PAPÉIS VELHOS: Vivemos a ditadura da velocidade…

papéis velhos

Cartas e cartões-postais não circulam mais, são hábitos do passado. Estamos perdendo a possibilidade de, um dia, aflorar lembranças que nos farão felizes. O número de adeptos que os guarda diminuiu porque são considerados papéis velhos e só pessoas antigas conservam esse hábito; as novas descartam tudo ou guardam na “nuvem”, fazendo um backup para os recuperarem, quando quiserem, é a modernidade.

Hoje, a comunicação é digital, virtual, rápida e precisa. O mundo está acelerado, há pouco tempo para tudo que precisamos realizar, é a tacocracia(ditadura da velocidade).

Há alguns anos, recebi a visita de uma jornalista. Ela queria fazer uma reportagem sobre “Quem ainda escreve cartas?”. Ficou surpresa com a quantidade que lhe mostrei, vindas de grandes amigos, cuja maioria já se encontra no Parnaso Eterno. E aí está o valor desses papéis velhos: recordar os amigos que partiram e reler as palavras de carinho que nos escreveram.
Ler mensagens antigas faz bem a nossa saúde emocional. É grato saber que, em determinado momento, alguém se lembrou de nós e dedicou alguns minutos de seu tempo para nos enviar frases de amizade.

Tolo saudosismo? Pode ser. Atitudes ultrapassadas? Pode ser também. Mas esse foi o caminho usado por Machado de Assis para escrever o conto “Papéis Velhos”. Para quem quiser recordar, eis alguns excertos, quando ele se refere ao personagem Brotero: “Ele ia reler aqueles papéis velhos. Não se releem livros antigos? Abriu a gaveta; tirou dois ou três maços e desatou-os. Muitas das cartas já estavam encardidas pelo tempo. E ele começou a relê-las, uma a uma…certa carta que estava assinada Vasconcelos fê-lo estremecer: AL… agarrou-te deveras?. Esse simples trecho trouxe-lhe uma penca de lembranças. Brotero lia, ali, um capítulo inteiro de sua vida…pegou a carta e chegou-a à vela; mas recuou a tempo. Não! Disse ele consigo, juntemo-la aos outros papéis velhos”.

Para quem escreve, qualquer lembrança pode tornar-se um texto literário. Quantos escritores fizeram anotações que se tornaram papéis velhos valiosos? Muitos são usados como ilustrações em obras importantes, nos remetendo ao momento único de sua criação.

Nesse grupo de lembranças, entram os antigos retratos, hoje só fotos digitais, selfies e alguns guardados na “nuvem”. Álbuns e fotos palpáveis, manuseáveis estão se tornando coisas de museus. Até as gravações em CDs estão obsoletas; o pendrive, que era o mais prático, já perdeu o topo.

A mudança de hábitos está acelerada, a pandemia está ajudando, e muito! Nessa avalanche de mudanças, bons hábitos também vão sendo relegados! Tudo é virtual, pais e avós precisam se desapegar e se atualizar, dizem os jovens!

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Também, nessa onda de modernização, estão as casas de repouso, onde não há lugar para papéis velhos, livros ou fotos. Os pequenos armários com gavetas são para algumas roupas. A família faz uma limpeza e o idoso leva só o que lhe for útil. As lembranças que estão em seus retalhinhos, pedacinhos de vida, não têm utilidade alguma.

E, como disse Cora Coralina: “Penso que é assim que a vida se faz, de retalhos de outras gentes, que vão se tornando parte da gente também”. Retalhos que vamos guardando como relíquias simbólicas que nos fazem tanto bem! Como diziam os antigos: recordar é viver!

JÚLIA FERNANDES HEIMANN

É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence à Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.

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