Saindo das análises mais superficiais e dos diálogos fáceis sobre à vida, vamos em direção a questões norteadoras (ou desnorteadoras) de novos campos de atuação ou estudos. Assim, é necessário que tenhamos claro que as transformações tecnológicas atuais tiveram seu início centrado na eletricidade e no amplo processo de alteração da percepção e uso dos nossos sentidos, que desde o inicio incentiva – acredita – amedronta-se – busca à relação homem-máquina.

Com o crescente empenho de pesquisadores, estabelecemos um campo denominado psicotecnologia, que passa a ser uma categoria para pensarmos o real significado das intervenções e interações tecnológicas e a interferência midiática nas áreas de conhecimento, que nos permite analisar as transformações culturais da nossa época, diante da expansão das novas formas de culturas midiáticas e das criações e alterações tecnossensoriais nascidas com a eletricidade.

A cibercultura remete-nos a refletir sobre as atitudes sociais de apropriação criativa das novas tecnologias; e os exemplos são claros, quando nos vemos diante da febre dos jogos eletrônicos, as redes sociais, as reuniões e interações por videoconferências, o erotismo descomunal do cibersexo, a fugacidade das manchetes jornalísticas e os contatos intercontinentais em tempo real. Assim, fica difícil não perceber que a tecnologia torna-se uma ferramenta de conquista do mundo e de uma nova formação sócio-cultural; é uma tendência revolucionária na vida cotidiana. Esse é o Mundo de HOJE.

Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder

Neste sentido, resta-nos propor que está estabelecido um roteiro interdisciplinar para que novos caminhos investigativos sejam percorridos. E neste novo trajeto, como é de se supor, a análise interdisciplinar pressupõe significados e interpretações que tocam inevitavelmente todas as áreas e setores do conhecimento e do social. Parece ser assim que segue o desenvolvimento humano e tecnológico do novo tempo.

É entendido que uma aproximação saudável, não patológica, possa ser aceita e incentivada. É viável a integração com dispositivos tecnológicos usuais ou é possível a utilização de aprimoradas tecnologias em nosso corpo, de modo a garantir melhor qualidade de vida e aproveitamento das capacitações humanas. Mas, também se faz viável o desenvolvimento de uma tecnopsicologia: nossa realidade psicológica depende de nosso contexto, do qual fazem parte as extensões tecnológicas que nos afetam. O entendimento deste ambiente, com seus micro, meso e macro sistemas favorecerão nossa integração e associação ao mundo, de modo a garantir a tão propagada qualidade de vida.

Na mesma linha de pensamento temos que a relação homem-máquina deva ser entendida de maneira não invasiva: quando assisto a um programa de televisão, ouço uma notícia ou interajo por meio de alguma das novas mídias, estou à procura de que? Sou apenas alguém procurando me atualizar e entender meu mundo ou estou permitindo que me conduzam por caminhos e atalhos exteriores às minhas convicções? Estou sempre partilhando assertivamente das escolhas ou estou sendo levado à causas conflitantes em minha liberdade de escolha?

Então me abraça forte
Me diz mais uma vez que já estamos
Distantes de tudo

A internet apresenta algumas particularidades que a diferem de outros meios de comunicação, o que facilita a atração de mais adeptos à possibilidade de comunicação fugaz e sem compromisso, e nesse conjunto de situações a questão que não se cala: como se estabelecerá a sexualidade e o erotismo? De qual corpo o ciberespaço está cuidando? Os atletas que se apresentam, em propagandas da nova mídia percebem que expressam a imagem de um corpo sensualizado?

De uma maneira geral, podemos dizer que a pele ocupa o lugar de uma roupa, tantas são as inovações e marcas que percebemos nos corpos esculpidos. As diferentes formas de se modificar e se marcar fazem com que os corpos humanos estejam em constante transformação e manipulação: as marcas com fogo, as penetrações (do piercing às tatoos), as escarificações e implantes metamorfoseiam o corpo em pergaminho ou objeto de arte.

Numa reflexão mais apurada podemos garantir que nunca se discutiu e analisou tanto o corpo humano, como nesses tempos. Também, podemos dizer que não seria sem razão, visto os inúmeros acontecimentos que nos levam a uma total dessensibilização frente ao suporte comunicacional que dispomos e pouco nos atentamos. São poucos os momentos em que estamos plugados nas evoluções e demonstrações corporais, de modo a valorizar apenas superficialmente o sacrário de nossa vida.

O que trazemos de atual na situação é que a modelagem corporal se faz por meio de dietas, cirurgias plásticas e musculação, no entanto, o que temos de conservador é a tendência de modificação, mostrando o homem recriando o corpo, tornando-o um modelo comunicacional artístico, de modo a expressar um estilo de vida contemporâneo. Isso é uma característica atemporal, em que até a sexualidade é aparente nas postagens e mensagem visuais e ideográficas, sempre usando o ciberespaço para divulgar a ideia e mostrar o produto, porque o corpo se coisificou.

Os corpos modificados, sejam intencionais ou não, por modismo, por cirurgias, por deformações acidentais, voluntária ou involuntariamente, estão presentes em nossos contextos urbanos e em nossos contextos distantes da modernidade. Estas modificações atendem aos parâmetros esportivos, delgados, afinados e assexuados, cada vez mais atraentes. Isso é um fato a ser analisado pela Antropologia, numa busca do elo perdido que apontará porque tal fenômeno é atemporal, fascinante e enigmático, sem atentar para o personagem que habita aquele corpo.

Numa outra instância temos a valorização excessiva do corpo atlético, quando observamos as propagandas de produtos entregues ao consumismo, sejam estes quais forem: do cigarro aos carros, do celular aos óculos de sol, da maquiagem ao sapato, enfim… tudo onde possa existir um corpo como suporte. Um suporte vigoroso, delicioso, esculpido e glamoroso. Percebe-se que não serve qualquer corpo: existe um perfil definido do corpo que será o estimulador da venda, de modo tal que…se eu usar este produto terei um corpo como este…se eu tenho um corpo como este, devo usar este produto…. Desta forma, os atletas são recrutados à uma excessiva exposição corporal, quase sexualizada e erotizada, mas que está a serviço de uma marca, de um produto a ser consumido.

O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido

O ser humano de nosso tempo, na pós-modernidade, é alguém sedento da necessidade de ser desejado. Para tanto, o conceito de comunidade vem se ampliando e sendo aplicado, mais e mais, de modo a termos uma busca pela unicidade do feito, da transformação: os tatuados, os escarificados, os marcados, os atropelados, os implantados, os siliconados, os bombados, os franguinhos. Esta identidade intencional ou espontânea resolve o fugaz problema da temporalidade: comunica qual arte cada um deste manifesta em seu corpo. A sexualidade se aflora para apontar algo mais intenso, mais interno: o desejo.

E quem não se enquadra num ou noutro ou nem naquele outro grupo? O que fazer deste? Bem, os grupos (ou será cibergrupo?) são críticos ao máximo e se comunicam com uma enorme velocidade, de modo que os “sem ajuste” num ou noutro espaço ficam às margens dos sistemas vigentes. Vivemos um período de sociedades cruéis, com hábitos mais cruéis ainda. Podemos notar que o sofrimento humano, no século XXI, é sempre potencializado para valores irreais, de modo a causar dores sem fim.

Isso acarreta, portanto, um afastamento que é seguido do isolamento e desligamento da sociedade de base. Sinceramente, nem professores e nem famílias sabem como lidar com a situação. As cobranças aumentam, a queda de rendimento escolar ou funcional ficam evidentes, o ciberbullying toma corpo e passamos a ter uma pessoas comprometida, necessitando de ajuda.

Então, o aconselhamento psicológico é uma das possibilidades de intervenção, em que o fornecimento de informações, os conselhos, as sugestões, os elogios acontecem de maneira direta, dinâmica e operacional. Tem uma orientação não-diretiva, mesclando conceitos de aconselhamento com o de psicoterapia. Trata-se de levar a pessoa a obter um nível de ajustamento, com características especificas, num momento/evento de crise.

Nesta relação entre dois participantes, um deles tem como responsabilidade ajudar o outro; ambos estão interessados em tentar solucionar as dificuldades apresentadas pelo cliente. Entende-se que o aconselhamento aponta para uma intervenção mais amena, mais rápida e pontual. Já a terapia seria o contato mais duradouro, intensivo, focado numa reorganização mais profunda.

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Óbvio está que em ambos haverá a tomada de decisão, no entanto o aconselhamento tem por princípio remover obstáculos mais emergentes e garantir uma estabilidade emocional para o momento. Trabalhar detalhes desta remoção é coisa para terapia, com mais tempo de duração e aplicação de técnicas específicas. Outros enquadramentos, outras perspectivas. Mas levamos o colega de corpo diferente para uma reflexão? Ou fazemos dele uma piada a ser “curtida” por todos? Notamos que os corpos se diferem e valorizamos isso ou apenas salientamos aquele que mais se sobressai?

O que vale é saber o momento de procurar ajuda. O que vale é saber onde procurar ajuda efetiva. O que vale é acreditar que vale a pena continuar.(Ilustração: www.alainet.org)

Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
Somos tão jovens
Tão jovens
Tão jovens


Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.


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