No dia 30 de março deste ano, o poeta e escritor Thiago de Mello completou 95 anos! Os meios de comunicação deveriam ter noticiado, pois uma longevidade sadia não é fácil de acontecer.
Desde 1978, o poeta reside no mesmo lugar onde nasceu, Barreirinha, às margens do rio Andirá, Amazonas, “rio que não é mar porque não quer”, segundo ele.
O poeta afastou-se da zona urbana desde 1978, quando voltou do exílio no Chile. Afastou-se para encontrar a paz diz ele, e complementa:
– Aqui eu ainda escrevo, estudo e aprendo a cada dia com as águas, as estrelas, o vento, os pássaros e os caboclos, meus irmãos”. Estará aí a receita para uma longevidade sadia?
Em sua casa, feita de madeira, o poeta vive tranquilo e, quando solicitado, fala dos tempos difíceis que passou durante o regime militar.
Em 1964, servia ao Itamaraty como Adido Cultural no Chile. Ao saber do ocorrido no Brasil, escreveu o famoso poema “Os Estatutos do Homem” que se tornou hino a serviço da liberdade. Foi afastado da função de Adido Cultural e voltou ao Brasil.
Ele diz:
-Logo fui preso e jogado numa cela fedida e escura.
Mas o poema “Os Estatutos do Homem” já estava na boca dos estudantes e do povo em geral. Com 12 artigos, o poema começa assim:
Artigo I: Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que, de mãos dadas trabalharemos todos pela vida verdadeira.
…
Artigo XII: Decreta-se que nada será obrigado nem proibido. Inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma begônia na lapela.
Parágrafo único: só uma coisa fica proibida: amar sem amor”.
Na parede da cela onde o prenderam estavam escritos versos do seu poema “Faz escuro mas eu canto”:
“Faz escuro mas eu canto/porque a manhã vai chegar…vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar/ Vamos juntos, multidão, trabalhar pela alegria/amanhã é um novo dia!”. Quando leu, ficou contente em saber que o prisioneiro que o antecedera havia buscado força em seus versos!
Mesmo depois de libertado, continuava perseguido porque suas ideias já tinham se alastrado. Retornou ao Chile como exilado político. Fez grande amizade com Pablo Neruda e conseguiu emprego. Quando Augusto Pinochet tomou o poder, foi preso novamente e torturado. Alguns meses depois, foi extraditado para a Argentina.
Em 1978, retornou ao Brasil e foi morar em Barreirinha. Mesmo distante da cidade, continuou com a literatura e, em 1998, ganhou o Prêmio Jabuti com a obra “De uma vez por todas”. Repetiu o feito em 2000 com “Campo dos Milagres”. No México, em sua homenagem, foi publicada a antologia “Aún Es Tiempo” com todos os seus poemas. Ficou muito grato aos amigos mexicanos!
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A riqueza de caráter do poeta está retratada neste poema que escreveu – quando estava exilado no Chile-para um garoto seu amigo: “Meu companheiro menino/perante o azul do teu dia/trago sagradas primícias/de um reino que vai se erguer/de claridão e alegria. Vamos remando, Leonardo/porque é preciso chegar/teu remo ferindo a noite/vai construindo a manhã…leva contigo a infância/como uma rosa de flama/ardendo no coração/porque é da infância Leonardo/que o mundo tem precisão.”
Despojado de vaidades, ainda com o pensamento sóbrio em sua longevidade sadia, o poeta se distrai com a natureza e com os amigos caboclos que o mimam com carinhos e atenções.
Que ser humano superior é Thiago de Mello!
“Vamos remando Leonardo/porque é preciso chegar!”
JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence à Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
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