito tempo e ela me diz sobre meus filhos, por onde andei, o curso que fiz, onde passei o Ano Novo. Obviamente, culpa minha e de quem me marcou em postagens que escancaram nosso álbum de fotografias – antes tão íntimo, restrito a visitas convidadas para estarem dentro de nossas casas – para centenas de colegas ou apenas conhecidos pelo mundo virtual afora. Sem contar o fato – e isto é fato, de fato – de que nossos passos são vistos, analisados, jogados em uma rede de dados que nos qualificam e buscam traduzir quem somos para nos oferecer (sutil ou deliberadamente) o que queremos ser.

Mas estamos nas redes, muitos mantidos financeiramente por meio dela. São meios de informação que vêm tornando jornais mais obsoletos a cada dia. Meios de formação de opinião. Meios de vender o peixe para comprar o pão. Não basta criar um site – é preciso ter uma página ativa no Facebook, Linkedin, competência, diferenciais. Aquela notícia absurda certamente está sendo debatida, vamos ler opiniões (mas saibamos discernir e tenhamos nossa capacidade de absorver e abstrair, por favor). Um acidente grave ou um aviso sobre o trânsito pode ser noticiado tão rapidamente quanto no rádio. Críticas sobre uma peça de teatro, um filme, como chegar à exposição, vende sal do Himalaia no mercado da esquina, vou pedir para entregarem aqueles legumes orgânicos, lavados e cortados aqui em casa, pergunta no grupo de mães do Face onde o leite ou a fralda estão mais baratos que rapidinho você descobre. Preço de material escolar. Banda que não conhecia. Vídeo polêmico tirado do ar. Campanha de ajuda a um amigo enfermo.

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Imensurável é o uso positivo das redes sociais. Na mesma proporção, os danos que podem causar. Por serem sociais, cabe a nós a responsabilidade sobre as redes, o que vale nossos minutos, o que deve escorrer pelo lodo das palavras maléficas e o que fica sobre a peneira. Decidir qual lobo alimentar está nas mãos que clicam e escrevem cada post. Antes de destilar ódios, agruras, informações sem checar, meias verdades, mentiras travestidas, vale parar e pensar por dois minutos. Levante, tome uma água. Dê um tempo para um cafezinho. Pesquise, minimamente. A opinião divergente é bem-vinda sempre e pode ser muito esclarecedora (especialmente em tempos de algoritmos que nos conectam aos “semelhantes”, simpáticos às mesmas ideias, reforçando nossas “verdades absolutas”). Abramos nossas mentes, infinitamente… Mas ofensas, não. Elas não informam, não esclarecem, não ajudam, não somam. Já a educação e o bom senso têm potencial transformador. O Brasil Político, ao não se cansar de desfilar absurdos sob nossas ventas, precisa de nossos olhos, palavras, debates. E não de inércia, opiniões vazias, disfarçados rabos no meio das pernas. As redes podem e precisam ajudar a elevar o nível da sociedade, como um verdadeiro caminho sem volta. (foto acima: www.psicologiaexplica.com.br)

TATIANA ROSATATIANA ROSA

Jornalista, com pós-graduação em Jornalismo Literário e especialização em Comunicação Empresarial. Aspirante a escritora e amante de música e poesia (escritos antigos podem ser lidos em http://meiaduziadepalavras.blogspot.com.br/). Proprietária na empresa Combat Rock – Produção de Conteúdo (http://combatrockjornalis.wixsite.com/comunica). E estudante de Psicologia.