BIÓLOGA de Jundiaí trabalhou para o Greenpeace e esteve na Antártica

bióloga

A bióloga e doutora em Relações Internacionais pela USP, Leandra Gonçalves, de 38 anos, nasceu em Jundiaí. Ela já morou em vários países e cidades do Brasil. Agora, por conta da pesquisa de pós-doutorado em Gestão Costeira e Marinha na Costa Brasileira, ela deixou São Paulo e voltou a morar em Jundiaí. Leandra é uma das poucas pessoas no planeta que pode dizer que esteve na Antártica. Ela também trabalhou para o Greenpeace. O Jundiaí Agora a entrevistou:

A senhora é casada? Tem filhos? Como é conciliar a vida de cientista e a família?

Sim. Sou casada e tenho um filho de cinco anos. Para conciliar vida de cientista e a vida pessoal existem desafios e oportunidades. Eu consigo cuidar da pesquisa e dar atenção para o que importante, a família.

A senhora deve ter morado em vários países…

Por conta do trabalho científico e outros, desenvolvidos junto às organizações não-governamentais, como SOS Mata Atlântica e Greenpeace, já morei em vários países e diversos lugares do Brasil. Com esta pandemia, sai de São Paulo e voltei para Jundiaí em busca de tranquilidade, estar mais perto da natureza e proporcionar mais qualidade de vida para mim e minha família.

Estudou em quais escolas de Jundiaí?

Estudei em Jundiaí até o final do ensino médio. Passei pela Divina Providência, Paulo Freire e Leonardo D’Avinci. Quando passei no vestibular, fui para a Puccamp, onde fiz Ciências Biológicas.

E depois?

Fiz mestrado na Universidade Federal de Juiz de Fora, em Biologia Animal. E fiz doutorado na USP em Relações Internacionais, quando estudei como as políticas públicas podem ser mais eficientes para as questões do meio ambiente.

Chegou a trabalhar aqui?

Não. Mas durante minha graduação fiz trabalho que me orgulho e aprendi muito no início da minha carreira cientifica. Foi uma pesquisa com professora Cláudia Ioshida, que hoje também mora em Jundiaí. Na época fazíamos várias pesquisas na Serra do Japi, lugar que gosto muito e precisa ser preservado. Era uma parceria com a Mata Ciliar e Polícia Ambiental. Fizemos estudo sobre os impactos dos incêndios florestais para a biodiversidade da Serra.

Qual a melhor lembrança que tem da Terra da Uva?

Olhar a Serra do Japi e ver a mata preservada. A reserva ambiental é uma das coisas mais importantes e traz qualidade de vida…

E a pior?

Durante minhas andanças, sempre que retorno a Jundiaí penso que o desenvolvimento da cidade poderia ter sido de uma forma que preservasse melhor o meio ambiente, que garantisse mais espaços verdes. Seria importante ter uma cidade mais aberta para os moradores, com mais ciclovias, com a Serra cada vez mais preservada. Jundiaí nos apresenta esta oportunidade que precisa ser cada vez mais aproveitada.

Jundiaí tem uma das últimas reservas de mata atlântica do país, a Serra do Japi. Por ser da cidade, não seria ‘mais lógico’ a senhora ser uma cientista ligada a esta área? Por que decidiu estudar os oceanos?

Nunca vi problema de ser jundiaiense, morar aqui e estudar as questões relacioandas ao litoral. É claro que o que mais faz falta, morando em Jundiaí, é a ausência do mar. Mas nunca foi um problema em termos de trabalho. Ainda mais nestes tempos de pandemia quando boa parte do nosso trabalho está sendo feito de forma virtual.

Qual a sua área de estudo hoje? Tem de mergulhar frequentemente?

Minha pesquisa de pós-doutorado é realizada no Instituto Oceanográfico da USP. Engloba duas regiões do litoral paulista: a baixada santista e o litoral norte. A pesquisa tem como objetivo discutir os arranjos, as políticas públicas, as normas que são voltadas à sustentabilidade do litoral. Para esta pesquisa conto muito com análises documentais, políticas normativas, construções de processos. Não tem muita área de campo. Trabalho mais com documentos e entrevistas com quem trabalha na gestão desta área litorânea. Mas esta parte está um pouco atrasada por causa da pandemia.

Aliás, como é seu trabalho nesta época de Covid?

O vírus trouxe muitos desafios para uma cientista como eu, assim como para toda a população. Estamos todos enfrentando muitas adversidades. Meu trabalho tem sido especialmente impactado pela redução do tempo já que tenho filho que ficou praticamente um ano sem ir à escola. Tive que conciliar minhas atividades profissionais com as maternas. Minha pesquisa foi adiada e prorrogada. Em decorrência das regras de distanciamento social não consegui fazer as entrevistas. Algumas foram feitas virtualmente. Mas algumas tinham outra metodologia de trabalho.

O que mais fascina a senhora nos oceanos?

É o fato de ele integrar. Na verdade, o planeta tem um único oceano dividido por questões geopolíticas. Mas ele integra os países, as sociedades, promove bem-estar. O mais incrível, é que mesmo estando em Jundiaí, distante do mar, consigo reconhecer e sentir a importância que o oceano tem no bem-estar da minha vida. O oceano, além de tudo que nos proporciona com o lazer e alimentos, também é responsável por fornecer uma a cada duas respiradas que damos. Ele contribui com a regulação do clima, purificação do ar. Mesmo quem está longe do mar, está perto dele. Ele é muito presente nas nossas vidas.

A senhora faz parte do Greenpeace. É a única jundiaiense do grupo no mundo todo?

Não faço mais parte. Trabalhei por seis anos coordenando campanha pela proteção do oceano e das baleias. Existem outros jundiaienses que trabalharam ou trabalham. Não fui nem mesmo a primeira. Hoje sou uma grande admiradora do trabalho da organização.

Já participou de ações do Greenpeace contra caça de baleias?

Em 2008, quando era coordenadora da campanha, tiver oportunidade de ir à região Antártica numa campanha contra a caça de baleias. Fui a única jundiaiense nesta expedição. Tinha a função de fazer pesquisa cientifica para demonstrar ao governo japonês que é possível estudá-las sem fazer matança. Naquele ano, o Japão defendia que era preciso caçar baleias para pesquisá-las.

Como foi a visita a Antártica?

Minha visita foi muito especial. Eram 37 pessoas de diferentes países e com o mesmo objetivo de proteger as baleias. A expedição terminou com 100 baleias salvas. Conseguimos demonstrar cientificamente que é possível fazer pesquisa de qualidade sem matar estes animais. A Antártica é um ambiente que deve ser preservado para ações pacíficas e científicas

Os mares estão morrendo? A Antártica está realmente derretendo?

O planeta enfrenta uma grave crise ambiental em todos os sentidos, nas florestas, mares, biodiversidade. Cientificamente dizemos que já ultrapassamos algumas das mais importantes fronteiras planetárias. Já utilizamos a biodiversidade além do limite. Já emitimos mais gás carbônico do que deveríamos. Já poluímos os mares e rios além do que podíamos. Isto ocasiona problemas não só para o meio ambiente como para a sociedade. Nós somos interdependentes do meio ambiente. Fazemos parte e dependemos dele. Estas questões trazem as mudanças climáticas, que elevam o nível do mar, derretimentos de geleiras. Até 2048, muitos peixes estarão extintos, segundo pesquisas.

Há solução para estes problemas ou já é tarde?

Há. Uma delas é a sociedade ser mais ativa nas questões do meio ambiente. Como fazer isto? Votando e elegendo políticos em todas esferas que considerem o meio ambiente e ouçam a ciência para tomadas de decisões. Estes representantes precisam entender que o meio ambiente e desenvolvimento podem andar juntos sem que um seja problema para o outro. Não existe desenvolvimento sem meio ambiente. Precisamos pensar muito na hora do voto. A sociedade também pode cobrar os governantes posturas mais adequadas para as questões ambientais. Hoje estamos vivendo um momento de negação da ciência e destruição ambiental. A sociedade precisa tomar consciência e ser parte da solução desta crise. Um exemplo local é o decreto estadual dando servidão administrativa para o Departamento de Água e Esgoto no terreno onde hoje está a Mata Ciliar. Trata-se de uma obra de grandes proporções e que impacta no trabalho importante de uma entidade que há mais de 25 anos atua na cidade. Precisamos olhar para as escalas planetárias. Mas também precisamos olhar para os poderes municipais e fazê-los a pensar o meio ambiente de forma diferente, preservando as regiões de mata atlântica. A Mata Ciliar é uma joia, uma peça importante na preservação da Serra do Japi.

O que é a Liga das Mulheres pelo Oceano?

É um movimento que crie junto com duas amigas – uma fotógrafa e uma jornalista – há dois anos, no Dia Internacional das Mulheres. A ideia é jogar luz para o trabalho das mulheres que trabalham na conservação dos mares, mostrar a importância do trabalho delas na preservação. Não só o trabalho de cientistas. Mas de fotógrafas, jornalistas, ambientalistas, documentaristas, atletas, mergulhadoras, na proteção marinha. A ideia é se unir e se fortalecer para exigir postura mais adequadas para o mar.

Qual o recado que a senhora manda para as mulheres já que estamos no mês de vocês?

Todo dia é dia de a mulher buscar seu espaço, fazer o que quer, fazer o que gosta. É necessário que haja espaço para as mulheres na ciência, no esporte, no jornalismo, nas artes, literatura. A mulher precisa estar onde ela quer estar. Não existe a possibilidade de nos colocar onde queiram nos colocar. Temos direito ao nosso espaço. Hoje, existe uma conscientização sobre como lidamos com o meio ambiente e a sustentabilidade e não haverá transformação se ação não for inclusiva com todos os gêneros e raças. É preciso olhar para o meio ambiente de forma mais justa, tratando de desigualdades, questões sociais, justiça, questões raciais e de gênero, promovendo maior inclusão das mulheres nas áreas ambientais.

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